XXIX

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- Vá para o inferno, Sasha! - Reclamo quando ela passa por mim, tomando o pedaço de pão das minhas mãos.

- Isso foi por deixar eles me amarrarem ontem. - Ela resmunga, correndo em direção aos elevadores que subiam a muralha com os cavalos.

Resmungo irritada e espero pelo próximo, sentindo o sol agradável da manhã bater contra meu rosto, escutando atrás de nós as pessoas animadas que haviam vindo para se despedir do Reconhecimento antes de sairmos. Aquilo era inédito, afinal, geralmente eles não nos viam como muito mais do que um desperdício de dinheiro e espaço.

- Bom dia, Muller. - A voz do Comandante atrás de mim faz com que eu me vire para ele, erguendo o punho direito até o peito imediatamente.

- Bom dia, Co-comandante. - Gaguejo, lembrando imediatamente do dia no quartel. Erwin havia mentido sobre sermos amantes para salvar minha pele, mas ainda me sentia envergonhada em sua presença, o motivo de eu ter o evitado por dias.

- Ainda não tive oportunidade de me desculpar por tê-la constrangido aquele dia, eu sinto muito. - Ele diz devagar.

- Não tem problema, senhor. - Respondo rápido, sentindo as bochechas queimarem. É óbvio que não tenho sentimentos pelo Comandante, mas a admiração que sempre tive por aquele homem fazia com que eu me comportasse feito uma garotinha ao lado dele. - Eu que deveria agradecer.

- Hange me contou o que aconteceu depois... Fico aliviado que nada de mais grave tenha acontecido. - Erwin diz. - Mas, alguns amigos dela descobriram o que ele vinha fazendo e ouvi dizer que o sujeito teve uma morte misteriosa.

- É muito bom saber disso, Comandante. - Sorrio para ele, que retribui o gesto. Lhe cumprimento outra vez e subo no elevador que havia acabado de descer, puxando o cavalo malhado comigo. O pelo do animal reluzia em tons de castanho claro e escuro. Era dócil e bastante leal, assim como Carlos.

A medida que o elevador sobe em direção ao topo da muralha, vejo cada vez mais pessoas que nos gritavam palavras de incentivo e vibravam, nos tratando como verdadeiros heróis. Por um instante, imagino todos eles podendo voltar para suas casas, cultivar mais terras e desafogar as cidades da muralha Rose. De súbito, todo o confronto interno que sofro acerca de Reiner se torna quase insignificante diante da oportunidade de ajudar aquelas pessoas.

Cavalgamos por horas a fio e entre paradas por imprevistos e para descanso, chegamos a Shiganshina na manhã seguinte. Depois de Eren Selar os buracos nos portões, começamos nossa busca por inimigos sem sucesso algum até que Armin sugere que busquemos vãos dentro das muralhas onde eles pudessem estar escondidos. Bato com sutileza o cabo da lâmina sobre a superfície, suspensa pelo cabo do dispositivo de locomoção. Não há nada ali.

Desço mais alguns metros e bato contra a muralha novamente, sentindo meu coração disparar assim que um som oco foi produzido pelas batidas. Havia de fato um vão ali.

- Comandante, aqui! - Um dos veteranos do esquadrão de Hange grita ao meu lado ao ouvir o som novamente.

Não há tempo para reagir quando uma parte da muralha é empurrada para o lado como uma porta, revelando olhos âmbar de Reiner saindo do escuro, o rosto assustado ao me ver. Olho para baixo, vendo sua lâmina a centímetros do meu peito. Estava imóvel o encarando e sendo encarada de volta. Tenho a impressão de ver seus olhos marejados antes de Reiner me empurrar para o lado e sair de seu esconderijo. Posso ouvir o estalo dos ganchos do DMT se desprenderem da muralha e sinto o braço de Reiner ao redor da minha cintura. Que merda ele estava fazendo?

Tento me desvencilhar dele sem obter sucesso, até que um chiado logo atrás de nós se faz audível e ele para com os pés apoiado sobre a muralha e olha para cima. A velocidade com a qual Levi descia em nossa direção era absurda.

The Fallen Warrior | Reiner Braun (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora