Quatro

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Aquela visão era o suficiente para acabar com todas as minhas fantasias, aquilo me decepcionava de uma forma tão surreal que eu sentia como se o enorme vazio do qual o fizesse chegar naquele estado deplorável, também me tomasse conta.

— Você gosta não é, sei que tu gosta... Aqui ó — ele pegou no próprio escroto e sacudiu volumoso por cima da calça.

— César! — exaltei em tom repreensivo de cochicho para não acordar os vizinhos e também meus pais.

Ele reclamou e mostrou o dedo do meio. Aquele era o homem selvagem, era como um animal indomável, e suas brigas naquele estado o tonava o homem mais primitivo do mundo. Eu não devia sair de casa mas notei que havia sangramento no seu supercilio e o sangue escorria em sua face. Eu era como um cão, domado por ele, e toda vez que ele se perdia eu tentava o encontrar. Em uma vez com suas bebedeiras o encontrei desacordado na pracinha do condomínio local, consegui leva-lo para casa.

Sai de casa naquele breu da noite onde apenas as luzes dos postes se fazia presente uma vez que céu estava coberto por nuvens escuras que tampavam as estrelas e a lua. Ele ainda estava la, olhando para minha janela me esperando aparecer.
Eu, não conseguia temer à sua  versão selvagem.

— Deixa eu ver...

Peguei seu rosto e ele virou em reluta.

— Me deixa ver! — falo irritado ele fungou me olhando feio o olhei mais feio.

Seu bigode estava sujo de sangue seco, assim como suas vias respiratorias.

— Você é astuto garoto. Ousado! Não gosto disso. — resmungou.

— Só vou te ajudar. Sabe que estou do seu lado, não é?

Era fácil amançar aquela fera, eu era ótimo nisso, no final, dentro daquela carcaça toda se escondia um enorme bebê. A primeira vez que o vi nesse estado me assustou muito, ele ate tentou me bater, me deu um mata leão bravo que me causou um torcicolo de uns três dias. Mas depois você entende que basta você ser compreensível ou fingir ser.

— Eles quem começaram a briga — queixou ele

— Ah claro, eu imagino... Todos sempre brigam com você — falei fingindo acreditar que ele não tinha nenhuma parcela de culpa

— É, você sabe. Você sabe de tudo. — falou ele. — Ce é todo seguro de si.

Neguei com a cabeça. No fundo eu não tinha medo dele quando ele estava um pouco alterado, afinal ele parecia mais frágil dessa forma.

— Senta ali na guia da calçada, deixa eu fazer um curativo.

— Que merda de curativo está me achando que não sei se cuidar sozinho?! — Disse ele já querendo me intimidar

— Não, claro que eu sei. Você é ótimo nisso. — disse eu — Mas quero te ajudar, roubei uns band-aid’s da caixa de curativos... E um antisséptico...

Falei em seguida tirei dos bolsos os itens que roubei da maletinha de remédios que minha ame deixava na cozinha.

Ele resistiu impaciente, mas cedeu, deu um gole na garrafa, eu queria pegar a garrafa mas eu sabia que era como arrancar osso de cachorro, devia fazer aquilo por último. Ele era alto, e largo sentado no meio fio era mais fácil de eu conseguir ajudar ele, a luz da frente da minha casa ajudava a iluminar, já que a luz da frente de sua casa permanecia apagada. Inclinei o rosto dele para ver, não era muito grave.

— O que aconteceu? — pergunto passando o algodão molhado no vidrinho de antisséptico em sua pele e ele nem hesitava. Era duro até nas dores mais ardidas.

— Os irmãos dela, aquela vadia — disse ele — Eles me cacetaram, dessa vez eu não comecei eles quem começaram.

— Os irmãos da Gabi?

— Não quero saber nunca mais daquela...  — disse ele

Só então notei seus braços com uma série de arranhões avermelhados e alguns até rasgaram a pele. Estava de noite não dava para ficar analisando ele.

— O que aconteceu?

— Ela veio me bater, dei um empurrão nela os irmãos dela caíram pro pau. — disse ele irritado.

— Você já havia bebido?

— Pouco.

— Machucou ela?

— Ta maluco, ela me arregaçou? Meu empurrão nela foi só para ela sair de cima de mim. Estava tudo bem a gente já havia se resolvido. Aí fomos no jantar da família dela e ela surtou de ciúme — contou ele

— Pronto César. — Disse terminando o curativo

— Ei, você é um garoto muito bom, não seja que nem eu no seu futuro. Sério. Eu tenho vergonha de mim...

— Qual foi? Nada disso você é incrível só... Esta vivendo de maneira errada.

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