Tem sido difícil, realmente difícil, estamos a menos de uma semana da estreia e eu tenho observado Luke esgotar seu próprio corpo e eu não posso fazer absolutamente nada, porque falar não adianta, ele é teimoso e não escuta ninguém.
Ele acorda durante a madrugada, vai até o terraço independente do frio que esteja, e dança até amanhecer, se ele toma café da manhã já é muito, porque perde a noção do tempo e passa o dia inteiro sem comer, as vezes ele sai e não tenho a menor ideia de onde vai, mas imagino que ensaiar em algum lugar que eu não possa encher seu saco, porque sinto que ele já está perdendo a paciência comigo pegando no seu pé, mas se isso irrita ele o problema é inteiramente dele, porque eu não vou parar, porque eu não acho que o que ele está fazendo é certo, e se ele não se importa com a própria saúde eu me importo.
Agora eu estou parado na porta do único cômodo do terraço, ele está deitado no chão, acho que quase cochilando, ele está aqui a horas, o ouvi levantar da cama ainda de madrugada, ele só desceu quando amanhecia pra pegar alguma coisa na cozinha e subiu de novo.
- Eu estou acordado. - Ele sussurrou. - Anda, fala logo o que tem que falar.
- Não tenho nada pra falar, tô repetindo a mesma coisa igual um papagaio nos últimos dias e nunca me ouviu, não é agora que vai.
- Michael eu acho que já sou bem grandinho e sei me cuidar.
- Sabe se cuidar, claramente, dormindo menos de quatro horas no dia e passando horas só com uma refeição, se é que posso chamar uma caneca de café e duas bolachas de refeição.
- Michael.
- Olha Luke, não tô aqui pra repetir toda essa merda, só vim avisar que o almoço tá pronto, mesmo não acreditando que vá descer e almoçar comigo. - Disse dando as contas, eu realmente não quero discutir, e sinto que estamos perto disso e eu sequer gosto da ideia de ter uma discussão com ele.
- É só até as apresentações passarem.
- Não é. - Disse alto pra que ele me ouvisse, eu posso o escutar vindo atrás de mim. - É assim desde que te conheci, só escondia melhor. - Eu desconfio que seus maus hábitos tenham outras motivações por trás, e por mais que eu me preocupe acho o assunto delicado, não quero dizer algo que o machuque ou de uma forma que piore a situação.
- Só não quero que algo de errado.
- É óbvio que não vai dar, se dedicou a isso durante meses, as coisas só vão dar errado se continuar esgotando seu corpo, ou acha que tem força pra manter esse ritmo até lá? Porque eu acho que não. - Eu disse descendo as escadas.
- Você está sendo cruel.
- Ok, se com cruel quer dizer que estou sendo sincero, me preocupando com você e exausto por não ter meu namorado do meu lado mesmo morando com ele, sim eu estou sendo cruel, cruel pra caralho.
- Não é justo. - Luke resmungou se apoiando na bancada, ele mal tem força pra parar em pé.
- Realmente não é, eu entrei nessa com você, você queria que eu me aproximasse e agora não me deixa entrar, eu entendo que está ansioso, e que quer que de certo, e que as vezes não se sente o suficiente, mas quer saber, se as pessoas que eu amo estiverem lá e você estiver feliz, pra mim isso que dizer que deu certo, que você é mais que o suficiente e que me sinto realizado só por ter tido essa experiência ao seu lado. Você não dorme, não come e não faz outra coisa além de dançar, acha que eu não vejo os machucados nos seus pés? Ou que tem andado mancando? Ou que as vezes só apaga exausto lá em cima, sozinho, deitado no chão? Eu estou aqui com você, mas preciso que me queira onde eu estou, ou não vai dar certo. - Disse pegando minhas chaves e um casaco, agora quem perdeu a fome foi eu.
- Onde vai? - Pela sua voz eu sei que ele está a ponto de chorar, mas eu não posso fazer nada, porque eu já tentei conversar com ele de todas as formas possíveis, eu também tenho meus limites, eu cheguei no meu.
- Não sei.
- Quando volta?
- Também não sei, mas se precisar de mim, me liga.
E eu realmente não sei por quanto tempo fiquei fora, eu só dirigi pro mais longe que pude e fiquei dentro do meu carro no mais absoluto silêncio só pensando se ele estaria me esperando em casa quando eu voltasse, ou se ele sequer continuaria lá, não que eu não o queira lá, na realidade eu só não quero mais essa situação, porque é triste ver alguém que ama se machucando dessa forma, um dos motivos pra querer ele morando comigo é poder passar mais tempo com ele e poder cuidar dele, mas se ele não permite já não vejo mais sentido nesse esforço, eu já tentei de tudo, Hal já falou com ele, sei que Ashton também, já convidamos ele pra sair, ou ir em um restaurante, ou até mesmo pra almoçarmos todos na casa do Cal, e ele sempre diz que está ocupado e precisa ensaiar. Eu já não sei mais se ele quer estar onde está, ele é teimoso e impulsivo, e talvez eu tenha passado do ponto, mas não aguento mais, e se ele prefere ir a ao menos ouvir o que tenho a dizer é porque isso realmente não daria certo.
Ele era exatamente assim quando o conheci, a diferença é que na época eu despertei seu interesse o suficiente pra o ocupar, será que ele ainda tem interesse em mim? Eu não sei, as vezes eu sinto que não, e agora que eu o amo tenho medo dele simplesmente me deixar.
Eu sei que as vezes deve ser um saco eu o lembrando de comer, e dormir, e que ele tem uma vida além de tudo isso, mas é preocupante, ele tem emagrecido e tem estado exausto, eu sei que ele sente dores, eu também sei que a cabeça dele está uma bagunça, mas essa definitivamente não é a melhor forma de lidar com as coisas.
Quando voltei pra casa já anoitecia, e eu tive medo de olhar pra cama e Luke não estar lá, mas ele estava, enrolado no cobertor abraçando um travesseiro, e eu só notei que o observava a um bom tempo quando soltei o ar em um suspiro pesado, confesso que aliviado por ele ainda estar aqui.
- Pensou que eu não estaria aqui. - Ele disse baixo ainda com os olhos fechados.
- Sim. - Eu disse me aproximando e sentando ao seu lado na cama, porém sem invadir seu espaço.
- Eu realmente pensei em sair, porque fui teimoso e levei isso como um ataque ao meu esforço. - Ele disse apontando pra uma mochila em cima do sofá. - Mas eu notei que seria ridículo da minha parte, e que eu não queria ir, porque esse é meu lar agora e você está certo, eu sinto muito. - Eu tirei os sapatos e deitei ao seu lado quando ele se afastou e ergueu o cobertor pra que eu me juntasse a ele, ele soltou o travesseiro e virou pra que agora me abraçasse, eu o abracei de volta e posso sentir como se meu coração fosse explodir. - Eu almocei e descansei o dia inteiro e também... bom, eu também liguei pra uma terapeuta, talvez eu esteja precisando.
- Só quero que fique bem.
- Obrigado por cuidar de mim mesmo quando eu ajo feito um idiota.
- Eu te amo, como eu poderia não cuidar de você?
- Eu também te amo.
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Beautiful Stranger ** MUKE
FanfictionMichael Clifford, um músico sem muito tempo vago em sua rotina agitada, que acaba por ter que encontrar tempo para um bailarino que simplesmente não gosta de ficar sozinho e precisa de sua constante companhia.