O despertar

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- Me fala do seu amigo. - disse Lillit, enquanto caminhava com Bill pelas ruas da cidade, rumo à sua casa. Ao ouvir isso, ele sorriu e ergueu uma das sobrancelhas, deixando a amiga com medo do que poderia vir, como uma piada, que era uma coisa que não faltava no rapaz.

- Então você já está de olho no Edgar? Estou surpreso. - brincou.- bom, eu duvido que ele esteja disponível, porque porque ele tem interesse romântico por outra pessoa.

Lillit ergueu as sobrancelhas surpresa, e deu um sorriso de lado, pensando em perguntar quem era a tal "pessoa", mas preferiu conter a curiosidade, afinal, se Bill não citou nomes, ele deveria estar querendo manter o segredo.

- Que pena! Os mais bonitos estão sempre de olho em outras!- disse ela, fingindo desapontamento, fazendo Bill rir.

-Bom, você disse que ele era super forte, e eu quero provas.- insistiu.
- Está bem - concordou Bill, que começou a pensar encarando o chão, procurando alguma memória à deriva em sua mente.
- Bem... uma vez, um dragão tentou me esmagar, no treino, mas aí ele pulou na frente, segurou a mão do dragão e me salvou.- Ao ouvir isso, Lillit franziu a testa, parecendo descrente.

- Eu nunca vi alguém disputar força com um dragão, então não sei se acredito.- Lillit deu de ombros.
- A gente vive em uma terra mágica. Tudo pode acontecer em um mundo onde você pode transformar um ser humano em sapo, ou água em cerveja.- Bill deu de ombros.
- Vou dar uma chance para essa possibilidade.- Lillit piscou.

- Tem mais uma.- disse Bill, parecendo mais animado ao lembrar de certo acontecimento, o que acendeu o interesse da amiga.- É do dia em que ele despertou o poder. Quando ele e a Isabel tinham 10 anos, eles foram sequestrados juntos de outras crianças, por criminosos. Na época quem me contou foi a Bel.
-Bel?- indagou Lillit
-Isabel. - esclareceu- Ela parecia chocada com o que viu, mas conseguiu me contar. Quanto mais ela falava, menos eu acreditava, mas depois que vi o Edgar com a boca e as mãos ensanguentadas, já não tinha dúvidas......

**********
    Os olhos safira de Isabel encaravam a rua pela janela do seu quarto. Por mais que as crianças corressem para todos os lados e até gritassem, ela mantinha-se inexpressiva. Nem sequer prestava atenção, enquanto lembrava daquele dia. Sua mente vageou em memórias traumáticas, lembrando daquela cabana mal iluminada, com estrutura de madeira tão velha que só os passos eram capazes de ranger o piso decrépito.

    As 8 crianças choravam baixo, se agarrando aos seus brinquedos de pelúcia, que as consolavam do horror que sentiam. Não tinham esperança de serem salvos, pois ninguém sabia onde elas estavam, talvez sequer soubessem que elas haviam sido raptadas.

    O pequeno Edgar estava sentado ao lado de Isabel, que se encolhia, enquanto Ed a abraçava.
O menino ruivo olhou por um instante para o homem alto, de roupas plebes e armado com uma espada curta na cintura. Ao perceber seu olhar, o homem o encarou de volta e sorriu perversamente, logo, Edgar cortou o contato visual, devido à intimidação.

    A porta se abriu e outros dois homens entraram no local. Um deles vestia um sobretudo vermelho estampado com detalhes dourados, e uma camisa de botões por baixo, provavelmente era o chefe, devido ao charme de suas vestimentas. Ele olhava vagarosamente para as crianças, como se as estivesse contando, o olhar sério e intimidador, como um predador, observando suas presas.

- A carroça chegou, recolham todos em pares! - disse o chefe, para os dois homens no local, que imediatamente obedeceram e se dirigiram até as crianças. Um deles já havia selecionado uma menina de cabelos loiros quase brancos, puxando-a pelo braço. Ela se debatia tentando se soltar, em meio a berros agudos, mas o homem era forte demais. Irritado, ele a jogou para fora da cabana, fazendo ela cair sobre o chão gramado. O outro homem ainda estava selecionando qual levaria, isso causava suspense, consequentemente aumentava a tensão nas suas vítimas, o que ele achava adorável.
Isabel olhava para ele, torcendo para que ela ou Ed não fossem notados, mas para sua infelicidade, os olhos do homem cruzaram os seus, e, logo um sorriso de canto foi formado em seu rosto, mas ele desviou o olhar para um menino maior. Isabel também olhou para o menino, tentando acompanhar a decisão do homem. Ele estava pálido, a expressão de medo era nítida em seu rosto.

As crônicas de Kalahan: Olhos de dragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora