Vozes em sua cabeça

92 16 3
                                    

   Tudo estava quente e aconchegante. Soluço não queria se mover.

Mas algo o mantinha acordado. Ele não saberia descrever, era uma energia estranha, que envolvia sua mente como se tivesse braços longos e fortes. A energia pressionou contra ele como se fosse algo físico, mas ao mesmo tempo não parecia ser.

Soluço abriu os olhos, piscando vez ou outra com a luz do mundo ao seu redor. E a energia ainda estava ali, o envolvendo, o cutucando levemente. E, por um momento ele a sentiu flutuar enquanto sua visão se ajustava.

O sol estava subindo no céu, marcando as nuvens com cores quentes, e refletindo no mar calmo. Ele conseguia sentir o cheiro da maresia, e respirou fundo, sentindo o ar passar por seu corpo. Árvores cercavam o lugar em que estava descansando, ele podia ouvir o farfalhar suave das folhas como se estivessem bem perto. E não muito longe, estavam pequenos dragões descansando no sol, aos poucos acordando junto com ele. Todos eram negros cor da noite.

A energia flutuou, ao mesmo tempo parecendo estar em todo lugar e apena ao seu lado.

Ele se virou, encarando grandes olhos verde-amarelados. A energia flutuou novamente, como ondas no mar, e de alguma forma Soluço sentiu como se estivesse formando alguma coisa, como palavras ou imagens.

Ele sentiu seu corpo vibrar e, de algum lugar no fundo de sua mente, ele se sentiu respondendo com sua própria forma de energia. Era pequena, fraca, mas flutuava do mesmo modo que a outra.

E ele quase conseguiu entender o que ela queria dizer...

--

Soluço abriu os olhos com luz passando por sua janela aberta. O céu estava pintado com as cores do nascer do sol, e por um momento Soluço se lembrou do céu colorido de seu sonho. Ele processou o que tinha acontecido, sentindo como se não soubesse dizer o que era real e o que não era.

Ele ergueu uma mão, colocou a palma entre seu rosto e a luz do sol, e conseguia sentir o calor contra sua pele pálida.

Soluço ainda conseguia sentir a energia desconhecida, ela ainda dançava no fundo da sua mente, como ecos antigos. Soluço esperou. Mas ela não sumiu, apenas ficou lá, pequena e distante.

"O que...?" Ele murmurou para si mesmo, sem saber como processar aquilo.

Toques altos na parede de madeira fizeram o garoto sair de seus pensamentos.

"So-luço!" Biscoito estava parada na porta. "Hora de levantar." Ela disse simplesmente, batendo com o punhal do machado contra a parede mais uma vez antes de descer.

Soluço se levantou, se sentindo estranhamente mais energizado para sair da cama do que nos últimos dias. Não estava realmente animado para começar o dia, mas era como se seu corpo quisesse sair de casa e fazer coisas.

"É, por sorte, não tem treino hoje..." Ele parou por um momento, se lembrando do sonho.

Todos aqueles pequenos dragões negros...

Soluço não sabia bem o que aquele sonho queria dizer, mas parte dele acreditava que tinha a ver com Banguela, ou melhor, com aquela bendita mordida.

Ele tirou a camisa, dando mais uma olhada nas faixas em seu ombro. A mordida não doía mais e já tinha parado de sangrar. Mas o mistério por trás dela ainda estava ali...

Soluço desceu a escada e saiu da casa, feliz ao se lembrar que não teria de ir para a Arena, podia muito bem voltar para a forja como se tudo fosse igual há alguns meses antes. Ele quase ria quando pensava nisso. Quantas vezes ele já tinha fugido da forja durante os ataques de dragões, desejando poder enfrentar as criaturas aladas? E agora tudo o que ele mais queria fazer era ficar na forja.

Como Treinar o Seu Dragão - To the SkyWhere stories live. Discover now