Epílogo

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A garota caminha apressada pelas ruas movimentadas de Berlim àquela hora do dia, tentando não esbarrar pelas pessoas que passavam por elas, atarantadas com seus próprios afazeres. Stella pragueja quando sente o celular vibrando no bolso da calça, talvez pela terceira vez nas últimas duas horas. Levou a pasta que carregava até a mão livre e atendeu a ligação, resmungando um "alô" logo em seguida.

- Onde você está? - A voz furiosa do outro lado da linha faz com que ela se encolha um pouco. Sasha estava mil vezes mais agitada que o normal naquelas semanas.

- Estou chegando, não brigue comigo. - A garota responde para a amiga. - Não tenho culpa se Berlim é tão confusa, me perdi umas duas vezes.

- Só.. Chegue logo, não posso provar meu vestido de noiva sem você aqui. - A outra diz, suspirando em seguida.

- Não se preocupe, Sasha. - Stella ri. - Me dê mais alguns minutos.

A amiga encerra a ligação e Stella mantém o aparelho em mãos, checando algumas mensagens que haviam chego durante a viagem de Londres até ali, na qual ela aproveitou para dormir um pouco, tendo o mesmo pesadelo mais uma vez. Desde sempre Stella sonhava com a mesma coisa, a mesma cena, o mesmo rosto.

- Você só precisa aguentar mais um pouco. - O homem dizia, aos prantos. Implorava para que eu ficasse.

Eu lhe digo que sempre estarei com ele, toco seu peito e sinto aos poucos todo o meu corpo relaxar e gradativamente pareço adormecer, deixando de sentir o ambiente ao meu redor e caindo como em um abismo sem fim, chamando por um nome que não consigo ouvir qual é. Mas afinal, quem era aquele homem? O rosto que estava gravado em meu subconsciente de tal forma que me fazia sonhar com ele quase todos os dias.

Stella digitava uma resposta para sua mãe, garantindo a ela que está bem. O movimento continua intenso pela avenida e ela volta a guardar o celular no bolso, sendo empurrada logo após por um homem de meia idade baixinho que passa por ela, murmurando um pedido de desculpas mal humorado logo em seguida. Stella revirou os olhos prestes a praguejar contra o mau humor dos alemães, até perceber que o homem tem traços asiáticos.

Deu de ombros e se virou para continuar andando, mas foi interrompida por alguém entrando em sua frente. Já era tarde demais para desviar das costas largas e o rosto da garota foi espremido entre elas, fazendo com que o homem se virasse para trás, curioso para saber o que havia o atingido.

Reiner Braun esperava encontrar qualquer criatura distraída ali pronta para soltar um pedido de desculpas e seguir seu caminho, mas de forma alguma imaginou que encontraria ela. A mulher que ele vira morrer em seus braços tantas vezes em pesadelos que sempre acabavam com um Reiner agitado, acordado de madrugada e incapaz de dormir novamente. Ele sente o ar fugir de seus pulmões e ela o encara assustada, gaguejando um pedido de desculpas. Stella está tão incrédula quanto Reiner.

- Me desculpe, eu não o vi, eu...

- Está tudo bem. - Ele a interrompe. - Não precisa se desculpar, senhorita...

Ele faz uma pausa, sugerindo que a garota se apresente. De súbito, quando ela diz a ele seu nome é como se todas as pessoas que passavam por eles na calçada tivessem desaparecido.

- Stella Muller. - Ela sorri e estica a mão para que ele a aperte. - É um prazer conhecer o senhor...

Ela o imita e o loiro deixa um sorriso ladino escapar.

- Braun. - Ele retribui o aperto de mão, sentindo passar por ele algo tão parecido com uma corrente elétrica que o assustou por um instante. Por fim, encarou a garota nos olhos. - Meu nome é Reiner Braun.

Stella sorri novamente, ainda abismada em tê-lo encontrado ali. Ela permanece imóvel sob as orbes âmbar que a fitavam com atenção e curiosidade e recebiam o mesmo olhar da garota, que só então percebeu que eles ainda seguravam as mãos um do outro.

- Você é tão familiar. - Eles dizem em uníssono e riem baixo, desconcertados. Então Reiner continuou., apontando para a cafeteria logo em seguida. - Você... Quer tomar alguma coisa?

- Eu adoraria, senhor Braun. Mas tenho um lugar para ir a algumas quadras daqui. - Ela consulta o relógio em seu pulso, voltando a encará-lo em seguida. - Mas pode me acompanhar, se quiser.

Ele parece pensar por alguns instantes até que assente, ajeitando o casaco em seu corpo e passando a caminhar ao lado dela no ritmo lento que mantinham quando chegaram até as ruas menos movimentadas. Stella deixou um suspiro discreto lhe escapar. Havia se esquecido daquela sensação, de estar na companhia de alguém tão agradável. De se sentir bem e segura. Mesmo que o homem ao seu lado fosse um estranho, ela sente que o conhece há muito, desde muito antes de ter seus sonhos confusos com ele. Se pergunta se ele sairia correndo caso ela contasse a ele, sem sequer imaginar que ele também se sentia da mesma forma.

Ambos se sentem como se estivessem em casa.

The Fallen Warrior | Reiner Braun (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora