O presente do Fúria da Noite

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Nada tinha mudado.

Huh... Soluço não sabia bem se ele estava esperando algum tipo de mudança, honestamente.

Talvez a maior mudança tivesse sido sua percepção. Ele gostava de ver Banguela sem as cordas que Soluço tinha feito para envolver seu corpo (embora a sela ainda estivesse ali), ele ficava bem mais parecido com Fogo Gelado desse jeito. E Soluço não conseguia deixar de observar e estudar o dragão como ele tinha feito no que já parecia ser anos atrás...

Ainda assim era um tanto estranho, mas Soluço sabia que era por que ele tinha se acostumado a ver Banguela com todos os mecanismos de voo. E talvez Banguela pensasse a mesma coisa.

Banguela reclamou quando tudo foi removido, mas tudo o que Soluço fez foi revirar os olhos e dizer que eles não precisavam mais daquilo, então por que ter por perto?

De qualquer jeito, a sela ainda estava lá.

Também a pedidos do Fúria da Noite, Soluço deixou aquelas peças no canto do quarto onde ele também deixava a sela – embora ele preferisse guardar no baú para não tomar espaço, mas, de qualquer jeito, não era um problema. E ele ainda teve de prometer para Banguela que não desmantelaria aquelas peças nem as reutilizaria para em outras criações. Pelo jeito Banguela tinha se apegado a elas...

A nova cauda e a falta dos mecanismos não foram ignoradas pelos outros dragões.

Banguela teve até de rosnar e sibilar para os mais curiosos que se aproximavam demais de seu espaço pessoal para cheirar a barbatana nova. Tais dragões, assim como tinham feito após verem a asa de Cinzento, deram seus elogios para o trabalho do humano, o que Soluço admitia que gostava; mas não era como se Banguela estivesse mostrando a cauda para todo mundo, como o Fumaça Fumegante tinha feito, todo orgulhoso e contente de ter uma asa novamente. Banguela agia como se nada tivesse mudado, como se aquela fosse a mesma barbatana que ele sempre tivera desde o encontro com o jovem viking.

E, por algum motivo, Soluço se sentia um pouco desapontado com isso...

Mas ele empurrou aquele sentimento para longe. Afinal, o que ele pensava ou sentia não era importante! O importante era que Banguela podia voar sozinho agora, como qualquer outro dragão! E isso era o bastante para Soluço!

Embora Banguela tivesse hesitado em aceitar a cauda nova a princípio, ele continuou a usando sem reclamar, o que fazia Soluço feliz.

"Você fez uma barbatana nova para ele, Morde-Cauda me contou." Fogo Gelado ronronou baixo um dia, se juntando à Soluço, que estava rabiscando num casco de árvore com um pedaço de carvão.

"Hã? Ah, é, fiz sim. Acho que é um dos meus melhores trabalhos, hehe..." Soluço admitiu, tentando soar mais humilde do que ele se sentia. Ele não desviou os olhos das anotações que estava fazendo sobre os Machadões que ele podia ver entre as árvores.

"Mas ele ainda voa com você." A energia escura de Fogo Gelado tocou a de Soluço de um modo estranho, o envolvendo, como se ela estivesse tentando penetrar as paredes que o garoto tinha aprendido a erguer bem. Por que ela faria algo assim, ele não tinha certeza, mas...

Soluço parou de rabiscar.

Ele desviou os olhos para a forma escura deitada na relva verde não muito longe de onde eles estavam, dormindo profundamente sob o sol quente.

É claro que ele tinha notado aquilo.

Até ali ele não tinha visto Banguela voar sozinho uma vez sequer. Soluço tentou dizer para si mesmo que o Fúria da Noite devia voar sozinho de vez em quando, possivelmente quando ele estava dormindo ou nas horas em que estava ocupado e não podia dar atenção para o dragão!

Como Treinar o Seu Dragão - To the SkyWhere stories live. Discover now