Revelações.

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 Levi abriu os olhos e sentiu sua garganta queimar. Tentou mover os braços, mas suas articulações pareciam enferrujadas e sua cabeça doía tanto que parecia que poderia explodir.

— Finalmente acordou — Uma voz grave preencheu o recinto — Realmente achei que não fosse sobreviver.

 Levi forçou os olhos e tentou identificar de onde aquele som vinha. Apoiou os braços na cama e impulsionou o corpo tentando se levantar sem sucesso. Reprimiu um gemido de dor.

— Sou Erwin Smith — O homem tinha uma voz grave e calorosa — Podemos nos conhecer melhor depois. Há uma pessoa que gostaria de falar com você agora.

 Forçou sua mente para se lembrar dos últimos acontecimentos e uma onda de choque passou por seu corpo, deixando-o gelado. Lembrava-se vagamente da luta patética e de como foi esmagado como um simples rato. Suspirou fundo. Juntando toda a sua força conseguiu se levantar e ainda ofegante se apoiar contra a parede, ainda sentado. Estava em uma pequena cabana de madeira aquecida por uma lareira. A porta estava aberta por onde o homem havia saído. Tocou seu próprio rosto e para seu espanto percebeu que alguns fios de barba começavam a crescer em seu rosto. Tinha os braços e pernas enfaixados com bandagens e o calor familiar do relógio que carregava em seu peito havia sumido.

— Procurando isso? — Carla entrou no quarto segurando o relógio que havia lhe entregado.

— Por que... — Tentou verbalizar mas sua voz parecia estranha, como se não tivesse sido usada a algum tempo.

— Estou com isso porque é meu — A mulher tinha olheiras profundas e olhos cansados, apesar de sua postura altiva — Foi o meu presente para você — Ela se sentou na cama devagar, parecia estar com medo de que Levi tentasse fugir — E foi ele que salvou sua vida.

Relutante a rainha tocou as mãos do garoto e uma onda de imagens, ou melhor, memórias, tomaram conta da mente de Levi. 

Flashback on:

 A rainha tinha os olhos marejados e fitava com adoração o pequeno embrulho em seus braços. Era um menino. Havia tido um parto difícil e muito provavelmente teria padecido não fossem as parteiras que correram apressadas para atender um pedido expresso do rei. Carla estava feliz agora que seu filho e de Kenny estava ali, tão tranquilo, dormindo inocentemente entre seus braços.

— Querida, pode larga-lo no berço. Não vai acontecer nada com ele — Kenny passou os dedos pelos ombros da esposa carinhosamente.

— Tem razão — disse a morena enquanto soltava a criança e fitava os olhos do marido —Ninguém nunca será capaz de fazer mal a ele — Ela afirmou. 

 O nascimento do seu primeiro filho marcava o legado Ackerman e garantiria que a família reinasse pelos próximos anos, mas o rei Kenny permanecia atento pois o fato poderia tornar o casal real vítima de algum ataque. Eram tempos de guerra e desconfiava que um motim estava sendo armado. Por precaução Kenny garantiu que a gravidez de sua esposa e o nascimento do primeiro herdeiro permanecesse em total sigilo até que a garota marcada finalmente fosse nascida e escolhida.

 A Deusa Ymir foi clara ao conceder os poderes aos Marleyanos. Fogo e gelo. Fortes demais para habitarem o mesmo corpo. Somente os herdeiros de Marley possuíam um sangue tão puro que os tornava capazes de receber a marca da Deusa e a cada geração um casal era escolhido e marcado, fadados a suportar o peso de seus poderes. O homem que ousasse possuir ambos os poderes se transformariam também em um Deus, caso conseguisse resistir a fúria da Deusa quando os poderes fossem separados. Por gerações a marca foi passada e assim que os antigos portadores morressem mais dois eram escolhidos. E assim sucessivamente.

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