O sol raiava sobre a cidade, naquela tarde de meio-dia de segunda-feira. Era chegado o dia do baile, as pessoas ansiosas para o evento preparavam suas roupas mais elegantes possíveis. Embora este não fosse o dia em que o acordo de paz supostamente seria assinado, era vívida a movimentação nas ruas, pois era um dia simbólico para comemorar o fim de um ciclo de guerras sangrentas de gerações atrás.
Enid contemplou sua imagem no espelho da sua penteadeira de madeira branca, enquanto dava voltas para conferir seu vestido vermelho em ângulos diferentes. Suas mangas eram estufadas, a saia do vestido descia até seus tornozelos e seu cinto de couro bege tinha uma fivela de ferro com uma coloração dourada. Seu cabelos eram entrelaçados em uma trança que caía sobre seus ombros.
- Quero ir com esse! - disse Enid com brilho no olhar.
- Você está linda, filha! - bajulou Elanor. - Mas não use agora, ainda vamos almoçar, então, não tenha pressa.
- Mas eu me sinto tão bem com ele. - balbuciou.
- Você está horrível, tira isso. - a voz de Edgar soou zombeteira na entrada do quarto, fazendo a menina olhar em um sobressalto para o rapaz encostado à porta.
- Você que é horrível com esse cabelo despenteado! - disse Enid improvisando uma ofensa.
- Mas meu cabelo está sempre despenteado, boba.
- Parem já! - Elanor interviu. - Não vê que está provocando a menina?
- Ela devia saber levar as coisas na brincadeira. - Edgar cruzou os braços. Elanor arfou e se levantou dirigindo-se à porta.
- Troque de roupa e venha para a mesa, Enid. - disse ela encarando a menina de relance, antes de sair do quarto.
Edgar se despediu da irmã com um aceno de cabeça, mas Enid o respondeu com um dar de língua, fazendo-o rir.
Na cozinha, Edward abria o forno à lenha para tirar o frango abrasado. Ao coloca-lo sobre a mesa, o rodeou com tomates frescos, alface, beterraba, e algumas rodelas de batata e cenoura cozidas. Após isso, derramou no frango um molho especial que aprendera a fazer com Elanor quando eram mais novos. O cheiro da comida invadiu as narinas da esposa, que veio até a cozinha conferir o prato. Com o queixo apoiado no ombro de Edward, ela espreitou o frango. Ela deslizou suas mãos pelas costas nuas e marcadas por cicatrizes de confrontos passados do marido até chegar nos seus bíceps. Após isso passou a abraçar seu tronco e depositar um beijo no seu ombro.
- Parece delicioso. - disse ela.
- Meu bem, se tem algo delicioso nessa cozinha, esse algo é você. - disse Edward se virando para ficar cara a cara com ela e abraçar sua cintura, puxando ela para perto. Seus corpos ficaram colados enquanto Edward fitava os olhos verdes da mulher ruiva, com uma profundidade que conectava suas almas.
Antes que pudessem degustar os lábios um do outro, o clima foi interrompido quando Edgar pôs os pés na cozinha. Ao ver seus pais tão próximos, Edgar congelou seus passos surpreso.
- Desculpa, o cheiro da comida me atraiu. - disse ele coçando a cabeça, sem graça. Edward revirou os olhos.
- Tudo bem, já é hora de comer. - disse Elanor ao se afastar de Edward para pegar os pratos que estavam na prateleira e coloca-los sobre a mesa.
- Oba! - disse Enid entrando correndo na cozinha, e se sentando a mesa logo em seguida.
- Ah, já ia me esquecendo. - disse Edward ao se lembrar da jarra de suco, que estava em cima da pia. Ele pegou a jarra e logo após colocou sobre a mesa.
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As crônicas de Kalahan: Olhos de dragão
FantasíaEdgar Kalahan é um jovem que, desde criança, sonha em ser um guerreiro do reino de Goldenfall; reino este que guarda mágoas de conflitos passados com seu reino rival de gerações: Castlewind. Quando tinha apenas 10 anos, Edgar passara por um trau...