10

224 31 20
                                    

O almoço na casa de Calum foi... agradável, com uma descoberta engraçada. Quando Luke chegou descobrimos que na verdade o vizinho barulhento de Calum é Ashton Irwin, claro, isso só depois de Calum passar dez minutos falando pra nós três como seu novo vizinho é detestável e sem educação, a sua cara quando Luke disse que era seu amigo de infância foi simplesmente impagável, Calum pediu um milhão de desculpas enquanto Luke só ria e confirmava que o amigo realmente era um pouco sem noção. Eu claro já sabia disso, quando passei o endereço pra Luke ele me disse que Ashton morava ao lado, mas não sou eu quem vou acabar com o entretenimento e acabar com a surpresa.

Calum quem cozinhou, Ashley tagarelava sem parar como sempre, Luke estava mais quieto que o normal porque na realidade ele também é um ótimo tagarela, mas Calum sempre tentava o incluir nas conversas e eu sinceramente acho isso fofo, eu passei a maior parte do tempo só observando tudo o que acontecia, não sou a pessoa mais falante do mundo, Ashley fala o suficiente por mim e por ela.

Não ficamos por muito mais tempo depois do almoço, tudo bem que é a folga do Cal, mas ele precisa descansar e colocar em dia seu sono, por mais que tenha um novo vizinho barulhento que realmente fez barulho durante toda a tarde, moveis arrastando de um lado pro outro, logo depois o som do violino por horas seguidas. Luke prometeu que falaria com Ashton e pediria pra ele maneirar no barulho, Calum quase derreteu de vergonha e pediu desculpa pelos comentários mais uma vez. Ashley olhou de forma sugestiva quando aceitei a carona de Luke, isso ainda me irrita um pouco, a forma como ela insiste em ver as coisas por mais que eu tente explicar que não são como ela pensa, eu preciso conversar com ela depois, porque não quero me chatear com a minha melhor amiga por algo bobo.

Luke ainda estava silencioso no caminho até minha casa, quero dizer, ainda mais silencioso do que tem sido nas ultimas semanas, porque ele costuma ao menos sempre estar sorrindo e na realidade hoje ele parece estar só... triste.

- Entregue. - Ele disse parando em frente ao meu prédio.

- Você está bem? - Ele soltou um longo suspiro, evitando me olhar. Talvez eu não devesse ter perguntado e ter só ficado quieto, talvez dito um fica bem e ter saído do carro.

- Eu não sei.

- Quer conversar? - Lágrimas silenciosas começaram a escorrer por sua bochecha e eu sei que em muitos momentos durante nosso almoço ele tentou as segurar.

- Eu tenho tentado trabalhar em um novo projeto, e isso está me esgotando porque eu não consigo sair do lugar, eu nem sei exatamente no que estou trabalhando porque tudo está uma bagunça e... e sempre que venho aqui e passo um tempo com você, você é tão talentoso e faz as coisas com tanta naturalidade. Eu acho que te invejo um pouco, pelo seu talento, pelos seus amigos, vocês estão sempre em sintonia e sempre podem contar um com o outro, você tem o que eu nunca cheguei nem perto de ter. E se eu estiver fazendo as coisas da forma errada?

- Você não tem porque não se permite ter, Ashley e Calum gostam de você, verdadeiramente, se preocupam com você, e você é talentoso, mas o problema é que se cobra demais, você não vai alcançar a perfeição de primeira, então só não deixe de tentar, você parece não entender que tudo tem seu próprio tempo Luke. Você se afasta a partir do momento que acha que não é bom o suficiente, eu notei isso, Ash já me disse que tem estado distante ultimamente e ela sente sua falta e está preocupada com você, então quem tem que decidir se sua presença é boa o suficiente ou não, não é você, são as pessoas a sua volta.

- Você pode me ajudar?

- Com o quê?

- Meu projeto. Confio na sua intuição.

- Tudo bem, mas descansa hoje, você parece estar exausto, outro dia pensamos nisso. - Ele secou as lagrimas que ainda escorriam pelo seu rosto, finalmente direcionando o olhar pra mim.

- Obrigado por conversar comigo.

- Sempre que precisar.

- Nós somos amigos? - Está ai uma pergunta que eu estava com medo e tenho pensado muito ultimamente.

- Eu não sei, Luke.

- Mas podemos ser?

- Talvez. - É difícil, eu não sei como poderíamos nos tornar amigos, Luke é escorregadio, e imprevisível, e esse definitivamente não é meu tipo de relação, talvez essa convivência de certo por isso, porque ele não é meu amigo, então tecnicamente não temos nenhum compromisso um com o outro, eu sempre precisei de constâncias.

- E se talvez eu quiser mais? - Ok por essa eu realmente não estava esperando, não mesmo. - Não que eu goste de você dessa forma, mas e se eu passar a gostar?

- Luke...

- Você sabe que da primeira vez eu estava tentando flertar com você.

- Eu sei, mas é complicado, você não acha que precisa lidar com essas coisas antes de pensar nessa possibilidade? - Se eu não posso lidar com essa situação sendo só uma amizade, quem dirá sendo mais que isso.

- Eu acho, porque não é sua obrigação lidar com alguém inconstante, mas eu só quero saber se existe a possibilidade, ou pode passar a existir.

- Sim, pode existir. - Considerando que sou bissexual, é claro que a possibilidade pode existir, ele é um cara atraente, mas existe um abismo entre o momento atual e a possibilidade, muita coisa ainda tem que mudar.

- Bom, é bom saber.

- Vai querer subir?

- Hoje não, vou pra casa e só dormir um pouco, seguir seu conselho e descansar.

- Se precisar de alguma coisa é só me ligar. - Ele sorriu encostando a cabeça no banco.

- Obrigado, eu sei que não faria mas se precisar também é só me ligar, estou sempre a disposição. - Isso me fez pensar por um instante, eu nunca sequer pensei na possibilidade de querer a companhia dele e ligar pra que ele viesse me ver, isso quer dizer que não me importo ou que já nos vemos demais?

- Obrigado pela carona. - Eu disse saindo do carro, sem esperar que ele respondesse.

Nesse momento só preciso deitar na minha cama e pensar sobre algumas coisas.

Beautiful Stranger ** MUKEOnde histórias criam vida. Descubra agora