XXXVII

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Abro os olhos devagar, erguendo as mãos até a altura do rosto para impedir que os raios de sol chegassem até meus olhos. Não deveria ser mais do que sete da manhã e os sons que Reiner faz me tiraram do sono agitado, ele está de pé ao lado da cama, terminando de jogar o casaco sobre os ombros e ajeitando a braçadeira vermelha que usava. Eu tinha uma amarela, mas odeio aquele tipo de segregação entre as pessoas.

- Desculpe, não quis te acordar. - Ele diz, se sentando na cama assim como eu. Enquanto esfrego os olhos ele deixa um beijo rápido em meu rosto. - Como se sente?

- Estou melhor, dormir bem me ajudou bastante. - Sorri fraco para ele, que retribui. Coloca uma mão sobre a minha e tenho certeza que ele sabe que falo da sua presença ali. - E você?

- Muito melhor do que estive nos últimos anos. - Reiner responde.

Respiro fundo e afasto os cobertores, o choque térmico fazia com que eu despertasse um pouco. Joguei as pernas para fora da cama e me espreguiço por alguns instantes. De soslaio percebo Reiner desviar o olhar das minhas pernas. Mesmo depois de três dias, ainda estavam marcadas com hematomas amarelados e esverdeados que começavam a sumir, mas mesmo assim ele deixa claro o quanto aquilo o incomoda. Me levanto e ele faz o mesmo, se aproximando de mim.

- Eu preciso da sua ajuda hoje. - Falo, erguendo o rosto para o encarar melhor. - Preciso que fale com Jean. Eu sei que você é ocupado e que isso é arriscado, mas...

- Eu vou. - Ele me interrompe. - Só me diga onde devo o encontrar e o que devo dizer.

Não consigo evitar o sorriso.

- Diga a ele que estou bem, apenas isso. - Respondo. - Provavelmente vai o encontrar nas proximidades do porto, ele deve estar com a família do pescador que nos trouxe, Pete. Ele é de confiança, apesar das circunstâncias.

- Certo. - Reiner assente, como se fizesse uma nota mental. - E o que a senhorita vai fazer hoje?

- Vou dar uma volta. Tentar descobrir alguma coisa interessante. - Digo.

- Zeke não vai gostar de você andando por aí, Stella. - Reiner suspira, preocupado. - Acho melhor descansar mais alguns dias.

- Zeke não gosta de mim independente do que eu estiver fazendo. - Reviro os olhos. - E eu não quero mais ficar nesse quarto, senão vou enlouquecer.

Aquilo é verdade, não aguentava mais ficar enfiada naquele cubículo, por mais que a companhia de Reiner sempre que ele podia e durante todas as noites desde que havia me instalado ali fosse boa, precisava sair e tentar ser útil de alguma forma. Sentia minha força voltando ao normal e as dores pelo corpo eram cada vez menos recorrentes a não ser pelo frio. Me sinto pronta, além de que estou preocupada com Jean.

- Só tome cuidado, por favor. - Reiner pede.

- Eu vou, não se preocupe. - O respondo. Ele suspira e deixa um beijo rápido no topo da minha cabeça, saindo do quarto logo em seguida.

Respiro fundo e me obrigo a arrumar a cama, deixando o lençol esticado e os cobertores bem dobrados. Caminho até o banheiro e tomo um banho o mais rápido que posso, afinal, a água daquele chuveiro definitivamente não esquentava o suficiente para o frio que fazia naquele lugar. Não me demoro em me vestir com o mesmo uniforme claro dos outros, a camisa amarela desbotada e as calças escuras que eu precisava dobrar nas pernas para que me servissem bem. Afivelo os cintos e volto para o banheiro, passando a escova rápido pelos fios escuros que insistiam em ficar arrepiados para todos os lados e dou uma última encarada no espelho antes de sair.

Caminho até o armário, tirando de lá minha mala, que havia sido tão cuidadosamente levada até meu quarto que começava a rasgar em algumas partes. Retiro os poucos pertences que ainda estavam ali e tateio o fundo sólido da mala, que também era falso. O objeto que eu buscava brilha diante dos meus olhos como se fosse algo muito precioso e o tomo em mãos, voltando para frente do espelho. Parecia muito mais comigo mesma agora, com a pedraria esverdeada bem presa ao redor da gola dobrada da camisa. O prêmio que havia sido nos dado por sobreviver à retomada da muralha Maria.

The Fallen Warrior | Reiner Braun (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora