Eu estou morrendo de sono completamente jogado no sofá da minha melhor amiga enquanto ela tagarela sem parar, o que devo assumir que é seu maior dom, mas eu assumo que já estou transacionando pra aquele estágio entre a realidade e o mundo dos sonhos, então eu não tenho certeza se estou realmente ouvindo ela.
- Eu amo a forma que você vem aqui só pra dormir e não ouve uma palavra do que eu digo. - Ashley reclamou deitando emburrada do meu lado.
- Desculpa Ash, estou exausto. - Me aconcheguei no colo dela, realmente querendo dormir por algumas horas seguidas, eu não tenho o sono mais regulado do mundo e me sinto genuinamente confortável na presença da minha melhor amiga.
- Se for no teatro comigo juro que paro de tagarelar e deixo você dormir quando voltarmos, até te deixo ficar aqui. - A encarei confuso, é sério que ela passou todo esse tempo falando sobre o teatro?
- Ash... - Eu tentei resistir por mais que eu saiba que nunca venço, Halsey tem o dom de me convencer de absolutamente qualquer coisa, principalmente quando ela me oferece seu sofá enorme e confortável, aquecedor maravilhoso e seu gatinho que considero meu amigo e gosta de tirar longos cochilos comigo.
- Eu sei que não gosta, e não entende nada sobre ballet, mas eu chamei o Cal e ele vai estar de plantão no hospital, e eu ganhei duas entradas de uma amiga, e de qualquer forma não quero ir sozinha, vamos Mike, você só tem que ficar emburrado do meu lado me vendo chorar.
- Eu só vou porque é de graça e porque quero fazer minha melhor amiga feliz. - Ashley me abraçou com força antes de sair saltitando pelo seu apartamento. Será que agora consigo tirar um cochilo?
- Você tem meia hora pra um cochilo, saímos daqui a pouco.
- Não acredito que o ingresso é pra hoje. - Realmente parece que não vou dormir tão cedo hoje.
- Ninguém mandou não ouvir o que eu falo, se tivesse prestado atenção saberia. - Ela deu de ombros antes de se afastar e andar em direção ao seu quarto, provavelmente pra se arrumar e sim, eu realmente deveria ter ouvido ela.
Já eu virei pro lado pra garantir meu cochilo de meia hora, qualquer minuto conta, é assim que costumo pensar. Porém eu sinto que só fechei os olhos e no minuto seguinte eu estava sendo chacoalhado por um projeto de pessoa, já que nem altura ela tem.
- Imagino que não vá querer passar no seu apartamento pra trocar de roupa. - Olhei pro meu próprio corpo, o que tem de errado com a minha roupa? Acho que to arrumadinho até, não tem nenhum rasgo na minha blusa. - É serio que vai ir assistir ballet parecendo um rebelde sem causa?
- Pediu pra eu te acompanhar e eu aceitei, pedir pra eu me arrumar já está pedindo um pouquinho demais. - Eu disse rindo, ela diz essas coisas como se não me conhecesse há anos.
- Vai todo mundo ficar te olhando.
- E pra você não né? - Ash chama a atenção a quilômetros de distancia com seu cabelo rosa e vestido colorido, ao menos eu to no meu pretinho básico.
- Vamos logo ou vamos nos atrasar, Michael Insuportável Clifford.
Ashley saiu me puxando pelo braço de seu apartamento deixando tempo só de eu acariciar rapidamente as orelhinhas de Fred, seu gatinho. Durante o caminho ela parecia agitada enquanto dirigia seu carro, os dedos batendo sem parar no volante, e eu não pude deixar de sorrir em ver o quão empolgada ela estava, eu sou sim emburrado e as vezes difícil de lidar, gosto de provocar e também sou mau humorado, mas por mais que eu implique eu admiro a paixão que ela tem por qualquer manifestação da arte.
Ash não saiu do meu lado durante todos os últimos sete anos, fizemos faculdade juntos, e ela me odiava, me chamava de "projeto de musico de merda", confesso que a importunava de propósito só porque é nítido que ela é do tipo brava, porem fofa, então é adorável ver ela enquanto me ameaça de morte. Eu não lembro em que momento o ódio dela virou uma amizade, porem sou grato, porque aprendi muito com ela nesses anos e sou grato pela sua existência. Ash é apaixonada e encantadora, um sopro de vida e ar puro quando as coisas parecem difíceis, Halsey exala um tipo de alegria e energia única, é uma sensação inexplicável estar emocionalmente tão conectado a ela.
Quando ela estacionou onde seria a apresentação, ela segurou minha mão com força, parecia ansiosa a ponto de explodir, eu tive que a ajudar a encontrar nossos lugares, ela parecia perdida em meio àquelas milhares de cadeiras, os olhos brilhantes e frenéticos. Nossos lugares eram na sexta fileira, não muito perto, mas também não muito longe, e próximo da saída que tem bem ao lado uma maquina de café e bolachas de graça, não que eu esteja pensando em sair na metade da apresentação pra comer, jamais.
Eu confesso que não entendo nada sobre o que está acontecendo no palco, meu forte é a musica, nunca fui muito bom com a dança, particularmente sou um tanto desengonçado e não muito atento pra conseguir entender tanta informação visual, mas eu confesso que estou surpreso, é bonito, todos os dançarinos vestidos em tons de azul, com tecidos leves que balançam a cada movimento, as vezes tenho a impressão que os movimentos são naturais e o som da musica só guia eles, como algo instintivo, é tão cru, e natural, e em alguns momentos tão profundamente triste, eu posso sentir que também existe paixão pela musica ali, e isso prende minha atenção, existe uma parte que eu consigo me identificar, uma pequena parte.
- Vai chorar? - minha amiga sussurrou próximo ao meu ouvido, eu a olhei e na realidade quem está chorando é ela, eu apenas sorri em resposta deixando um beijo no seu rosto.
Todo o espetáculo durou uma hora, talvez pouco mais, de qualquer forma o tempo passou rápido, mais rápido do que eu esperava, quando saímos da sala alguns dançarinos estavam sentados no saguão (próximos as bolachas de graça e a maquina de café, só comentando), Ash soltou minha mão por alguns minutos para ir até eles junto com um bocado de pessoas, eu aproveitei que ninguém estava dando atenção para as bolachas.
- Consegui uma foto com o dançarino principal. - ela pulava ao meu lado enquanto íamos até a saída.
- Me deixa ver. - Peguei o celular de sua mão quando entramos no carro, Ash parecia uma criança ao lado do dançarino, muito mais alto do que aparentou ser de longe, os cachos agora soltos diferente de quando se apresentava, me lembro dele no palco, seu rosto ainda com a maquiagem azul, é engraçado.
- Ele é famoso? - perguntei devolvendo seu celular antes que ela desse partida no carro.
- Não, mas poderia. Ele é um dos melhores que já vi pessoalmente, e olha que já vi muitos, eu não conheço toda a história, ele é muito reservado, mas se não me engano ele recusou se apresentar internacionalmente pra ficar aqui, tem uma escolinha de dança aqui perto.
- Não sei se foi uma escolha inteligente.
- Talvez ele não quisesse se afastar da família, ou ele ama o que faz e na realidade não quer ser famoso, não sei, ele deve ter tido seus motivos.
- Imagino que sim.
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Booooom já que eu terminei Broken, talvez próxima do final de Lost Boy e já escrevi mais da metade essa nova história aqui estou eu publicando ela enquanto desenvolvo outro projeto antes de publicar.
Ela não vai ser muito longa eu acho, mas nesses primeiros capítulos que já escrevi estou gostando de como ela está se desenvolvendo, então espero que também gostem.
P.S.: A Ashley citada é a Halsey, então se eu acabar citando ela como Halsey e não Ash não estranhem.
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Beautiful Stranger ** MUKE
FanfictionMichael Clifford, um músico sem muito tempo vago em sua rotina agitada, que acaba por ter que encontrar tempo para um bailarino que simplesmente não gosta de ficar sozinho e precisa de sua constante companhia.