Parte da Família

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   Soluço acordou sentindo um tremor passando por seu corpo e ele demorou um tempo para processar que era Banguela quem vibrava em baixo dele, rosnando baixinho.

"Hm... O que foi, Banguela...?" Soluço perguntou, sendo interrompido por um bocejo.

Banguela se voltou para o rapaz, o rosnado mudando para um suave arrulho. Soluço sorriu, afagando sua cabeça. Com a vibração do ronronar do dragão, o garoto foi aos poucos se tornando mais ciente do que acontecia ao seu redor.

"Soluço!" A energia de Lambe-Olho tocou sua mente antes que o pequeno Terror Terrível o alcançasse, pulando como um coelho. "Escama da Noite e eu estávamos tentando impedir os outros de entrar!"

O garoto não sabia se ria ou grunhia com aquelas palavras. Uma vez totalmente acordado, Soluço conseguiu sentir a energia de vários outros dragões, se escondendo na entrada escurecida da caverna. Não era a primeira vez que ele acordava com visitantes e ele sabia que não seria a última.

Soluço passou os dedos pelos cabelos ruivos e desarrumados, desviando os olhos para a parede da caverna bem atrás de Banguela. Havia marcas na pedra, feitas pelas garras afiadas do Fúria da Noite, e Soluço sorriu ao contá-las mais uma vez.

Soluço se esticou e bocejou abertamente, sendo imitado por Banguela. Sua mãe o mandaria cobrir a boca ao bocejar daquele modo, mas ele já tinha perdido o habito de fazer tal coisa.

"É... É hora de trabalhar, não é, amigão?"

Banguela soltou um arrulho, assentindo como um humano faria. Soluço sorriu, se inclinando contra o corpo grande do dragão para se levantar e caminhando em direção aos demais dragões, sentindo as várias energias vibrando com animação.

Havia quatorze riscos na pedra, cada um marcando um dia que havia passado.

Soluço já estava naquela ilha há duas semanas. As coisas haviam se tornado mais fáceis com o passar do tempo e os dragões haviam se tornado mais amigáveis, pelo menos a maioria deles. Primeiro era pura curiosidade que os atraía até o humano, mas logo as presenças ao redor de Soluço começaram a se tornar mais interessadas, mais amigáveis e gentis, e o garoto começou a se sentir mais bem-vindo entre elas.

Alguns dragões ainda o lançavam olhares e comentários desaprovadores, como o grande Pesadelo Monstruoso Fogaréu. Mas Soluço raramente o via, a não ser de longe, quando o grande dragão voava sobre a ilha como se estivesse em uma patrulha contínua.

E também Fogo Gelado. A Fúria da Noite continuava sendo – ironicamente – fria para com o garoto, raramente lhe dando atenção e mantendo grossas paredes erguidas entre os dois. Porém, ela tinha finalmente entendido que Banguela não iria mudar de ideia em relação ao pequeno humano, e aos poucos ela pareceu se acostumar em ter Soluço dormindo na mesma caverna. Até chegou a aceitar, sem reclamar, um peixe que Soluço havia levado para ela!

Outros dragões que tinham o antagonizado em seus primeiros dias na ilha aparentemente também tinham aceitado o humano entre eles, como por exemplo os Pesadelos Monstruosos Fogo do Céu e Flama, que Soluço se lembrava bem.

As notícias de que Soluço havia, não só ajudado Banguela a voar novamente, mas que também criara uma pata nova para outro dragão, se espalharam, e os dragões começaram a se aproximar com interesse e curiosidade. Logo Soluço se encontrou cercado por vários tipos diferentes de dragões enquanto trabalhava.

Seu primeiro trabalho após ajudar Espetos – que o visitava quase todo santo dia, arrulhando e se esfregando contra o garoto, lhe transmitindo toda sua gratidão – foi fazer a asa que havia sido prometida para o pequeno Fumaça Fumegante – cujo nome era Cinzento. Soluço trabalhou duro, visitando os pequenos dragões dia sim e dia não.

Como Treinar o Seu Dragão - To the SkyWhere stories live. Discover now