Eu também...

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Talvez Cinzento não pudesse voar por muito tempo ou por grandes distâncias como os demais Fumaças Fumegantes, e talvez Soluço precisasse estar sempre por perto para ajustar a asa prostética de vez em quando, mas Cinzento podia voar e, de acordo com ele, isso era tudo o que importava. E ele não era o único que pensava assim. A maioria dos dragões já parecia entender que o que Soluço podia fazer por eles era algo temporário, mas todos confiavam que o garoto ainda estaria ali para ajudar caso eles precisassem.

E quanto mais tempo passava, mais Soluço acreditava naquilo também.

Berk parecia não ser mais do que uma simples lembrança distante, mesmo tendo se passado pouco tempo desde a chegada à ilha; com tudo o que tinha pra fazer e a calmaria e alegria que tomava a maior parte de seus dias, era fácil para Soluço esquecer de onde ele tinha vindo.

Sim, ele ainda pensava em sua família, e, quando se deitava para dormir, ele desviava os olhos para a peça de tabuleiro que Banguela tinha lhe dado e seus sonhos eram tomados por lembranças de seu pai, sua mãe, sua irmã, seu melhor amigo e, vez ou outra, outros vikings. Ele se sentia curioso sobre o que se passava na ilha, como estava sua família, como eles tinham lidado com a sua partida...

E então Soluço se lembrava das palavras de seu pai, logo antes dele enfrentar Flamejante ("Apareço novamente em público com a cabeça erguida!") e sobre como ele nunca tinha acreditado que Soluço faria algo admirável para um Viking de Berk. E a leve dor em seu coração afastava as memórias boas.

Talvez fugir de Berk tenha sido a melhor coisa que podia acontecer em sua vida... Bem, só perdendo para o momento em que ele e Banguela se tornaram amigos, ele diria.

Soluço não sabia se voltaria para Berk algum dia, ou se sequer queria voltar, então ele tentava não pensar no futuro e só se focar no presente.

E nas várias coisas que ele tinha pra fazer...

"Você queimou a pata falsa... De novo..." Soluço suspirou, balançando a cabeça, os olhos presos na pata da Nadder frente a ele, que agora não passava de alguns pedaços de madeira queimada.

Espetos fez um chiado baixo, abaixando a cabeça de modo quase arrependido.

"Não dá pra fazer só com metal? Pelo menos derrete mais devagar..." Sua energia soava um pouco impaciente. Nadders pareciam ser bem impacientes, Soluço tinha notado; ele já tinha se acostumado com a energia desse tipo de dragão que, além de pontiaguda, parecia pular de ideia para ideia com tremenda rapidez.

Soluço suspirou.

Não era a primeira vez que um dragão acabava com uma de suas próteses queimadas, mas o que esperar? Até mesmo os vikings de Berk precisavam ocasionalmente trocar de próteses, por vários motivos, incluindo quando tais objetos acabavam acidentalmente incendiadas.

"Sim, mas não é confortável e, acredite em mim, você não quer usar uma pata desconfortável... E também se o metal derreter, ele pode te queimar ou moldar--" E, no mesmo instante, Soluço teve uma realização. "Espera... É isso!" Ele exclamou, assustando a Nadder e recebendo um olhar interessado de Banguela. "Dragões não se queimam por causa das escamas! As escamas são anti-fogo!"

"É claro...?" Espetos trinou baixinho, lançando um olhar para o Fúria da Noite, como que perguntando o que estava acontecendo com o humano. O tom da energia da dragão era um pouco ácido, demonstrando que ela pensava que aquilo já devia ser uma coisa óbvia.

"Ah, sim, sim! É que agora eu já sei o que fazer!" Soluço ignorou aquele tom, se voltando para Banguela com um sorriso. "Banguela, vamos visitar os Machadões! Eu vou preparar uma nova pata pra você, tá bem? Só, espera um pouquinho! Ah, e se você soltar mais escamas, pode levar pra minha forja, tá legal? Legal! Vamos, amigão!" Ele disse para Espetos, antes de subir nas costas de Banguela.

Como Treinar o Seu Dragão - To the SkyWhere stories live. Discover now