Soluço encontra o que fazer

104 17 10
                                    

   Desde então, uma rotina começou a ser formada.

Soluço, Banguela e Lambe-Olho – e ocasionalmente Morde-Cauda – acordavam cedo de manhã, quando o sol só estava há alguns centímetros acima do horizonte, então desciam para a praia para tomar o café da manhã e para a fonte para tomar água, e o resto do dia era usado para explorar a ilha.

Os dragões ainda mantinham sua distância, com exceção do grupo de amigos de Lambe-Olho, que se acostumou a seguir o humano e o dragão negro, fazendo perguntas sobre outros como Soluço ou só incomodando o garoto.

Mas em geral, Soluço estava gostando da sua estadia na ilha. Uma estadia sem limites para terminar... O garoto ainda se perguntava se iria voltar para Berk de vez em quando. Mas aos poucos ele se encontrou esquecendo da ilha dos Hooligans, quase como se ela nunca tivesse existido. Ele não sabia se gostava ou não daquilo.

Mas não era como se ele tivesse muito tempo para pensar em Berk, passeando pela ilha, conhecendo novas áreas com Banguela e Lambe-Olho, fazendo novas amizades com os Terrores Terríveis que os acompanhavam e até com alguns outros tipos de dragões.

Soluço não conseguia parar de pensar no modo como um Gronkle um dia parou ao seu lado e fez um movimento curto com a cabeça, bufando alto. A energia que ele transmitia era uma de amizade, como um vizinho simplesmente dizendo "bom dia" para outro.

Mas se tinha um dragão que ainda não queria dar uma chance para o garoto, era Fogo Gelado. Ele raramente via a Fúria da Noite. Ela saía de manhã, antes de Soluço acordar, e voltava tarde, quando o garoto já estava dormindo. De vez em quando ele chegava a vê-la e lhe oferecia um sorriso e um aceno, mas Fogo Gelado simplesmente sibilava, erguendo suas paredes mentais. Soluço manteve distância.

Soluço podia não saber como era a relação entre Banguela e sua irmã antes dele chegar à ilha, mas agora os Fúrias da Noite nem sequer chegavam a interagir. Soluço não conseguia deixar de se sentir mal por causa disso.

Falando em Banguela...

O dragão continuava o mesmo de sempre para com Soluço, o que alegrava o garoto. Ele até se esquecia de como o porque dele estar naquela ilha e poder se comunicar com dragões tinha sido uma mordida de "acasalamento" do Fúria da Noite.

Ele não sabia se Banguela ainda gostava dele mais do que como um amigo – talvez sim, talvez não – mas o dragão parecia estar feliz sendo só seu amigo.

Nada mudou, os dois ainda voavam juntos e se divertiam como faziam antes. Banguela ainda o envolvia com a asa de forma protetora e rolava os olhos de modo surpreendentemente humano quando o garoto fazia alguma coisa que ele achava boba.

Soluço estava feliz, muito mais feliz do que ele esperava estar. E ele tinha quase certeza de que nunca tinha se sentido daquele jeito antes.

-o-

Soluço se inclinou contra o lado quente e forte de Banguela. O dia tinha começado calmo e o garoto estava satisfeito, alegre até. Mais dragões pareceram reagir positivamente a ele naquela manhã, ou pelo menos não foram nada hostis. Não havia muita distinção para o rapaz, pra falar a verdade.

Eles tinham acabado de comer o café da manhã e se sentaram à beira do mar, sob a luz do sol que ainda estava perto do horizonte.

Lambe-Olho guinchou, empoleirado nas costas de Banguela e Soluço se virou para o lado, vendo um novo Terror Terrível, esse verde como musgo, se aproximando.

"Ah, oi... Amiguinho." Soluço sorriu para o recém-chegado.

O dragãozinho parecia desconfortável, ou só desconfiado mesmo. Ele se aproximou devagar, examinando o humano com os olhos grandes e amarelos. O Terror parou por um momento, seus olhos descendo para o Fúria da Noite, se focando em sua cauda. Ele guinchou baixinho e Soluço esperou ouvir alguma coisa, mas nada veio até ele.

Como Treinar o Seu Dragão - To the SkyWhere stories live. Discover now