XVIII - O Titã Blindado

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–– Stella, anda!

–– Se ela não acordar a carreguem, mas precisamos ir logo!

As vozes pairam ao meu redor de forma quase etérea enquanto abro os olhos com dificuldade, saindo aos poucos da escuridão e franzindo o cenho diante da claridade. Encaro o céu nublado, logo o rosto de Jean entra em meu campo de visão e logo em seguida, o de Armin. Por que eles estavam me encarando daquela forma esquisita? Me sento devagar e ambos me observam como se eu pudesse explodir a qualquer momento.

Recobro aos poucos minha consciência. Estamos no topo da Muralha Rose e pelo que percebo ao meu redor, o reconhecimento está se retirando. Caminham em grupo deixando poucos de nós para trás. Estamos os três aqui e alguns metros adiante, Mikasa estava parada encarando os três garotos ainda mais a frente. Mesmo distante consigo os reconhecer: Eren, Bertholdt e Reiner.

Reiner.

Como que se me lembrasse das palavras de Armin e Jean em apenas um segundo, me coloco de pé, cambaleando um pouco mas logo recobrando o equilíbrio.

–– Eu preciso...

–– Stella, aqui e agora não. –– Jean me repreende. –– Hange disse que não devíamos...

–– Eu preciso ouvir dele. –– Digo o encarando e ele ergue as mãos, dando um passo para trás.

Giro nos calcanhares e começo a caminhar na direção dos garotos, sentindo o vento contra mim jogar meu cabelo para trás. Tenho em minhas entranhas uma sensação estranha, me recuso a acreditar no que acabei de ouvir mas fazia tanto sentido que era difícil até mesmo sentir dúvida. Reiner nunca falava muito sobre suas origens, se referia ao lugar de onde veio apenas como "casa", mas ele e Bertholdt nunca ao menos nos deram um nome. Sempre que eu falava de Isabella ele parecia se esquivar, engolia a seco e olhava para o chão, distante. Me lembro de ter dito a ele que ela havia morrido por causa do Titã Blindado.

Sinto meu estômago revirar a medida que me aproximo. Posso ouvir a voz alterada de Reiner e então outro sentimento se apodera de mim: o medo. O que aconteceria se fosse verdade? Eles fugiriam, matariam a todos nós? O Reconhecimento conseguiria os vencer? Em todas as opções, eu me via destruída por dentro e separada de Reiner, que era o culpado de tudo o que deu errado na minha vida. Em pensar que eu havia dito que o amava.

Que havia me entregue a ele.

Que me sentia protegida por ele.

Meu estômago revira outra vez. Não, Stella. Isso não pode ser verdade, é o Reiner.

–– Espere. –– Ouço a voz firme de Mikasa e paro ao lado da garota, que está a poucos metros dos outros. O cabelo negro lhe cobre o rosto, mas mesmo assim posso ver seu olhar vidrado na cena que se desenrola ali.

Meu olhar vai até suas mãos, presas ao cabo de suas lâminas, pronta para as usar a qualquer momento. O que eu havia perdido?

–– Se afaste, Stella. –– Ela diz, dessa vez virando o rosto em minha direção. –– Agora não.

–– Então todos já sabem? –– Pergunto, sendo respondida pelo olhar surpreso seguido por um aceno de cabeça de Mikasa. Arfo outra vez, sem ter a menor ideia de como deveria me sentir. Ainda preciso ouvir a verdade de Reiner, o encarar nos olhos e lhe pedir para não dizer que matou todas aquelas pessoas e nos enganou por todo esse tempo.

Olho na direção dele e o que vejo faz o chão se abrir ao redor de meus pés e meu estômago despencar. Arregalo os olhos e sinto calafrios viajarem por todo o meu corpo quando Reiner retira o pedaço de tecido que apoia seu braço ferido do pescoço e o atira para longe, a nuvem de vapor envolvendo com sutileza sua pele ainda ferida a medida que ele rasga o curativo improvisado que eu havia lhe feito e se desfaz dele em um gesto curto. Pude ver o machucado profundo em sua pele desaparecer, se curando instantaneamente.

The Fallen Warrior | Reiner Braun (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora