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Amanhã é o grande dia, a nossa estreia, e eu sinto que vou simplesmente explodir de ansiedade.

Nos últimos dias tenho notado Luke se preocupar mais com sua alimentação e seu sono, e eu fico realmente feliz com o esforço dele, porém espero que ele esteja fazendo isso também por se preocupar com seu bem estar e não só pela minha preocupação, eu só quero o ver bem, eu sei que a plena felicidade é só uma ilusão, e que todos temos momentos e dias tristes, que as vezes tudo parece só perder o sentido, as vezes até mesmo sem um motivo, mas quando esses momentos se tornam diários as coisas podem começar a sair do controle, era o que eu estava vendo acontecer completamente de mãos atadas sem poder fazer absolutamente nada.

- O que quer pro almoço? - Perguntei assim que sai do banheiro ainda secando meu cabelo, vendo Luke esticando o corpo ainda deitado na cama, pra logo em seguida se embrulhar em um amontoado de cobertores.

- Está frio hoje, o que acha de uma sopa?

- Me ajuda a fazer? - Perguntei sentando na beira da cama e puxando o cobertor que tampava seu rosto.

- Só se deixar eu ficar deitado por mais cinco minutos.

- Quantos minutos quiser.

- Mesmo se pedir pra deitar mais um pouco comigo? - Eu só deitei ao seu lado abrindo os braços pra que Luke pudesse se aconchegar contra meu corpo.

- Como se sente? Sabe, sobre amanhã.

- Confuso, muita coisa aconteceu nos últimos dias.

- Se quiser me falar e tentar colocar os pensamentos no lugar sou todo ouvidos. - Luke sempre foi tagarela, e eu aprendi a realmente gostar disso, eu gosto de o ouvir falar por vários minutos seguidos, longos monólogos que me fazem entender como sua mente funciona, eu gosto da forma como ele tenta explicar tudo de forma detalhada, como quem faz uma lista ou numera etapas.

- Eu só fui um babaca com você... cala a boca não me interrompe. - Ele disse assim que ameacei abrir a boca pra dizer que estava tudo bem e que já tínhamos resolvido isso. - ...Eu fiquei com muita raiva quando você foi embora, muita mesmo, porque eu pensei que além de não reconhecer meu esforço ainda me deixou sozinho, e eu sou um idiota porque eu chorava de medo de te perder enquanto enchia uma mochila de roupa pra ir embora, mas nem passava pela minha cabeça assumir que você estava certo, mas aí eu pensei que precisava de alguém, alguém pra me acolher, e definitivamente esse alguém não precisava ser você, eu podia ligar pra qualquer um dos meus amigos, mas você era minha primeira opção, não precisava mas eu queria que fosse você, e você não estava aqui, e eu notei a merda que estava fazendo, cacete como eu viveria sem você? Eu sabia que não me deixaria assim, mas eu estava prestes a ir embora, deixar pra trás a melhor coisa que me aconteceu ou no mínimo colocar nossa relação em um lugar muito difícil e delicado, só porque eu não queria assumir que você estava certo e que... bom, eu sei que desconfia de algumas coisas, e você está certo, sobre tudo. - Isso esmigalha meu coração em milhares de pedacinhos, saber que Luke se sente tão profundamente mal consigo mesmo ao ponto de levar seu corpo além do limite.

- E você quer falar sobre isso? - Eu sei que todo e qualquer assunto que envolve os sentimentos são difíceis e tendem a ser invasivos, e bom, eu realmente não quero o forçar a tocar em um assunto que o machuca.

- Não exatamente, quer dizer, eu sei que tenho problemas alimentares há alguns anos, eu tenho consciência disso, mas só é... doloroso dizer em voz alta, então é, acho que não, que não quero falar sobre isso.

- Tudo bem, isso não é um problema, pode dizer tudo que se sinta confortável.

- Eu posso te perguntar uma coisa boba?

- É claro que pode. - Lhe garanti tentando alcançar seus cachos.

- Você me amaria mesmo se, não sei, talvez minha aparência mudasse de alguma forma?

- Definitivamente sim, e se em algum momento duvidar disso ou se sentir inseguro sobre isso é só me perguntar, que repito quantas vezes quiser.

- Mesmo se... não sei, se eu decidir cortar o cabelo, ou deixar a barba crescer, ou talvez, não sei, engordar um pouco?

- Luke você pode decidir pintar seu corpo todo de azul e dizer que é uma avatar e eu vou continuar te amando.

- Talvez eu faça isso. - Eu o olhei e ele sorria, é bom o ver sorrir.

- Realmente deveria fazer isso, vai combinar com seus olhos.

- Você é um idiota.

- Tenho certeza que sim.

- Posso fazer mais uma pergunta?

- Pode, tagarela.

- Quando reparou em mim?

- Como assim?

- Na minha aparência.

- Não sei, depende no sentido que está falando, se for no sentido de como reparamos em pessoas bonitas por aí e constatamos que elas são bonita, desde quando te vi se apresentar pela primeira, inegavelmente atraente e você poderia ser a pior pessoa do mundo e eu ainda assim não poderia negar que a primeira vista sua aparência era atraente, mesmo que eu não tenha reparado muito. Mas se quer dizer sobre quando eu notei que estava apaixonado e cada detalhe passou a ser importante, desde quando transamos pela primeira vez e você decidiu que gosta de andar nu pelo meu apartamento, e aí eu vi que não é só atraente, você é a pessoa mais bonita que já tive o privilégio de poder observar.

- São os olhos azuis ou o cabelo mais longo?

- Acho que com certeza a bunda apertada nas calças que usa pra dançar. - Luke riu de forma escandalosa e eu o apertei mais no abraço. - Se quer saber também da pra ver o pa...

- Eu já entendi. - Luke me interrompeu com os olhos esbugalhados, eu também gosto da forma que ele parece inabalável e vulnerável ao mesmo tempo. - Você é um pervertido.

- Do jeito que você gosta.

- Do jeito que eu gosto.



_______xXx_______

O próximo é o último, e vamos de lágrimas.

Beautiful Stranger ** MUKEOnde histórias criam vida. Descubra agora