XIV - Eu Amo Você

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A mulher tem o rosto retorcido pela própria preocupação. Aperta minhas mãos entre as suas e as beija repetidas vezes. Por que Isabella está aqui comigo? Estou sonhando? Sinto seu cheiro de lavanda assim como sempre exalou e sua respiração sobre a minha pele. Mas que droga, estou na muralha Rose em um antigo quartel com o restante de meus colegas. Por cima do ombro de Isabella consigo ver Sasha adormecida em sua cama.

–– Isabella? O que...

–– Me escute, Estrelinha. –– Ela segura meu rosto entre as mãos e fecho os olhos diante dos olhos, para abri-los novamente diante das orbes castanhas que me encaram de volta. –– Você corre perigo.

–– Todos os dias, Isa. –– Sorrio melancólica para ela. –– Estou na Tropa de Exploração.

–– Eu sei, e estou tão orgulhosa. –– Isabella funga e seca novamente as lágrimas. –– Mas o perigo está onde você menos espera. Prometa que irá tomar cuidado.

Abro a boca pra dizer que prometo, mas sua imagem começa a sumir, gradativa como fumaça.

–– Isabella! –– Me sento sobre a cama, gritando. Minha respiração está ofegante e passo os olhos pelo quarto escuro a procurando. –– Ah, merda.

–– Stella? –– Escuto Sasha me chamando, a voz grogue de sono vacila. –– Está bem?

–– Estou, volte a dormir. –– Respondo e ela resmunga em resposta.

Sinto a garganta arranhar um pouco e jogo os pés para fora da cama tocando o chão frio decidindo ir em busca de um pouco de água. Ainda estou ofegante, sinto meu coração ameaçando saltar para fora de meu peito e alcanço a porta em passos cambaleantes, a fechando atrás de mim em seguida. A corrente de vento que passa pelo corredor balança meu cabelo para longe do rosto e, de súbito, vem ás minhas narinas o cheiro tão familiar que havia marcado os melhores dias da minha infância.

–– Lavanda.

Sussurro aquilo enquanto continuo meu caminho até a cozinha, franzindo o cenho e quase que a passos cegos. As lamparinas presas nas paredes passam pelos meus olhos como borrões à medida que eu avanço, minha cabeça parece girar e eu não faço ideia do que havia acontecido. Havia sido apenas um sonho? Isabella dizia que o perigo viria de onde eu menos esperasse e embora eu quisesse acreditar que aquilo detinha algum significado, me convenço de que era apenas minha cabeça processando as últimas notícias.

Já fazem alguns dias que estamos isolados dos outros cadetes nesse velho quartel mas eu insisto em bater o joelho sempre na mesma cadeira á porta da cozinha. Resmungo pela dor e caminho até o balcão de madeira, alcançando o cantil que descansa ao lado das batatas, empilhadas cuidadosamente em um recipiente grande de barro. Sinto minha sanidade voltar aos poucos à medida que o líquido fresco desce pela minha garganta. Guardo o cantil novamente e me viro para voltar ao quarto, mas me deparo com Reiner escorado no batente da porta.

–– Reiner?

–– Não quis te assustar, por isso fiquei quieto. –– Ele diz, em seguida franze o cenho, parecendo preocupado. –– Stella, está tudo bem?

Eu não o respondo, apenas caminho até ele em passos rápidos e passo meus braços em volta de sua cintura, sentindo o nó em minha garganta ficar ainda maior. Reiner me abraça e uma de suas mãos vai até meu cabelo e seus dedos deixam ali um afago gentil. Soluço contra seu peito sentindo meu coração ficar cada vez mais apertado.

–– Me desculpe. Eu sonhei com Isabella e... Droga. –– Digo me afastando e limpando as lágrimas com as costas das mãos entre soluços. –– Eu só... Sinto falta dela.

The Fallen Warrior | Reiner Braun (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora