Amigo

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    Edward e Edgar caminhavam juntos pelas ruas da cidade. A movimentação nas ruas era alta, apesar de a noite ter caído. Edward viu o rosto impassível do filho olhando para frente. Provavelmente pensativo, supôs.

- A sua costela está doendo? - perguntou Edward, fazendo a atenção de Edgar se voltar para ele.
- Um pouco, mas nada que incomode muito. - respondeu.

- Me diga, você não levou tudo aquilo que eu falei a sério, levou? Eu só mexi com seu psicológico pra fazer você acordar logo.
- Tudo bem, eu não me importo. - disse Edgar ao dar de ombros. - Eu não levei nada que você disse a sério, ainda mais quando disse que guerreiros não sentem dor, aquilo foi um exagero.
Edward deu uma risada baixa.

- Bem, as vezes exageros são uma boa mentalidade. - disse Edward.
Edgar não compreendeu o raciocínio do pai, mas deixou que ele explicasse.
- Um guerreiro não deve se deixar abalar por dores ou provocações, pois isso o enfraquecerá. Motivar-se com frases exageradas o manterá firme na luta, confiando sempre em si mesmo.

- Mesmo que no fim não consiga vencer? - perguntou Edgar
- Mesmo que no fim não consiga vencer. - respondeu. - Isso é sobre confiar em si mesmo. Você confia em si mesmo?

- Se precisar, enfrentarei até o diabo. - disse Edgar fazendo seu pai rir com o exagero.

- Edward! - disse uma voz que chamou a atenção do homem para uma mesa de madeira na parte de fora de uma taberna. Haviam dois homens sentados à mesa. O que o chamou tinha uma pele clara, olhos castanho escuro, cabelos curtos quase raspados e uma barba cheia, Braylock. O outro parecia ser mais jovem, tinha pele clara também, olhos verdes e cabelos castanhos que chegavam na altura dos ombros, mas que agora se prendiam em um coque baixo, Adam.

- Seus malditos fanfarrões! - brincou Edward ao se dirigir até a mesa, deixando Edgar sozinho na esperança de que ele voltasse o mais rápido possível.

- Você é só mais um, seu infeliz bastardo. - rebateu Adam. - Por que não senta e toma umas com a gente?
- Eu gostaria, tem mais um copo?

- Infelizmente não, você vai ter que buscar lá dentro. - disse Braylock ao gesticular para a taberna.
- Tudo bem, eu vou lá. - Edward entrou pela porta. Vendo que seu pai não voltaria, Edgar revirou os olhos. na mesma hora se lembrou de Bill, o modo de agir de seu pai era semelhante ao do rapaz quando se tratava de bebida.

- Ed, pode voltar pra casa, eu volto logo. - disse Edward, logo Edgar partiu.

- Claro, "eu volto logo" pra você significa "até o próximo inverno, filho". - resmungou Edgar em seu pensamento.

*************

    Edgar tinha caminhado cerca de 1 minuto e meio, sem pressa de chegar em casa.
De repente ele ouviu o grito de uma mulher, não por socorro, mas reclamando com alguém.

- Desça daí menino!

    Edgar olhou para onde vinha a gritaria e viu um menino, com aparência de um pouco mais de 10 anos, que estava em cima do muro de um orfanato. Estava sentado, com uma perna para o lado de dentro e a outra para o de fora. As pessoas da rua olhavam, curiosas com a situação, porém nada faziam.

- Desça do muro agora! Você é surdo? - a mulher continuou. Em meio aos seus gritos, era possível ouvir as crianças do orfanato gritando para que ele pulasse.
"Pula, pula, pula, pula"

    Após respirar fundo para tomar coragem, o menino pulou do muro. Ele tentou pousar normalmente, mas quando seus pés tocaram o chão, perdeu o equilíbrio e acabou caindo todo desajeitado. após isso, se levantou e saiu correndo. Edgar olhava aquilo imóvel, mas ele foi surpreendido por um senhor de idade que o cutucou no braço.

As crônicas de Kalahan: Olhos de dragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora