I - Uma Promessa

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Me demoro mais do que deveria debaixo do chuveiro mas é impossível não querer aproveitar um pouquinho a mais da água fresca correndo pelo meu corpo, lavando o suor. É uma pena que ela não possa levar embora minhas dores junto com a sujeira. Giro o registro na parede e a água que deixa de cair faz falta imediatamente, está quente lá fora. Me visto rápido; a mesma calça escura e a mesma camisa branca de sempre. Fecho os botões e pego sobre a pilha de roupas que meu uniforme havia virado, o pedaço de barbante que começava a ficar gasto que eu sempre deixava em volta do meu pescoço como um colar, tendo como seu pingente o anel que Isabella havia me dado no dia em que morreu.

Ainda é a coisa mais linda que eu já havia vi. Uma peça delicada, feita para alguém de dedos bastante finos, dourada com ramos gravados na parte externa e uma pequena esmeralda trincada no topo. Faltava-lhe um pedaço mas mesmo aquilo não tirava sua beleza, provavelmente havia se quebrado naquele maldito dia. O aperto em minhas mãos e coloco para dentro da camisa. Junto todas as minhas coisas e após uma passada rápida no quarto, estou a caminho do refeitório.

Aquele lugar era uma bagunça às vezes. Pessoas falando alto, ás vezes discutindo e ás vezes jogando coisas uns nos outros. Neste momento, a situação não está diferente. Já com um prato e talheres em mãos, me dirijo até a mesa onde geralmente me sento com Sasha e Connie. Ambos já estão comendo suas refeições e assistindo à briga que se desenrola na mesa ao lado.

— O que foi dessa vez? — Pergunto ao me sentar de frente para os dois, que se movem para os lados para enxergar os dois garotos discutindo atrás de mim.

— O de sempre. — Sasha responde, tomando um gole de água em seguida. — Jean e Eren estão discutindo.

— Parecem duas crianças. — Balanço a cabeça e começo a comer. É um tipo de mingau o qual eu não sei distinguir o gosto. Sabor não é a prioridade das nossas refeições e não poderia ser na situação em que nos encontramos, com tanta escassez de comida. O que realmente importa é se são calóricas o suficiente para que não desmaiássemos no meio dos treinos. — Algum dia ainda vão se ferrar com isso.

Digo a última parte em voz alta por cima dos ombros e Sasha me olha com um olhar breve e repreensivo. Dou de ombros para ela e escuto a voz de Yeager atrás de mim:

— Cale a boca, Stella!

Respiro fundo e me viro para ele. Está em pé ao lado de Mikasa e Armin. Do outro lado da mesa, Jean está sentado e me encara também.

— Eu adoraria calar a boca e terminar de comer se ao menos eu pudesse ter um pouco de sossego enquanto faço isso. — Respondo a Eren, que cerra os punhos e os bate contra a mesa.

— Vai ter sossego o suficiente na polícia, dentro das muralhas enquanto nós morremos do lado de fora para lutar por pessoas covardes como você! — O garoto joga as palavras quase gritadas em minha direção e me levanto, contornando a mesa e caminhando até ele. A maioria dos outros cadetes assiste a tudo agora em silêncio, apenas alguns burburinhos percorrem o refeitório.

— Escute, Yeager. Todos nós temos motivos suficientes para estar aqui sem dever satisfações uns aos outros. Se você quer montar em seu cavalo e sair por aí matando titãs, bom para você. — O seguro pelo colarinho e o puxo para baixo em minha direção. — Mas não enche a porra do meu saco.

Praticamente rosno a última frase e o solto. Eren ajeita a camisa enquanto resmunga, antes de voltar a me chamar de covarde. Fecho os olhos por um instante antes de cerrar meu punho e erguê-lo para acertar o garoto com toda a força que conseguir. Me viro para ele na intenção de o acertar mas meu punho fechado encontra com algo que definitivamente não é o rosto de Eren.

Olho para o chão a tempo de ver um Reiner um pouco retorcido, com as mãos sobre o estômago. Me sinto culpada por alguns instantes, mas estava irritada demais para me dar ao trabalho de pedir desculpas naquele momento. Ergo meus olhos novamente para Eren, que me encara indignado. O pequeno desentendimento já era a atração principal do refeitório e o burburinho enchia cada vez mais o salão.

The Fallen Warrior | Reiner Braun (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora