Na Arena

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   Medo, dor, desespero, raiva. Esses sentimentos e pensamentos pareciam correr por suas veias. Era tão forte, que ele não conseguia pensar, não conseguia se mexer por si próprio. Era como se seu corpo e sua mente estivessem presos por garras de metais.

E aquela pressão violenta apertando contra sua mente, contra o seu ser. Uma energia, uma presença forte, enorme, gigantesca, poderosa, forte, perigosa... Havia muitas palavras para descrevê-la.

Ele queria fugir, queria recuperar o controle sobre seu próprio ser. Mas ele não podia.

Estava preso.

E, de repente, a energia se fundiu à dele, e embora ele ainda estivesse ali, ouvindo e vendo tudo, era como se não estivesse mais presente. Como se fosse um fantasma de quem era antes.

E seus olhos se ergueram.

"Você é meu."

A energia vibrou por seu corpo violentamente e ele encarou três gigante olhos acinzentados.

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Soluço se sentou rapidamente na cama, sentindo seu coração batendo violentamente em seu peito. Ele piscou uma ou duas vezes enquanto sua mente voltava para a realidade, mostrando que ele ainda estava em seu quarto.

Mas aqueles olhos perfurantes continuavam ali, como se tivessem sido queimados em suas retinas.

Um leve formigamento em seu ombro o fez coçar a área, só para lembrar das cicatrizes que estavam ali. Elas sempre coçavam depois que ele acordava, e o formigamento ficava pior a cada dia que passava.

E ele tinha uma ideia do que aquilo queria dizer. Aqueles sonhos tinham alguma coisa a ver com Banguela.

Os voos, as outras energias, algumas benevolentes e pequenas e essa que ele havia acabado de conhecer, poderosa, perigosa e difícil de combater.

Era quase como se ele estivesse vendo pelos olhos de um certo dragão negro.

"Banguela... O que você fez comigo...?" Soluço sussurrou, sua voz pareceu muito mais alta no silêncio da noite.

Aquela mordida, aqueles sonhos... Soluço não aguentava mais, ele precisava de respostas.

Era ainda tarde, a lua parecia ter acabado de chegar a seu pico. Mas Soluço tinha que descobrir o que estava acontecendo, já devia ter feito aquilo muito antes.

Ele pulou da cama e pegou as botas, descendo as escadas descalço para tentar fazer menos barulho. O silêncio reinava na casa, sendo entrecortado vez ou outra pelos roncos altos de Stoico em seu quarto, e quando ele saiu, fechou a porta o mais silenciosamente que conseguia.

A noite estava fria, mas Soluço não queria voltar para a casa e arriscar ser pego. Ele tinha outro lugar para ir.

Soluço se sentiu idiota por não querer voltar a se encontrar com Banguela. Sim, só tinha se passado dois dias, mas ele sentia como se tivesse sido uma eternidade.

Banguela tinha se tornado uma parte tão importante de sua vida em apenas algumas semanas, então não era de se surpreender que ele era tudo que Soluço tinha na cabeça. Banguela, seu melhor amigo, um dragão...

Ele se lembrou da conversa que tinha tido com Perna-de-Peixe, sobre treinar dragões e tudo o mais. Perna-de-Peixe dizia que era impossível, mas então Soluço tinha feito o impossível. Ele não tinha só domado um dragão, ele tinha se tornado amigo de um, e recebido uma mordida que – talvez – fosse muito mais do que só uma mordida.

Como Treinar o Seu Dragão - To the SkyWhere stories live. Discover now