Como Treinar o Seu Dragão - To the Sky

Colocando a conversa em dia

As barbatanas auriculares se ergueram e Banguela o encarou com interesse, os olhos verdes e brilhantes bem abertos; e Soluço pode sentir a curiosidade do dragão tocando sua mente.

Sua energia vibrava como as dos outros dragões quando eles estavam curiosos, ou quando faziam uma pergunta genuína, o que tornava a mensagem fácil de entender com a mesma facilidade que teria uma pergunta falada; mas ainda assim era diferente vindo de Banguela, havia algo único vibrando na curiosidade do Fúria da Noite que Soluço nunca tinha sentido vindo de nenhum outro dragão antes.

Soluço balançou a cabeça, tentando focar seus pensamentos.

"Isso foi... Um beijo..." Ele esclareceu, sentindo seu rosto esquentar em pensar como ele precisava explicar para seu companheiro o que diabos era um beijo. Era algo tão surreal. "É tipo o equivalente das suas lambidas..."

A curiosidade da energia negra se tornou compreensão e então um doce e inocente tom de desejo que fez o corpo de Soluço se arrepiar da cabeça aos pés.

"Eu quero mais um." Banguela ronronou baixinho, o som grave fazendo o corpo do garoto tremer.

Soluço sorriu, um pouco sem jeito, mas ele repetiu o movimento, apertando os lábios contra o focinho do dragão mais uma vez. Era diferente sentir as escamas de Banguela em baixo de seus lábios ao invés de seus dedos: como sempre eles eram suaves ao toque, lisos, mas com uma leve porosidade diferente de tudo que Soluço já tinha sentido, e quentes.

Ele se afastou por um momento e ouviu o dragão choramingar, tendo de segurar a risada. Soluço apertou mais um beijo sobre o focinho de Banguela, antes de apertar outro mais ao lado desse e continuando assim, se lembrando de como Banguela costumava lamber todo o seu rosto.

Banguela ronronou profundamente, fazendo o mundo ao redor de Soluço tremer, e ele gostou das vibrações enquanto essas rolavam por seus braços. Banguela se inclinou na direção do humano e Soluço teve de se inclinar para trás, quase praticamente deitando à beira do córrego brilhante, e ele sentiu o modo como o dragão relaxou em cima dele, como se estivesse se derretendo em baixo dos lábios pequenos do humano.

Soluço quase riu. Se ele soubesse que seria tão fácil assim acalmar Banguela, ele já teria beijado o dragão mais vezes antes...

Ah...

Ele sentiu seu rosto esquentar. Ele nunca se imaginaria pensando em beijar um dragão, mas cá estava ele.

Soluço se afastou, recebendo um choramingar baixo em resposta, claramente desapontado com o fim do contato. Ele não pôde deixar de rir e se inclinou para frente mais uma vez, sem pensar duas vezes, dessa vez apertando pequenos selinhos sobre as escamas de Banguela, quase como se estivesse tentando beijar todas elas, embora tal coisa não fosse possível. Mas talvez...

"Satisfeito?" O rapaz perguntou quando o dragão soltou um ronronar baixo, grave, que fez o mundo inteiro tremer. Ele ainda tinha os olhos fechados e Soluço podia jurar que havia um sorriso bobo em seu rosto de dragão.

"Por enquanto..." Banguela arrulhou e Soluço riu, revirando os olhos.

"Dragãozinho mimado..." Soluço coçou em baixo da mandíbula de Banguela que ronronou ainda mais alto, se inclinando contra o toque.

Soluço pensou nos vários outros momentos em que eles já tinham se encontrado assim, até mesmo antes de Banguela o morder, só aproveitando a presença um do outro.

Por tanto tempo Soluço tinha deixado aqueles pensamentos rolarem por sua cabeça, imaginando o que aconteceria caso ele aceitasse tudo aquilo, como as coisas poderiam mudar, e ele não podia mentir que estava com um pouco de medo de tudo isso. Mas mudança era algo natural, Velho Enrugado costumava dizer, que todos e tudo mudavam, então por que ter medo disso? Soluço tinha que concordar, ele tinha mudado bastante desde o dia em que conheceu o Banguela, desde o dia em que ele descobriu que dragões não eram exatamente como os vikings pensavam que eles eram.