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    O olhar do príncipe pairava zombeteiro sobre Edgar, como se escondesse diversos julgamentos em sua mente que ele conseguia desvendar. Sentindo-se patético por parecer uma ovelha diante de um lobo que a encurralava, Edgar desfez a surpresa em seu olhar, a fim de não satisfazer o contento do príncipe.

- O que está fazendo aqui? - indagou Edgar fazendo Aziel dar um ar de riso.
- O que eu estou fazendo aqui?! Eu estou em casa, ora. - debochou. - Você jurou que não ia me rever aqui, amigo?
- Meu nome é Edgar. - disse ríspido.
- Ah, desculpe, Edgar, é um nome forte. - o sorriso debochado de Aziel gerava pontadas de ira no interior do ser de Edgar. Sua vontade era afundar a cabeça do príncipe na parede mais próxima, a fim de desfazer qualquer que fosse o escárnio que preenchesse sua face, mas ele estava conseguindo se conter, pois não era como se estivesse louco de raiva.

- Este lugar pode estar cheio de saqueadores, sabia? - Edgar mudou de assunto. - Eles podem aproveitar uma brecha para...
- Eu sei, estamos contando com isso. - Aziel o interrompeu. - É claro que seu povo asqueroso iria trazer suas pragas junto. - ao ouvir isso, Edgar evitou expressar raiva que insistia em contrair seu rosto, mas seus olhos não mentiram quando por um momento brilharam em pequenas centelhas de fogo, o que foi percebido pelo príncipe.

- Me diga, quando eu acabei com você lá em Goldenfall, o que aconteceu depois? - perguntou Aziel fazendo Edgar hesitar em responder.

- Meu amigo me trouxe de volta. - respondeu Edgar omitindo sua breve morte, o que não funcionara, pois estava explícito demais.
- Quer dizer que eu te matei? - Aziel riu.
- Você pergunta demais, por acaso só veio aqui pra encher meu saco?! - reclamou Edgar finalmente cedendo à ira.
- Desculpe, continue. - disse Aziel gesticulando. Edgar o encarou sério por um tempo antes de voltar a falar.
- Depois que ele me trouxe de volta, eu perdi o controle e comecei a ataca-los e só fui parado pelo mago grão-mestre. - Aziel ergueu as sobrancelhas levemente. - Só sei dessas coisas, porque foi o que me disseram, não me lembro de nada antes de ter apagado. - Aziel parecia realmente se interessar pela história. Antes de decidir falar, deu dois goles no hidromel.
- Eu entendo, seus poderes são como os meus, mas você perdeu o controle porque não os controla ainda. - falou sério.
- Se somos iguais, então o que somos? - indagou direto. Aziel degustou novamente o hidromel da sua caneca dando dois goles e arrotando discretamente.
- Somos humanos normais, Edgar, a diferença de nós para os humanos comuns é que nós somos receptáculos de entidades espirituais de tempos muito antigos. - Edgar franziu a testa. - É simples, mas é verdade. - Aziel concluiu.

    A dúvida ainda pairava na mente de Edgar, que hesitava em acreditar nas palavras do príncipe, apesar das mesmas não lhe parecerem desprezíveis.

- Entidades espirituais? - indagou.
- Olha só, parece até um garotinho curioso. - debochou Aziel. - Essas entidades representam as forças da natureza e são únicas no mundo. Elas escolhem um hospedeiro que tenha nascido com poder mágico compatível, e então encarnam no corpo hospedeiro assim que ele nasce. No seu caso, você nasceu com a magia de fogo, então a entidade que escolheu você foi a do fogo.
- Então, está me dizendo que tenho todo esse poder só porque eu dei sorte de ter sido escolhido por um tipo de espírito? - indagou Edgar, pouco crédulo.
- Todos os escolhidos deram sorte, o que nos resta é sermos gratos e aprendermos a controlar esses poderes, a menos que queiramos ser controlados por eles. No meu caso, eu já estou bem avançado. Já você, pelo jeito, ainda nem largou a fralda.
- Você sabe que me falando isso, está me dando conhecimento para melhorar, não sabe? - desafiou Edgar.
- Você acha que eu tenho medo de você ficar fortinho do nada e se igualar a mim? Eu treinei a minha vida inteira com os melhores guerreiros deste reino, não vai ser tão cedo que você vai chegar no meu nível! - escarniou Aziel fazendo Edgar sorrir de lado.
- Um dia vou fazer você engolir essas palavras. - disse Edgar, mantendo um olhar fixo, que parecia jurar um pacto de que um dia iria cumprir o que disse.

As crônicas de Kalahan: Olhos de dragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora