Após o momento significativo, Bill e Edgar trocaram um olhar de cumplicidade, um entendimento silencioso passando entre eles. Com um aceno de cabeça, eles se despediram.
Os passos de Edgar o guiaram para fora da multidão, afastando-se da agitação do evento. Ele sentiu um alívio ao deixar para trás o burburinho e a pressão social que havia permeado o ambiente. Caminhou em direção à mesa onde ficavam as bebidas e bandejas com comidas variadas, atraído pelo aroma tentador dos quitutes. Lá catou 3 bem-casados, sem se importar se iam julgá-lo por gula.
Enquanto caminhava contornando a multidão dançante, Edgar deu uma mordida na metade do seu primeiro bem-casado. Enquanto saboreava o doce, Edgar observava os casais dançando apaixonadamente, não conseguiu evitar que sua mente vagasse pelos momentos compartilhados com Isabel, revivendo as emoções intensas que os envolveram na dança. Uma mistura de alegria e dor tomou conta dele, mas ele fechou os olhos com força, determinado a resistir aos seus pensamentos. Decidiu focar no presente, naquilo que estava ao seu redor, como forma de acalmar seu sofrimento. Seus olhos percorreram cada detalhe da estrutura do palácio. Desde o piso de cerâmica branca, que refletia os raios de luz provenientes do lustre de velas pendente no teto alto, até as paredes pintadas de um suave tom de bege, e as grandes colunas de mármore imponentes, que sustentavam o andar de cima, conferindo uma atmosfera majestosa ao ambiente.Enquanto os olhos de Edgar passeavam pelo local, seu olhar encontrou Diana nos braços de Viktor. Ambos dançavam sorridentes, com confiança em seus passos. Era evidente que estavam à vontade juntos. Enquanto terminava seu primeiro bem-casado, Edgar observou o rapaz do rosto aos sapatos. Ombros largos e braços fortes, parecia um valentão trajado em formalidade. Um sorriso discreto brotou em seu rosto, feliz por Diana.
- Então esse é o homem. - murmurou para si mesmo.Foi quando, de relance, Edgar notou alguém acenando com certo entusiasmo. Seus olhos seguiram o gesto, e ele guardou os doces nos bolsos da calça. Ao avistar a figura familiar, cujos cabelos negros trançados reluziam sob a luz do palácio, Edgar reconheceu imediatamente a menina. Sentada à uma mesa próxima, trajando um elegante vestido vermelho, ela era extremamente baixinha.
"Enid" - pensou ao passo que seus olhos pareciam ter ganhado um brilho. O rosto dela iluminou-se ao perceber que Edgar a havia visto, e ela acenou mais uma vez, chamando-o para se juntar a ela. O rapaz caminhou até a irmã, sentindo certo alivio preenchendo seu ser a cada passo que dava. Ao chegar, ele apoiou suas mãos no encosto de uma cadeira, posicionada à frente da menina, que sorria, feliz em vê-lo.- Achei que você não fosse aparecer. - disse Enid com seus pés balançando suspensos por não alcançarem o chão.
Estive ocupado. - disse Edgar, seu sorriso sereno revelando sua alegria em vê-la. - Onde estão o velho e a mãe? - perguntou ele, percebendo a ausência de seus pais. Enid apontou para onde eles estavam, e para sua não surpresa, ambos estavam dançando juntos em meio à multidão. - Como foi a viajem? - ele acrescentou, curioso para saber como havia sido a jornada de Enid.
- Ah, foi meio chata. - respondeu ela fazendo uma cara de desgosto. - Eu dormi quase o tempo todo, porque conversa de gente grande não tem graça. - Edgar deu uma risada, compreendendo a indignação da irmã. - E a sua viajem? Como foi?
- Minha viagem? Foi simplesmente uma grande aventura! - respondeu, com um brilho travesso nos olhos.
Enid olhou para ele, seus olhos ingênuos e cheios de expectativa.
- Sério? O que aconteceu? Conta tudo! - pediu ela, levantando da cadeira. Edgar riu, sabendo que poderia deixar a imaginação de Enid voar com suas histórias inventadas. Ele começou a descrever uma batalha épica que tiveram com um dragão, ao lado dos cavaleiros da carruagem, e contou como deu o golpe final com sua espada, mesmo que não estivesse com ela. Edgar sabia que Enid adorava dragões, apesar de nunca ter visto um na vida.- Que demais! - seus olhos brilharam. Porém, Edgar decidiu não enganar a irmã por muito tempo.
- Bem, seria incrível mesmo, se fosse verdade. - disse ele, fazendo o brilho desaparecer dos olhos da menina. - Desculpe, só quis brincar com você.
- Você é um mala. - resmungou Enid, expressando seu descontentamento. Edgar soltou uma risada divertida em resposta.
- Obrigado. - disse Edgar. - Mas você já deveria ter percebido, nem com a espada eu estou. Como esperava que eu lutasse com ela? - Ele estendeu os braços, mostrando sua cintura desprovida da espada. Enid suspirou revirando os olhos.
- Tem razão. - admitiu ela. - E além disso, você nunca venceria um dragão. Eles são incríveis.
- Como pode achá-los incríveis se nunca os viu? - contra-argumentou.
- A mamãe lê livros e me mostra desenhos deles. - explicou Enid com um ar de convicção.
- Sim, ela mostra, mas você nunca viu um de perto.
Curiosa, Enid o encarou - Você já viu?
- Sim... Inclusive já venci um. - respondeu se vangloriando.
- Mentira. - Enid apontou-lhe o dedo, porém a confiança de Edgar permaneceu invicta.
- Dessa vez é verdade. Eu não estava sozinho, foi durante um exercício na academia de batalha. - Enid ficou curiosa. - E antes que ache que eu esteja falando isso para me gabar, foi a Isabel que deu o golpe final. Ela lançou a magia dela dentro da boca do dragão, bem na hora em que ele ia cuspir fogo nela. - as palavras de Edgar pareceram mais verídicas aos ouvidos da irmã, talvez porque ele havia deixado de lado seu próprio ego e admitido que não tinha dado o golpe final.
- Ele morreu? - indagou Enid, parecendo preocupada com a saúde do dragão.
- Não sei, ele engoliu magia pura, mas dragões são muito resistentes. Acho que ele pode estar vivo - ponderou Edgar. Enid pareceu aliviada com seu otimismo.
- Falando na Isabel, cadê ela? - perguntou Enid, mudando de assunto. Edgar ficou momentaneamente em silêncio.
- Ela saiu. - respondeu, curto. Enid insistiu em perguntar o porquê. Edgar pareceu hesitante ao recordar do drama do momento, ficando em dúvida sobre como abordar o assunto. - Aconteceu uma situação complicada entre nós, e ela se afastou para ter um tempo sozinha. Enid franziu a testa, confusa com a resposta vaga de Edgar. Naquele momento, sua curiosidade só aumentou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As crônicas de Kalahan: Olhos de dragão
FantasyEdgar Kalahan é um jovem que, desde criança, sonha em ser um guerreiro do reino de Goldenfall; reino este que guarda mágoas de conflitos passados com seu reino rival de gerações: Castlewind. Quando tinha apenas 10 anos, Edgar passara por um trau...