Capítulo 8 - Minha vida se refazia

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Miguel

    Não conseguia digerir a minha conclusão de que eu estava apaixonado por José. Eu não podia gostar dele daquela maneira, nem eu e nem Bia merecíamos aquilo. Eu não queria passar pelo o que eu provavelmente passaria se o meu sentimento fosse descoberto, não queria mesmo.

    O problema era que desde que entrei no carro, só conseguia pensar em como eu queria beijá-lo. Até quando ele me perguntou sobre o que havia acontecido no Rio de Janeiro eu não conseguia falar e não era por falta de confiança, mas porque sua voz só provocava ainda mais a minha imaginação. Ele claramente se importava comigo, e isso me deixava extremamente confuso.

    Fiquei tentando me concentrar na dor daqueles sprays que Bia espirrava nas minhas feridas, mas José estava tão absurdamente bonito naquela camisa com o primeiro e segundo botões arrebentados que eu pensei que enlouqueceria. Eu queria MUITO parar de olhar, mas não conseguia.

    Ele insistiu que eu ficasse na cama do escritório e pegou um colchão de ar para dormir na sala, fiquei incomodado por tirá-lo do seu conforto. Aquela tal de Mariana que devia ter se tocado né? Eu jamais tiraria os anfitriões de suas próprias camas. Por que será que ele que ficou no escritório e não ela? Bia não hesitou em me mandar pro escritório quando eu a havia visitado, mas Mariana ficava no quarto com ela? Eram nesses momentos que eu via como minha irmã me "amava".

    O apartamento estava silencioso durante a madrugada, não conseguia dormir profundamente porque minhas costas não permitiam. Minha boca estava seca, então resolvi levantar para beber um copo de água, que Bia foi muito gentil em deixar uma jarra em cima da mesa do próprio escritório.

    Meus pés já estavam mais firmes no chão e minhas pernas já conseguiam me sustentar um pouco melhor, mas mesmo assim fui me apoiando na parede. Após beber a água, vi pela fresta da porta que havia alguém na varanda, pois estava aberta. Movido por curiosidade e vontade de conversar com alguém, fui até lá.

    Me surpreendi ao ver José fumando com o corpo virado na direção do mar, eu o fotografaria se tivesse uma câmera em mãos naquele momento, foi por isso que fiquei em silêncio para admirá-lo por alguns segundos antes de manifestar a minha presença. Eu o desenharia em algum momento, com certeza o faria.

    Depois da porta emperrada me denunciar, conversamos um pouco e aproveitei a oportunidade para agradecê-lo por tudo o que vinha fazendo por mim nas últimas semanas. Eu sabia que estava apaixonado por ele e que eu deveria voltar pra cama o quanto antes, mas aquele lugar, aquele horário e aquela companhia não me permitiam mover nem um passo de distância.

    Meu corpo ainda doía, fiz um movimento com os ombros para melhorar minhas costas e pude ver de relance que José tinha lágrimas em seu rosto.

    - O que foi? Por que tá chorando?

    Segurei seus braços e o obriguei a olhar pra mim. Sua expressão estava séria e ele me encarava nos olhos, aquela proximidade toda era extremamente tentadora. Nas últimas horas eu havia cogitado umas mil maneiras diferentes de como eu o beijaria se pudesse e de repente ele estava ali, a uns quinze centímetros de mim.

    Por um segundo ele soltou um ar pelos seus lábios, que ficaram entreabertos, aquilo foi demais para mim. Não pude me controlar, sempre fui muito impulsivo com minhas tentações e, não sei se infelizmente, mas José era a maior delas.

    Era uma noite com poucas estrelas no céu, mas com uma bela Lua. Estávamos na varanda e eram quase quatro horas da madrugada, qual era a chance de eu não ceder ao clima? O mundo conspirava com os meus pensamentos.

    Eu segurei o seu rosto, que estava estranhamente quente e o puxei para mim. Estava esperando que ele me empurrasse, dissesse que eu estava louco e que eu jamais deveria fazer aquilo novamente. Mas não foi o que aconteceu.

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