Sete

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Ele pisou fazendo o barulho da sola de sua bota no chão, e puxou do varal uma das fotos, que nem sabia se já podia pegar daquela forma. Ele olhou as outras no varal e eu continuei parado, feito uma estátua, puxou outra de suas fotos. Eram fotos ótimas, tiradas espontaneamente, eu vivia com a câmera pendurada no pescoço, as vezes chegava perto dele e dava um clique e ele nunca sabia, ou saberia até agora.

— Estou esperando uma resposta. — disse ele pegando a quarta de suas fotos.

Minhas pernas estavam de novo sob bambus.

— Hã é... Eu gosto de fotos... De tirar.

— Fotos minhas?

— Não tem só suas... — falei desesperado retirando uma foto na qual estava a Camila sentada com um pirulito nas mãos.

— Tira foto das pessoas sem consentimento delas?

— Não é que... Bom são momentos, momentos que só ver uma vez não vale a pena. É legal... Ver de novo.

Ele balançou as fotos em sua mão e pegou outra sua no varal.
Ele me olhou, estava muito em silêncio. Soltou um ar dos pulmões parecia surpreso e espantado.

— Estou só... Tentando entender.

— Só... Me devolve — ameacei puxar as fotos de sua mão mas ele ergueu a mão no alto e eu não conseguia mais alcançar.

Estávamos bem próximos. Meu avanço me fez bater de cara no seu peitoral maciço. Fiquei o encarando em desespero. Ele estava uniformizado, ou estava chegando ou indo para o trabalho.

— Me dá as fotos César. — Pedi num tom irritado — Você vai estragar.

— São minhas fotos, não é?

— Não elas são minhas eu quem tirei.

Ele me olhou feio.

— Eu ainda estou tentando entender. Qual é a sua? Acha que não percebo?

Fiquei em silêncio. Não tinha respostas mais, o que que ele não percebe? Eu era tão cauteloso. Me escorei na parede que eu estava próximo

— Sempre me vigiando, agora parece um espião com fotos de momentos tão inusitados. — Ele abaixou a mão colocando as mesmas para trás mas eu ainda não podia pegar as fotos — Você é viado ou o quê?

— Olha só... Me devolve essa merda. Não foi por mal.

— Não tenho nada contra... Só fica na sua e eu na minha... E para com essa porra maluca de me perseguir.

Senti minhas bochechas queimarem de um choro engasgado.

— Sempre achei seu jeito carinhoso de mais, todo fofinho, mauricinho no modo como se veste e tal.

— E você? Você sempre gostou — disse com brandura.

Ele tossiu um riso. Em seguida jogou as fotos em cima da mesa ao lado e se voltou contra mim me encarando.

— Desculpa — gani baixo feito um bicho amedrontado.

Ele balançou a cabeça como se houvesse molas cerrando o maxilar como se mordesse os dentes.

— Tem sorte de ser muito novo — resmungou ele já dando as costas.

Naquele estante esmureci, nunca tive tanto medo. Afinal que sorte era essa? Se eu fosse mais velho qual seria o resultado dessa sorte? Deixei escapar algumas lagrimas ali mesmo. E em um ataque de fúria rasguei todas as fotos exceto uma, sempre havia uma da qual seria minha favorita. Mas ao inves de continuar chorar, me retirei do quarto escuro, ele ainda estava na loja, sai dos fundos seguindo um corredor estreito com o sangue em chamas.
Estava parado prestes a sair da loja gráfica quando interroguei:

— Por que sorte?!

— Quê?

— Olha eu sei que é estranho. Mas eu tenho curiosidades da qual eu nunca tive antes... E todas elas acabam sendo voltadas a você.

Ele cruzou os braços com um olhar sorrateiro, quase não acreditei na minha força impulsiva.

— Eu tento me controlar desde que te vi a primeira vez, e tudo o que tenho é uma curiosidade incessante. E eu queria saber você nunca teve essa curiosidade? Nenhum homem 100% homem no mundo nunca teve?

— Garoto isso é fase.

— Então quer dizer que voce já teve?

— Não, menino olha minha vibe é mulheres saca? Eu gosto. Nasci assim te respeito se voce for gay mas... Só fica longe.

— E como descobriu isso?

— Nasci assim.

— Isso não é justo. — Falei em um tom frustrado.

Abaixei-me a cabeça, ele se aproximou e encostou a mão no meu ombro, se curvou um pouco apenas para me olhar nos olhos. Eu sentia meu rosto queimar de tamanha vergonha e frustração.

— Ei... Te vejo como um irmão mais novo, não quero que se sinta mal.

Neguei com a cabeça e ergui o olhar, ele estava tão próximo que me vi na oportunidade perfeita. Alavanquei meu corpo para frente e encostei meus lábios ao dele, foi um pouco rapido. Mas um beijo roubado. Ele não teve reação na hora, aquele encontro de bocas foi algo com a duração de 5 segundos rapidos, foi um beijo, não um selinho simples, embora nossas línguas não tenham se encostado eu o beijei sem correspondência alguma de sua parte. Ele me empurrou aubtamente e me chacoalhou pelos ombros.

— Nicolas! — disse ele num tom bravo enquanto eu o encarava.

Eu fiquei em um subito estado de choque, paralizado. Perdi o meu eixo, ele me largou me empurrando e saiu da loja batendo a porta fazendo tudo tremer. Eu estava no auge de meus impulsos, mas sabia que eu havia falhado como amigo e também como humano, jamais poderia roubar dele beijos sabendo que ele não era gay. Sai atrás dele, ele estava do outro lado da rua abrindo a porta do carro. Gritei o nome deles varias vezes e ele parecia não escutar ou me ignorar, atravessando a rua me aproximei.

— César, me desculpa eu não devia ter feito isso...

Lembro de ele se virar para mim, me olhar com olhos assustados. Dizem que quando você esta prestes a morrer sua vida passa na frente dos seus olhos, mas e se ela passa na verdade na frente dos olhos dos outros? Ou então presumo que César seja a minha vida pois ele foi a ultima coisa que vi.

Isto aconteceu, pois tudo ficou escuro, não havia mais nada naquele mundo para mim, não havia nada no mundo que fosse meu. Por um tempo então eu fiquei apenas num escuro constate sem luz...

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