Capítulo 18 (Final) - Uma última vez

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José

         Chegava a ser engraçada de tão absurda que era aquela situação. Na verdade, não sei o que eu estava esperando que acontecesse. A Beatriz descobrindo ou não no flagra, não mudaria nada. Ela sofreria e nos odiaria da mesma forma.

         Após os ocorridos da praia, fui até o apartamento de Miguel e Nicolas, meu irmão atendeu a porta.

         - Imaginei que fosse vir – disse ele. – Miguel tá no quarto, ficou tentando contato com você a noite toda.

         - Acabou minha bateria. Posso falar com você primeiro?

         - Claro, vem comigo – Nicolas me guiou até seu quarto, busquei fazer o maior silêncio possível, não queria que Miguel notasse que eu estava lá.

         O ambiente era escuro, diferente do de Miguel. Uma parede era preta e todas as roupas possuíam uma paleta de cores escuras, mas o cheiro do lugar me lembrava algo doce, tudo bastante contraditório. Ele apontou para uma poltrona e pediu que me sentasse, e assim o fiz.

         - Eu tenho um favor pra te pedir – disse a ele, que me olhou com olhos de quem fica curioso pra saber o que será dito. Hesitei na minha decisão por um instante. – Quero que converse com Miguel, faça com que ele fique com raiva de mim.

         - O que? Como assim? – perguntou Nicolas alto demais.

         - Shhhh! – cobri sua boca com minha mão. – Só faça ele ficar com raiva de mim, que não queira me procurar. É bem simples.

         - Mas por que? Você causa uma bagunça desse tamanho e depois quer fugir? Enlouqueceu é?

         - Ela não precisa odiar nós dois, Nicolas. Miguel é irmão dela, Beatriz precisa dele. É injusto simplesmente ficarmos juntos depois de tudo o que aconteceu, seria mais fácil se ele atribuísse toda a culpa em mim. Vou tentar falar com ela quando amanhecer também, quando for pegar minhas coisas. Não quero que se odeiem, será mais fácil se os dois tiverem a quem dedicar a frustração e o ódio.

         Nicolas se levantou de onde estava e se sentou no braço da poltrona que eu estava, colocando sua mão na minha cabeça como se eu fosse um cachorrinho.

         - Você é tão bobinho – disse ele com um sorrisinho tolo na cara.

         - Bobinho? Sério?

         - É. Como não sabe que eles nunca seriam capazes de te odiar? Nenhum dos dois tem essa capacidade. Você só tá perdendo seu tempo.

         - Discordo, eu acredito que eles são as únicas pessoas capazes de me odiarem no mundo. Só odiamos veemente alguém que nos magoou, que nos machucou de alguma forma. E odiamos ainda mais quando a amávamos.

         - Se tá dizendo..., eu não concordo.

         - Não precisa concordar, só me promete que vai convencê-lo.

         - Olha, eu prometo que vou tentar uma vez, mas o Miguel é teimoso. Não vai ceder – eu sabia que o que ele dizia era verdade, mas tinha uma pequena esperança de que ele pensasse na irmã dessa vez.

         - Tudo bem, obrigado – me levantei, mas Nicolas segurou meu pulso.

         - Você não vai falar com ele?

         - E por que? Pra tornar tudo ainda mais difícil?

         - Não, pra se despedir. Sei que está indo pra longe dessa vez.

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