Para o alto

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Soluço riu alto e ele podia ouvir o som de outra risada o acompanhando, não era exatamente uma risada como a do garoto, mas ele a entendia como aquilo. Era um som grave, gorgolejante, que muitos achariam estranho, mas que Soluço simplesmente adorava.

Ele abriu os olhos, vendo que estava cercado pelas nuvens, de algum modo voando no céu como se estivesse nadando na água. E entre as cores e luzes, uma figura escura "nadava" ao lado dele.

Soluço sorriu, esticando os braços para Banguela. O dragão "nadou" na sua direção e os dois caíram para trás, rolando por cima das nuvens. O garoto riu alto, se deixando cair e rolar, ele não sabia onde o céu começava e terminava, mas pouco lhe importava e Banguela parecia se importar ainda menos.

Ele se sentia livre.

Os dois rolaram para longe um do outro, um caindo de um lado da nuvem e o outro pelo outro lado.

Soluço observou Banguela enquanto eles caiam, mas sem medo da queda. O dragão tinha os olhos fechados, como que aproveitando o vento em seu rosto, as asas estavam fechadas, moldadas ao seu corpo esguio mas musculoso; não havia sela em suas costas, mas a barbatana no final da cauda ainda era feita de couro marrom.

Banguela era um dragão tão bonito e tão poderoso, Soluço não conseguia tirar os olhos dele e das marcas que cobriam suas escamas. Que criatura magnifica.

Banguela ronronou, se aproximando do rapaz enquanto eles caiam. Soluço sorriu para o dragão, envolvendo o pescoço musculoso desse com os braços, quase como se prendendo Banguela ali com ele.

Ele prendeu seus olhos com os de Banguela. Verde no verde. Soluço conseguia se ver refletido naquelas pupilas negras, mas ele não estava vendo a si mesmo, não, ele estava vendo Banguela.

Apenas Banguela. Apenas escamas escuras e olhos verde-amarelados. Apenas o calor do Fúria da Noite. E uma energia forte, poderosa, mas gentil, delicada, que só podia ser descrita com uma palavra.

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Soluço acordou com seus pensamentos a mil. Ele encarou o teto da caverna, como se sua mente não conseguisse compreender como o céu azul havia sumido de repente.

"Um sonho..." Ele suspirou. Seu corpo estava quente, como se ele tivesse ficado ao sol de verdade, como se não tivesse sido um sonho. Ele desviou o olhar para o lado.

A luz do sol da manhã clareava um pouco a escuridão da caverna, e o resto avermelhado das chamas da fogueira o ajudavam ainda mais a ter uma visão melhor do lugar. E Soluço encontrou Banguela dormindo ao pé de sua cama de pedra, como ele normalmente fazia.

Soluço observou o dragão, o estudando em silêncio. Banguela roncava suavemente, respirando de modo lento e profundo, com a cabeça deitada nas pernas da frente e a cauda elevada para descansar em cima do rapaz.

Não era de se admirar que Soluço se sentia quente. Ele nem tinha registrado que a cauda de Banguela estava em cima dele, como que servindo de cobertor extra, até aquele momento.

Soluço deitou a mão cuidadosamente na barbatana que sobrava, dando uma olhada para ter certeza de que o Fúria da Noite ainda estava dormindo. Banguela roncou alto, se movendo levemente e quase derrubando Lambe-Olho que estava deitado em suas costas. Na noite anterior Soluço tinha tirado a barbatana falsa de Banguela, assim como ele tinha começado a fazer já fazia uma semana, toda noite, sem falta.

Ele tinha usado como desculpa que só achava que Banguela fosse dormir melhor sem todo aquele aparato de voo. O dragão bufou, apertando os músculos da cara como um humano franzindo o cenho e Lambe-Olho traduziu o que ele queria dizer com aquilo.

Como Treinar o Seu Dragão - To the SkyWhere stories live. Discover now