O ponto sem retorno

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   Soluço acordou com um suspiro. Estava tão quente que ele não queria levantar, fazia um bom tempo que dormia tão aconchegadamente. Sua cama era sempre tão fria, dura e desconfortável. Ele podia ficar ali deitado por dias e nem se importaria.

Um som grave fez seu corpo tremer, mas não foi desconfortável, muito pelo contrário. Soluço se remexeu, se aconchegando, e algo se moveu contra ele, tocando sua pele quente como uma chama, mas sem queimar.

Soluço se virou, abrindo os olhos levemente e os acostumando com a claridade da manhã. Ele levantou o olhar ao ouvir um ronronar forte e confortável, encontrando dois grandes olhos verdes o observando.

"Hmm... Bom dia, Banguela..." Soluço não conseguiu deixar de sorrir quando o dragão esfregou o rosto contra o dele, soltando um arrulho suave que parecia querer dizer "bom dia". Soluço se inclinou contra o toque do dragão e se sentia tão bem ali que não queria sair do lado de Banguela.

Porém...

Ele se lembrou de tudo que tinha acontecido no dia anterior.

"Pelos deuses, a prova!" Soluço se levantou violentamente, quase caindo no processo. Mas Banguela estava ali para ajuda-lo a ficar de pé. "Ai, meu Thor, eu não acredito que eles querem que eu... Que eu...!" Ele não chegou a terminar a frase.

Tinha tido uma noite tão boa que tinha até esquecido daquilo, da discussão com Biscoito, da escolha na arena e daquela maldita prova viking. Ele não estava surpreso honestamente, já que preferiria que tal coisa nem sequer existisse.

Mas cá estava ele, prestes a voltar para Berk e se preparar para matar um dragão.

Banguela soltou um arrulho baixo, encarando o garoto de modo quase curioso.

Soluço se sentiu tentado a ficar ali com Banguela, ignorando aquela prova idiota, ignorando qualquer coisa que os outros vikings pensassem, o que sua família pensava, e o que fariam com ele. Ele só queria ficar com Banguela. Mas não. Ele tinha que ir. Que outra escolha tinha?

De qualquer modo, ele tinha um plano. Ou melhor, a base para um plano...

"Calma, Soluço... Eu só... Eu tenho que pensar melhor nisso..." Murmurou para si mesmo, andando de um lado para o outro. "O plano é convencer os outros de que podemos viver em paz com os dragões, simples assim! Tenho que falar de um modo que vikings entendam, como eu pensei antes. É, é isso... O bem da ilha, mais segurança para Berk..." Ele se virou para Banguela, que o observava com a cabeça levemente inclinada para o lado. "Companhia..."

Banguela mostrou um sorriso sem dentes, balançando a cauda. O garoto riu do jeito fofo do dragão, mas o som sumiu aos poucos.

"Mas... O dragão..." Soluço balançou a cabeça. "Ai, porque tem que ser bem o dragão que não gosta de mim...?"

Ele se lembrou das vezes em que tentara se comunicar com o Pesadelo Monstruoso, ganhando de resposta apenas o calor da energia draconiana apertando contra a sua, o empurrando para longe. Fora algumas palavras, tudo o que o outro dragão oferecia a ele era uma parede de fogo.

Soluço se perguntava porque os deuses pareciam tão focados em coloca-lo frente a frente com Pesadelos Monstruosos, sempre fazendo seu contato com aquele tipo de dragão ser ou perigoso ou difícil.

Pelo menos o contato com outros dragões era mais fácil...

Banguela choramingou baixo e o garoto reconheceu o que aquele som queria dizer.

"Banguela, está tudo bem, ok?" Ele descansou as mãos em baixo da mandíbula do Fúria da Noite, encarando aqueles olhos brilhantes e preocupados. "Vai dar tudo certo..." Ele afagou a pele escamosa de Banguela, o fazendo ronronar, e quase não notou como estava falando mais para si mesmo do que para o dragão. "É, é, vai-- vai dar tudo certo!"

Como Treinar o Seu Dragão - To the SkyWhere stories live. Discover now