Capítulo 4

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A sala cheirava a frango assado e batatas, e um pouco da fumaça de cigarro de um possível Marlboro que a mãe de Jughead gostava de ter como recompensa no final de um dia difícil.

A recompensa de Alice era uma garrafa de wisky, que descia facilmente por sua garganta em um piscar de olhos.

Jughead se sentou e observou a refeição que cheirava tão bem -Frango, batas, arroz, salada e brócolis. Olhou para seu prato, um branco com um desenho de uma rosa no canto direito da borda.
Se serviu de um enorme pedaço de frango e muitas batatas. Um pouco de arroz e de brócolis, e deixou o pote de salada de lado.

-Onde está Betty, filho? -Gladys perguntou, dando um gole de seu refrigerante.

-Ela disse que estava vindo. -ele enfiou um pedaço do frango goela abaixo. Com certeza quem havia cozinhado era Alice, por que sua mãe não conseguia fazer uma comida tão gostosa.

-Betty tem que vir logo, temos uma notícia importante para contar! -Alice cantarolou.

Notícia importante? O que seria?

"Será que diriam que se apaixonaram e agora são um casal lésbico?" Ele pensou.

"Ou que as duas começaram a namorar? Seria o namorado das duas o mesmo cara?"

Antes que ele pudesse criar outra hipótese mirabolante e nem um pouco convincente, ele escutou uma porta no corredor se fechar levemente. Ao ver a loira, tentou disfarçar ao encara-la dos pés à cabeça.

Ela estava vestindo uma camisola regata, preta e cinza, que tinha achado no fundo do armário por que os outros estavam todos lavando. O cabelo estava solto e meio armado, mas ela tinha lido na internet que deixar o cabelo preso o tempo inteiro quebrava os fios, então os soltou, mesmo odiando. Estava com o começo de uma espinha no canto da testa, e ela havia esfregado horrores com sabonete anti-séptico para ver se ajudava, mas era propaganda enganosa. Olheiras debaixo dos olhos e dentes amarelados. Ela estava horrível. Pelo menos do ponto de vista dela.

Mas para ele não estava ruim.

Ele a viu, a camisola soltinha no corpo da loira, os cabelos soltos, com fios caindo sobre o rosto. Pousou o olhar no tronco da menina, admirando seus quadris largos e sua cintura fina. Suas coxas grossas e o contorno de seu corpo. Ela estava linda.

Jughead ficou tão estonteado pela visão da menina, que nada maldoso saiu de sua boca. Ele só sorriu. Ela deu um sorriso amarelo:

-Perdeu alguma coisa, idiota?

Ele engoliu em seco. Tinha voltado -se lembrou que se odiavam.

-Não... -ele deu de ombros, com um ar debochado- Só estava vendo se achava seus peitos. -ele colocou a mão sobre os olhos e os semicerrou, como se procurando algo no sol- Não, nada. Quem sabe com uma lupa?

-Jughead! -Gladys repreendeu. O moreno simplesmente a lançou um olhar de "O que eu fiz?" E deu um gole do refrigerante.

A loira se encolheu, cruzando os braços para cobrir os pequenos seios. Olhou o que havia na mesa, e pegou o pote de salada. Fez uma montanha de folhas, com alguns pedaços de tomate.

O cheio do frango e das batatas a fazia salivas, mas ela tentou não olhar para o prato. "Você já não está gorda o suficiente?" Ela torturou a si mesma. "Ninguém vai te querer se você for gorda." Brigou mentalmente, enfiando uma enorme folha de alface na boca.

Eca, como alface era ruim... "Mas é isso que as meninas magras comem. E os meninos gostam das meninas magras." Engoliu mais algumas folhas.

A sala de jantar estava silenciosa, até que Jughead provocou:

-O gato comeu sua língua, Elizabeth?

-Cala a boca. -ela falou baixinho.

-O que?
-Eu disse CALA A BOCA! -ela se levantou da cadeira, gritando- Eu não aguento mais você me maltratando! Desde que eu me conheço por gente, nós brigamos, e você me maltrata! E eu estou de saco cheio!

-Betty... -Alice tentou parar a loira.

-Você que é um pé no saco! -ele também se levantou, e os dois gritavam com a mesa entre eles- Sempre atrás, sempre me enchendo a paciência, eu não aguento mais!

-Jughead... -foi a vez de Gladys.

Os dois começaram a gritar desesperadamente um com o outro, sem se e te der, e as mães tentavam chama-los, sem sucesso.

-Eu te odeio!

-Eu te odeio!

-Chega!!! -Alice deu um berro estrondoso, fazendo os dois briguentos calarem a boca- Sentem.

Os olhos de Alice estavam cheios d'água, e ela fungou:

-Vocês dois sabem o quanto eu e Gladys trabalhamos duro para que vocês tivessem uma vida digna? -eles dois permaneceram em silêncio- E estamos tão, tão cansadas de escutar vocês dois enchendo a paciência! Por isso nós vamos viajar.

-Viajar? Para onde? -Jughead se animou.

-Elas vão viajar, idiota. -Betty revirou os olhos, e voltou a atenção à sua mãe- Continua, por favor, mãe.

-Nós vamos passar dois meses em um cruzeiro. -Gladys falou- Sem filhos, sem preocupações. Tem dinheiro suficiente no cofre, vamos pagar as contas à distância e já está tudo acertado.

-E vocês dois vão ter que se entender. -Alice concluiu.

-Quando vocês vão? -a menina perguntou.

-Amanhã de manhã.

-Posso ficar com a sua suíte? -o moreno perguntou a mãe.

-Nem pensar. -Gladys sorriu- Minha suíte estará trancada, assim como a de Alice

-Certo. -Betty assentiu, sua salada já no final. Ela engoliu com dificuldade a última folha verde em seu prato e sorriu, tirando a mesa- Espero que consigam descansar. Sei que conviver com Jughead é um inferno.

-E eu sei como viver com Elizabeth pode te dar vontade de se matar de vez em quando. -ele sorriu debochado, observando a loira rebolar até a cozinha.

-Espero que isso resolva as coisas entre vocês. -Alice deu um sorriso para Gladys, e as duas se puseram a conversar.

O moreno engoliu o resto da comida, e seguiu com seu prato para a cozinha. Betty estava terminando de secar sua louça:

-Dois meses só com o embuste... vai ser como uma chacina nessa casa. -ela se virou para ele ao provocar, e então seguiu para a porta. Antes de sair, se virou e sorriu maldosamente- Que os jogos comecem.

Ao assistir Elizabeth seguir para o corredor, Jughead bufou.

"Preferia que ela tivessem dito que são lésbicas." Ele pensou.



AMINIMIGOS -bugheadOnde histórias criam vida. Descubra agora