XXXIX

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Zeke se mantém em silêncio a alguns minutos, apenas me encarando por cima dos óculos, os cotovelos apoiados na mesa. Também me mantenho em silêncio, com os braços cruzados na cadeira em frente a sua mesa o observando atentamente enquanto me esforço para mascarar minha ansiedade. O que ele faria? Iria me matar ali mesmo ou me mandar de volta para a prisão? Os pensamentos são interrompidos pela voz dele, que finalmente decidiu falar:

- O que estava fazendo aqui?

- Pensei que fosse mais esperto, Zeke. - Reviro os olhos. - Você sabe o que eu estava fazendo aqui.

- Ah, claro. - Ele solta uma risada anasalada e toma um gole de chá. Minha xícara ainda estava intocada sobre a mesa. - Bem, você ouviu a minha conversa com Reiner, sabe do que preciso. Agora você escolhe se vai colaborar comigo ou não.

- Por mais que eu saiba o quanto você quer me matar, eu não sei onde Eren está. - Digo. - Falo sério, não o via já a meses quando parti para cá. Das últimas vezes em que falei com ele o Yeager estava... Diferente.

Zeke se inclina mais sobre a mesa, parecendo interessado de súbito. Ignoro sua reação e continuo:

- Até mesmo seus amigos mais próximos admitiram que ele estava estranho. Eren sempre insistiu em suas ideias de conseguir liberdade para a humanidade e de certa forma, concordo com ele. - Respiro fundo. - Mas ele começou a defender isso a qualquer preço. Inclusive as vidas de todos.

- E é por isso que preciso dele! - Zeke exclama. - Ele não é o único a pensar sobre isso.

- Do que está falando?

- Eu tenho um plano... Um plano que salvaria todo o mundo. - Ele diz.

Descruzo os braços e me inclino para frente, colocando as mãos sobre a mesa. Por que alguém como Zeke se importaria em salvar o mundo? A ideia me parece absurda, afinal, aquele era o homem que havia matado mais companheiros meus do que eu podia contar, o monstro que havia matado Erwin Smith e que teria me matado se eu não tivesse tanta sorte para escapar dele. Zeke Yeager não era nem de longe o homem que salvaria o mundo.

- E como você pretende fazer isso? - Pergunto o encarando os olhos.

- O Titã Fundador.

Imaginei muitas respostas para a minha pergunta, menos aquela. Me recosto novamente na cadeira voltando a cruzar os braços e Zeke continua:

- Sabe, o Titã Fundador tem muitos outros poderes além dos que vocês devem conhecer. - Ele puxa um cigarro do bolso interno do casaco e o acende logo em seguida. - Meu plano consiste em usar os poderes do Titã Fundador para fazer com que nós, Eldianos, desaparecêssemos.

- O quê? - Não deixo de conter meu espanto. - Mas... Você também é Eldiano.

- Eu sei. Sei também que enquanto estivermos aqui, seremos sempre uma ameaça para o resto do mundo. Sempre existirá a guerra e o sofrimento. - Ele suspira, a fumaça do cigarro dançando em frente ao seu rosto. - Eu sugiro um... Plano de eutanásia. Tornar todos inférteis e talvez em cem anos, termos desaparecido para sempre.

- Por que está me contando isso? - Pergunto, apreensiva. Aquilo parece confidencial e se Zeke está contando a mim, significa que ele confia nas minhas intenções ou me mataria em seguida. A primeira opção parece bastante improvável.

- Porque talvez entendendo meu plano, resolva me ajudar. Digo, de verdade. - Ele ri. - Você ouviu minha conversa com Reiner, não preciso dizer muito. Vou lhe dar algum tempo para considerar a ideia. Você pode ir, se quiser.

Zeke faz um gesto com as mãos indicando a porta e me levanto devagar, tentando não correr em direção à porta. Sinto minha respiração voltar ao normal assim que saio do cômodo e fecho os olhos, apoiando a cabeça sobre a madeira, sem saber ao menos por onde começar a processar aquilo. Zeke queria salvar o mundo o livrando dos Eldianos. Me parece impossível que ele não perceba que o problema não somos apenas nós.

The Fallen Warrior | Reiner Braun (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora