Nos dias que se seguiram, eu recebi mais algumas visitas como a Camila e outros amigos da escola, e a visita diária de minha mãe e claro a visita constante de César, as vezes ele vinha me ver vestido de capitão Garcia, após o trabalho, e se sentava na poltrona do quarto perto da janela. Eu reconhecia seu cansaço em seus intermináveis cochilos sentado, vestindo aquela camisa vermelha vibrante e apoiando o rosto em uma das mãos. Eu até havia o fotografado, escondido, pois quando ele não sabe das fotos parece mais divertido. Eu não estava entendendo sua preocupação constante a ponto de perder seu tempo de descanso em casa para descansar no hospital. Eu estava melhor, fazendo exames constantes para uma análise geral, nada que não fizesse mais parte da rotina. Quando tive alta ele quem me levou para casa e assim trocou a poltrona do hospital pela cadeira da escrivaninha do meu quarto onde vinha constantemente, as vezes lia alguns dos meus livros e me abordava:
“Toda essa parada de magia é confusa, por que Harry não faz uma magia e arruma seus problema todos, até no mundo mágico os problemas são insolúveis!” — questionava ele.
Eu ria, era dificil explicar as coisas referente ao livro e as magias para ele. Eu havia feito duas pequenas fraturas, uma delas na perna, mas nada que fosse me deixar sequelado para o resto da vida, algumas esfoliações e um corte profundo na costela, eu estudava em casa, as vezes na presença de César, ele até tentava ajudar mas era péssimo em alguns temas. Por fim, eu estava fazendo fisioterapia duas vezes na semana doutor Josué que era um jovem homem muito divertido com dialogos extensos e engraçados, viria pela quarta vez, era uma das últimas seções, pois apenas para avaliar a situação, eu já transitava normalmente pela casa, e acredito que só não podia ir para a escola por conta da distância, ou ficar descendo e subindo lances de escadas.
Antes que o doutor chegasse eu já estava sentado na cama a sua espera, tentando montar um lado do cubo magico, e César estava de pé mexendo nos enfeites da prateleira distraidamente.
— Como tem se sentido com a fisioterapia?
— Bem, eu acho.
— Acha o doutor Josué um cara legal?
— Sim ele é divertido... Você o conhece?
— A é, sim ele é... Mega divertido, principalmente aquelas piadas — ele falou num tom que pude ver seu revirar os olhos por de trás da nuca mesmo não vendo seus olhos.
Ponderei aquela atitude. Ele virou e deu um sorrisinho forçado sem mostrar os dentes. Por um instante quis acreditar que fora apenas um comentário. Minutos depois entendi que tinha algo de errado com aquele comentário, sempre que Josué estava lá, César também estava, de modo despretensioso em algum canto do cômodo assistindo a sessão de terapia, ou se recusando a conversar em seu silencio ponderando tudo como se fosse minha própria mãe que sempre estava ocupada com os afazeres domésticos.
Desde o primeiro dia na qual César viu doutor Josué pairou sobre o ar um clima de soberania, claro por parte de César. Seria ciume? Se sim então aquilo me contentava de certa forma pois afirmava algo que eu queria saber: sentimentos ocultos.
Não é estranho? Se parar para pensar César sempre soube que eu o vigiava, e sempre parecia gostar de se exibir através da janela. Ele podia até não saber das fotos, mas que eu era seu fã numero um, isso ele sabia, e fazia questão de querer aparecer, mostrar-se. Quando ele estava irritado comigo alterava sua rotina de proposito para que eu não o assistisse como forma de punição. Agora sim isso fazia total sentido, ele sabia como sempre suspeitei.
Queria acreditar que fosse apenas cuidados, mas seus cuidados tinha ar de implicância quando eu estava fazendo algo errado, como se de algum modo ele tivesse posse ou carinho por mim. Uma vez ele me disse que eu era como um irmão mais novo, para justificar suas atitudes grotescas quando eu andava fora da linha na qual ele criava.
Nas visitas que recebi ele teve atitudes grosseiras com doutor Josué e com um colega da escola, não que ele tenha sido estupido mas também não fora muito educado e gentil.
“Seu vizinho é sempre assim?” perguntou Edu e respondi que sim ao meu colega de classe “e sua mãe gosta dele? Digo como visita” expliquei que ele era só um grande amigo da família.
Eu estava grato. Por não estar morto, e por estar muito proximo de César, minha recuperaçao foi 100% com uma nova cicatriz no biceps, outra na panturrilha e uma fina na costela, ambas de cortes que não sumiriam tão de pressa, e não me importava. Eu havia me contentado que o período do acidente eu pude saber quem se importava comigo, e ninguém se importava mais do que o próprio César, mesmo depois de tudo que eu fiz. Agora eu o fotografava na cara dura e ele parecia gostar.
***
Estávamos sentados do lado de fora encostados na parede de sua casa observando o céu, a lua e as estrelas.
— O que faz com as fotos?
— Me masturbo — falei num to jocoso
Ele riu, era uma brincadeira. Toda brincadeira tem fundo de verdades e a minha tinha, mas eu sabia que ele não iria acreditar. Ele tossiu um riso.
— Falo serio.
— Gosto de reve-las, tipo você nunca quis congelar momentos ou pessoas? — não houve resposta — Se você pudesse congelar algo o que congelaria?
Ele inclinou a cabeça olhando para o céu.
— Meus pais... As vezes me esqueço de como eles eram. — disse com um leve riso.
— Como eles se foram?
— Nããão, isso não é papo para agora Nicolas.
— Desculpa — disse eu por ser invasivo
Ele deu um risinho. Me fez ficar megacurioso.
— Sabe aquela parada? Ainda e3 esgranho... Você ainda acha que é apaixonado por mim?
— Eu? Apaixonado? — disse eu confuso — Claro que não.
— Para, estamos só nós aqui. — olhou ele por cima dos ombros
Respirei fundo.
— Bom, eu nunca cultivei sentimentos por alguém... Na verdade, tive aquelas paixões da 4ª serie.
Ele deu um riso e me olhou interessado no assunto, mas continuei de cabeça erguida olhando para o céu.
— Quando te vi a primeira vez você parecia ser tudo o que eu queria ser, e também tudo que eu queria ter. Então eu não sei se isso é uma paixão ou atração.
— Entendo.
— Que estranho dizer sobre sentimentos para a pessoa que tenho sentimentos. — falei rindo
Eu não tirava o olho da lua crescente no céu, era realmente estranho aquela conversa. Houve um silencio, por um instante me senti vigiado, virei a cabeça para ver o que ele estava fazendo em meio aquele silencio e César veio de encontro aos meus lábios me beijando.
Era tudo o que eu queria, mas não sabia ao certo se era o que eu precisava, pensei em empurra-lo, mas ao contrario o beijei de volta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Descoberta
RomanceNico tem uma paixao secreta e obsessiva pelo seu novo vizinho. Após Nico um acidente tudo muda, César deixa aflorar dentro de si um sentimento guardado pelo jovem Nicolas