Capítulo extra - 150K

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Olhos dourados

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Olhos dourados

por N.C Earnshaw


Massachusetts, 1944



    O CÉU ENCONTRAVA-SE TÃO CINZENTO quanto o interior de Wendy naquela manhã. Ela olhou para janela parcialmente coberta pela cortina amarela — que acreditava ter sido branca um dia, imaginando como seria estar lá fora, no mundo real não controlado por freiras zangadas ou com crianças barulhentas.

    Assim que chegou ao orfanato após a morte de sua querida avó — quando tinha apenas quatorze anos, ela esperou todos os dias com ansiedade, encarando o portão velho e enferrujado, pela chegada do seu pai ou do seu irmão. Ambos tinham ido para a guerra para lutar pelo país, e haviam prometido que voltariam para casa. No entanto, a esperança se foi após os três longos anos presa naquele lugar horrível, condenada a ficar ali até chegar à maioridade, para então ser chutada na rua como se fosse um nada. Afinal, órfãos não eram considerados pessoas, de fato.

    Ela encarou o pequeno relógio que ficava no topo da primeira cama, e soltou uma imprecação logo que percebeu que se não levantasse imediatamente e acordasse as outras, seriam punidas.

    O quarto era pequeno para as oito meninas. As camas ficavam tão juntas que quase formavam uma única cama gigante. Para sair dali, tinham que se arrastar até o final do colchão — as mais novas achavam a atividade divertida.

    Entre todas, Wendy era a mais velha, e acabou sentindo-se responsável pessoalmente por elas quando Ágatha foi embora para se casar.

    — Genevieve — chamou, balançando a adolescente de treze anos que dormia ao seu lado. A garota sentia pena todas as vezes que tinha que acordá-la, pois dormir era um dos poucos momentos que possuíam liberdade para fazer o que quisessem. Em seus sonhos, claro, mas ao menos ainda tinham isso para se consolar. — Acorda! Já estamos atrasadas. Temos 20 minutos para arrumar as camas antes que a irmã Guilda venha fazer a inspeção.

    Genie grunhiu, levantando seu corpo até a metade. Tinha horror a todas as freiras responsáveis, mas Guilda possuía um lugar especial nos seus pesadelos.

    — Ajude-me a acordar as outras — ordenou Wendy, afastando-se.

    Algumas acordaram pelo barulho, outras tiveram que ser arrancadas à força da cama. No entanto, no fim, conseguiram deixar todos os catres arrumados com perfeição.

    — Wen... — Uma vozinha doce a chamou atrás de si, e a garota prendeu seu cabelo rapidamente em um coque apertado, para então se virar na direção da figura rechonchuda. — Você pode arrumar meu cabelo?

    Madelyn tinha sido deixada na porta do orfanato com apenas dois anos de vida, e tinha sido cuidada por Wendy desde então. Agora, com quatro anos, era a garotinha mais doce e mais esperta do mundo, e ela daria tudo para que sua bebê fosse o mais feliz possível.

Entre Fogo e Gelo - Paul Lahote (1)Onde histórias criam vida. Descubra agora