As crônicas de Kalahan: Olhos de dragão

Hemodominus

    O aço rasgava o vento sob o sol poente, que reluzia na grande muralha de pedra, que cercava a cidade de Goldenfall, projetando uma imponente sombra onde Edgar treinava seus golpes de espada e ensaiava posturas de luta.

    Com a perna esquerda posicionada adiante, ele segurava sua espada com as duas mãos, do lado esquerdo da sua cintura. A lâmina estava apontada para o rosto do seu inimigo imaginário, que foi estocado em seguida.

- Está errado. - Edgar ouviu a voz de Edward. - Corrija essa postura - ele dizia, sentado na grama, observando seu filho, com o olhar sereno.
Edgar olhou para baixo e viu que sua perna estava posicionada do mesmo lado que sua espada. Sem ter a certeza do seu erro, ele apontou para sua perna enquanto olhava para o seu pai, esperando que ele concordasse, o que aconteceu.

- Sua perna deve estar posicionada do lado contrário da sua espada, ou seja, se sua espada estiver do lado direito da cintura, você põe a sua perna do lado esquerdo.
- Entendido - disse Edgar.

    Com o conhecimento em mente, ele corrigiu sua postura, com a perna esquerda adiante e a espada do lado direito da cintura. Ficou parado nessa posição por um pouco mais de dois segundos.

    Edward iria ordenar para que começasse seus movimentos, mas antes que pudesse sequer falar uma palavra, Edgar deu a primeira estocada, no seu inimigo imaginário. Após isso, ele segurou a lâmina da espada com uma das mãos e o cabo com a outra e bateu no queixo do inimigo com o pomo, em seguida, com uma mão ainda segurando a lâmina, ele estocou a garganta do inimigo com a ponta da lâmina. Fez todos esses movimentos com um pequeno intervalo de tempo entre eles. Quando terminou de executar os movimentos, olhou para o pai, esperando alguma avaliação. Ele não parecia demonstrar nem aprovação e nem reprovação, apenas um olhar impassível, o que deixava Edgar inseguro.

- Você foi lento. - disse Edward, calmamente. - Eu sinto que antes de você atacar, você pensa no golpe para aplica-lo, e isso faz você criar intervalos entre os golpes. Isso está errado.
- Mas não é isso que precisamos fazer? Pensar antes de agir? - indagou Edgar.

- Não é. - respondeu seu pai, o que deixou Edgar confuso. - Quando você sabe lutar bem, você não pensa no golpe para aplica-lo, pois isso pode te fazer hesitar no confronto, e hesitar em um confronto pode significar a sua morte.

Edgar observava seu pai, com a espada baixada.

- É como respirar. - continuou Edward- Um guerreiro aplica seus golpes sem precisar pensar neles, pois isso já é algo automático que está fixado em sua mente.

- Então, eu não tenho que planejar os golpes, eu tenho que saber lutar. - compreendeu Edgar.
- Correto. - confirmou Edward. Ao ouvir sua afirmação, Edgar o encarou com a testa franzida, parecendo ter percebido algo.

- Está dizendo que não sei lutar? - indagou, tendo como resposta, um zombeteiro sorriso unilateral.

- Correto. - respondeu ele, o que fez Edgar ficar sem palavras, o encarando com um sorriso nervoso.

- Não vai nem considerar minhas habilidades? - indagou como se seu orgulho tivesse sido pisoteado, sob solas de ferro.

- Eu estou considerando, mas você precisa de correções.- rebateu Edward ainda sorrindo. - Você pode até achar que está pronto, mas eu digo que não. Você só estará pronto quando eu disser que está.

- Então se você disser que eu sou um cavalo, eu serei um cavalo? - debochou Edgar.
- Sim, inclusive, vou montar em você. - disse encarando Edgar nos olhos, parecendo sério, mas, após alguns segundos, os dois caíram juntos na gargalhada.

- Esse é o seu erro. - disse Edward, se recuperando da risada. - Para complementar o treinamento, eu quero mostrar uma coisa para você... uma coisa muito importante.