Prólogo: Nascida do fogo

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A menina correu.

O som de galhos quebrando pela floresta pôde ser ouvido, enquanto a lua iluminava o chão, através de frestas entre as nuvens. A sombra pequena e magrela se emaranhou pelas árvores e arbustos, ganhando pequenos arranhões. Mas isso era o de menos, pelo menos agora.

Certamente, ela era uma criança com cinco ou seis anos. Seu cabelo era liso e de um tom avermelhado que, em algumas mechas, dava a impressão de ser mais claro, adquirindo coloração laranja escuro. Seus olhos eram de um azul escuro, beirando o roxo, com bolças escuras de olheiras, denunciando a falta de noites dormidas e o seu cansaço.

O vestido que usava, uma peça branca de material certamente caro e cheio de babados e rendas, estava completamente sujo com terra e sangue. Seus pés, descalços, estavam completamente machucados e doloridos, fruto da corrida sem proteção que ela estava tendo.

Ao seu redor, o mais curioso, era uma aura brilhante e carmesim, que iluminava o seu redor e, de certa forma, a deixava mais quente, visto que a neve cobria boa parte do mundo a seu redor. Vez por outra, os locais onde os galhos encostavam nela não a arranhavam.

Enquanto corria, a menina tentou recapitular tudo o que tinha ocorrido antes daquele momento. "Fogo. Eu lembro disso.", pensou. "Aquela voz desesperada me mandando correr. Quem era ela? E meu nome... meu nome... Kendra¹! Mas porque eu estou correndo? Do que eu estou correndo? Essa sensação de medo..."

Ao pensar, a jovem se desligou do caminho e enroscou o pé em uma raiz. Com isso, seu corpo foi todo ao chão, produzindo um barulho que, mesmo abafado com a neve, ainda foi alto o suficiente para ser ouvido por quem estivesse perto.

Sentando-se no local da queda, uma pequena clareira no meio da mata, ela balançou a cabeça, ainda confusa. Ao seu redor, o gelo derreteu, tornando-se apenas água morna e molhando a terra.

Parando para sentir, ela estava bem dolorida. Sua cabeça estava muito pesada e a garganta totalmente seca. Seus pés doíam muito, devido as feridas, e suas pernas sem forças para se levantar. A aura vermelha em seu entorno diminuía à medida que sua mana chegava a zero.

Ela estava completamente vulnerável. Se algo aparecesse para atacá-la, esse seria o seu fim.

Foi quando ela sentiu uma mana desconhecida e forte.

Alguém vinha se aproximando e ela mal conseguia se mover. Esse seria o seu fim? Certamente. Só lhe restou se encolher e esperar para que fosse rápido e menos doloroso do que ela pensava.

— Eu tenho certeza de que foi por aqui! — ela ouviu uma voz masculina, estridente e infantil.

— Asta! — ouviu uma segunda voz, também masculina e tão infantil quanto a primeira, dando a sensação de ser bem chorosa. Eram duas pessoas? Ela só conseguia sentir uma... — Você já está machucado. Não vamos buscar mais problemas, por favor...

Ele parou ao conseguir visualizar Kendra. Por alguns segundos, os olhos âmbar focaram a menina, chocados demais para falarem qualquer coisa. Era um garoto, que devia ter mais ou menos a sua idade, com roupas simples, pele clara e cabelo preto, parecendo levemente ferido. Na frente dele, estava outro menino, procurando alguma coisa.

Quando reparou no olhar do amigo de cabelos escuros, o outro focou na menina. Era um menino baixo, de cabelos louros acinzentados e olhos verdes. Ele parecia bem maltratado, como se tivesse acabado de sair de uma briga, já que um de seus olhos estava roxo e inchado.

— Uma garota! — o loiro exclamou, se aproximando. — Yuno, olhe! Ela está machucada!

O outro parecia bem mais precavido. Ele se aproximou, lentamente, como se estivesse com medo, mas, por fim, chegou perto.

Fire [Black Clover]Onde histórias criam vida. Descubra agora