Da ultima vez ele me retirou de uma boate noturna, a Disco, se é que posso chamar aquele local de boate, me tirou de lá por que causei uma confusão, aquele dia em especial ele estava de mau-humor, e eu estava louco o suficiente para estar naquele local. Dei sorte de ele não ter dito nada à minha mãe, mas passei a evita-lo tantos na festas noturnas quanto em seu mau-humor. Ele era muito responsável, as vezes brincava com minhas atitude imprudentes mas sei que ele não as apreciava, e muita das vezes por esse motivo eu as cometia.
Enfiou seu braços de volta ao motor. Mexeu daqui, mexeu dali, terminei seu cigarro e apaguei o mesmo jogando na pequena poça de água do meio fio da caçada.
— Sabe ligar o carro?
— Ã-ã — neguei com a cabeça.
— Ande logo, é só girar a chave.
Eu realmente não sabia, mas dei a volta dobrando as mangas da camisa branca que estavam desdobradas ate os cotovelos depois que Cesar as puxou. Sentei no carro e girei a chave como ele dissera.
— Aperte o pedal.
Havia três não sabia qual apertar, apertei com medo primeiro um, não aconteceu nada, apertei outro devagar e o motor rosnou alto imbuindo uma cortina de fumaça. Parei de imediato e com medo.
— Continue garoto. — ordenou ele na frente do carro.
Pisei novamente e cortina de fumaça se formou e logo em seguida se dissipou tornando-se inexistente. Agora apenas o ronco do motor se fazia presente.
— Isso ae, valeu!
Saltei do carro, me sentindo a pessoa mais útil do mundo. Ele tocou em minha mão.
— Já almoçou? — perguntei.
— Hmm sabe que eu não dispensária a comida da velha Carme. Ainda mais de domingo...
— Não chame minha mãe de velha...
— Nova ela não é. Já tem até cabelos branco a coroa.
Eu ri. Ela adorava ele se soubesse que ele a via dessa forma ficaria emputecida. Ele tossiu um riso.
— Sabe que não recuso comidas — em seguida ele me lançou um olhar que me parecia malicioso, mas talvez fosse apenas coisa da minha cabeça — Marquei com a Gabi.
— Houve reconciliação?
— Ela está tentando, mas sei que vem bomba, vai reclamar ainda mais. Mas eu vou comer e zarpar — outra vez lançou o olhar e em seguida uma risadinha.
Dei uma fugada risonha. Houve um breve silêncio, ele bateu o capô do carro. Creio que não havia nada mais que eu pudesse fazer ali, então me afastei aos poucos, até me dar conta que estava do outro lado da rua.
— Te vejo mais tarde “Nico” — ele disse com aquela entonação.
Dei os ombros e balancei a cabeça. As vezes ele dizia: “te vejo mais tarde” e não nos víamos mais. No início eu acreditava que realmente íamos nos ver e depois aprendi a entender que aquilo era um Tchau. Apenas um tchau, nada que eu devesse criar esperanças.
Ele era um baita homem, e eu já estava acostumado coma rotina dele, ele costumava ir trabalhar no final da tarde, mas eu gostava quando ele ia cedo pois nos víamos na Gráfica onde eu trabalhava meio periodo para sua irmã. Quando ele saia tarde para o trabalho, as vezes voltava entorno de uma hora da manhã, ou meia noite e eu me cansava de esperar e as vezes não voltava, nesses dias preferia imaginar que ele havia dormido no quartel de bombeiros. Em casos urgentes ele ia para o trabalho e depois voltava para casa à qualquer hora, até mesmo após ter chego, as vezes eu o assistia com seu uniforma chamuscado. Pensava o quão ele era corajoso, parecia não ter medo somente do fogo, é claro, aqui era uma cidade muito pequena os incêndios eram de pequeno porte, nada muito cinematográfico como fabricas enormes e prédios em chamas
Era bom sonhar e imaginar coisas da quais não se passava jamais pela sua própria cabeça ao seu respeito, certamente me acharia um homem perverso. As vezes eu estava sentado na escrivaninha o esperando chegar, e nem sempre eu estava fazendo lição. Aquele dia não foi tão diferente, ele não voltou de seu almoço, o que me fez pensar que mais uma vez ele havia estado com Gabi, eu sabia a respeito de seus horários, exeto quando ele saia com sua namorada, neste caso ele podia voltar a qualquer hora, e eram onze da noite quando estranhamente ele apareceu lá fora. Voltou do almoço como se tambem voltasse de um jantar noturno. Ficou o dia todo ausente.
Eu estava distraído lendo um livro qualquer, ouvindo musica nos fones, quando tive um reflexo que me fez espiar pela cortina, ele havia chegado sem seu carro por esse motivo não fui desperto de sua chegada, não escutei o barulho do motor. O que me fez olhar estranhamente por mais tempo, ele estava segurando uma garrafa enquanto abria a porta de sua casa então me olhou, rapidamente tentei desviar o olhar. Ele parou de abrir a porta e ficou parado me olhando até que o olhei de volta o encarando.
Ele ergueu o queixo me intimidando fiz o mesmo gesto atrás da janela o olhando feio do mesmo modo que ele me olhava. Em seguida ele gritou algo eu não consegui escutar, tirei os fones e abri a janela de modo curioso pensando que talvez ele quisesse dizer algo útil.
— Está olhando o que?! — falou ele alto e em bom som — Está gostando do que vê?! Fracasso.
Há claro. Cesar Garcia não era tão bom assim, ele tinha um sério problemas com bebidas, eu já havia visto isso antes. Se tornava um homem agressivo, amargo e irritante, embora ele não fosse desses viciado em álcool bastava ele beber um pouco a mais para estranhar as pessoas, arrumar brigas, e parecia que não havia sido diferente aquela noite, notei seu nariz vermelho não estava corado, era sangue mal limpo, assim como os respingos em sua blusa amarrotada e seus cabelos curtos bagunçados.
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A Descoberta
RomanceNico tem uma paixao secreta e obsessiva pelo seu novo vizinho. Após Nico um acidente tudo muda, César deixa aflorar dentro de si um sentimento guardado pelo jovem Nicolas