Betty caminhava calmamente pelas ruas, saindo do treino de futebol, no meio da tarde, cansada e suada. O treino acabava as quatro horas, e eram quase quatro e quinze.
A rua estava vazia demais para uma tarde de sexta feira, mas Betty não deu muita importância, focando na música que cantava baixinho desafinada.
Quando, de repente, escutou alguém na rua além dela. Não devia ser nada, mas precisava se manter atenta.
Virou a esquina; os passos a acompanharam. Suspirou pesadamente. Começou a olhar ao redor, procurando por comércios e pensando na casa de todos que conhecia, se alguém morava por perto, do mesmo jeito que vira na internet.
Os passos continuavam. Não era passos pesados atrás de si; o que a levou a conclusão de que não era um homem.
Seria um garoto? Talvez um assaltante? Se fosse um assalto, Betty entregaria tudo e faria o que eles mandarem, que nem sua mãe ensinara.
"Se for só um pervertido, meto-lhe logo um chute no saco e um soco no gogó e saio correndo." Ela concluiu. Estava prestes a dar uma espiada para trás, quando sentiu um puxão em seu braço.
-Betty! -uma voz estridentemente aguda lhe proporcionou uma onda de alívio e ranço pelo seu corpo ao mesmo tempo. Era Caroline.
-Caroline, oi! -ela deu seu melhor sorriso, um que ao mesmo tempo dizia "Oi, amiga, te adoro", e "Ai, vaca, não tá vendo que estou sendo falsa?", e a loira retribuiu com uma expressão semelhante.
-Como vão as coisas com o Jughead..? -a voz da garota ficou levemente trêmula ao pronunciar o nome do colega de apartamento da loira. Ela deu um sorriso debochado:
-O Jug? -virou a cabeça de lado- Você não soube? Nós estamos namorando! -ela bateu uma palma animada.
-Não estou vendo anel nenhum, querida. -ela arrebitou o nariz metido (e psicopata).
-Eu tirei. -ela sorriu- Estava no...
-... treino de futebol! -Caroline completou- Eu sei. Te segui de lá até aqui.
-Ah... -Betty assentiu lentamente com um sorriso, surtando mentalmente.
"Perigo! Perigo! Stalker! Perigo!"
-Bom, eu tenho que ir. -ela concluiu, querendo fugir da ex de seu atual o mais rápido possível- Tchau! -se virou e começou a andar rapidamente.
-Não vai durar uma semana... -ela escutou a psicótica falar, um tom de vitória.
-O que disse? -a loira se virou para a mais baixa.
-Eu disse: Não vai durar uma semana. -repetiu.
-Ah, é? Por que?
-Por que, para ele, você não passa de uma mera experiência, bobinha. É a mim que ele ama. Não você.
-Há! Tá bom. -Betty cruzou os braços rindo.
-Estou falando sério. Ele dizia que amava meu corpo, como eu era magra e escultural... e você... -olhou a mais lata de cima a baixo, dando um risinho- Não tem nem corpo escultural, nem é magra.
Betty permaneceu em silêncio, fingindo não ter se abatido, mas sentindo as palavras da garota louca consumindo seu sangue.
-Enxergue, Elizabeth: os meninos não gostam de garotas gordas como você! Só um conselho de amiga, por que mulheres devem se ajudar; aprenda logo que você não tem chance, por que as meninas magras sempre conquistam o garoto no final.
-Veremos, menina maluquinha. -ela sorriu, mas por dentro só queria gritar.
A louca tremeu de raiva, parecendo que ia explodir:
-Argh! Vaca! -girou no calcanhar e saiu andando raivosamente pela rua, pisando tão duro que Betty jurava que ia acabar quebrando o asfalto.
Ela seguiu andando até sua casa, digerindo as palavras da menina.
"aprenda logo que você não tem chance, por que as meninas magras sempre conquistam o garoto no final".
Será que era verdade? Ele realmente achava Caroline mais bonita?
Subiu o elevador e bateu a porta, gritando por Jughead, que não respondeu. Seguiu para o quarto se desmontando do uniforme de futebol e tirou a blusa, se virando de perfil para o espelho.
Ela tinha engordado um pouco desde que começara a sair com Jughead; afinal ele a mimava com besteiras o tempo todo, e os dois estavam sempre comendo. Ela também não estava mais correndo, por causa do incidente de alguns dias antes.
Os seios continuavam pequenos, as pernas permaneciam molengas e flácidas, e a única coisa que mudara fora sua barriga, que crescera de tamanho. Lágrimas começaram a escorrer pelos seus olhos, uma súbita vontade de ceder aos velhos hábitos.
Tinha que fazer alguma coisa.
-Jughead! -sussurrou, caçando o telefone na sua cama. O contato do moreno estava nos seus favoritos, e ela iniciou a chamada.
Tocou, tocou, tocou... e nada do moreno atender. Caixa postal.
Desligou. Ligou de novo.
Caixa postal.
-Jughead, atende, por favor, atende... -sussurrou- Eu preciso de você...
"Ele já não me quer mais... ele... ele finalmente enxergou como sou feia. Como sou gorda."
Ela chorou ainda mais, finalmente se decidindo.
Se arrastou até o banheiro, o peso na consciência. Ela não fazia mais aquilo.
Mas precisava... ela queria ser magra.
Se ajoelhou no chão, dois dedos da mão levantados. Suspirou. Ai ver seu reflexo na água da privada, a papa gigantesca em seu pescoço, tomou impulso e investiu.
Deu descarga.
Queria parar, mas ao mesmo tempo não queria. Apoiou os braços na privada e deitou a testa neles, chorando. Levantou a cabeça.
"Ele dizia que amava meu corpo, como eu era magra e escultural... e você... Não tem nem corpo escultural, nem é magra."
Deu mais uma investida. As lágrimas rolavam pelo seu rosto. Ela queria ser bonita. Era a única coisa que pedia. Por que não conseguia?
Investiu mais uma vez, pensando na imagem horrorosa que era seu corpo. Deu descarga.
Chorou, apoiada na parede do banheiro, ao lado da privada. Estava prestes a dar a próxima investida, quando a porta do banheiro se escancarou.
-Betty! -ele gritou.
-Jug! -ela se levantou e pulou nele, desesperada- Me ajuda a parar... eu não consigo parar... -ela chorou. Ele a pegou no colo e a carregou até o próprio quarto.
-Eu estou aqui, está tudo bem... -ele acariciava os cabelos dela, que chorava freneticamente.
-Eu tentei, eu, eu...
-Shh... fica calma. Eu vou cuidar de você. -ele falou baixinho.
O choro dela foi baixando até se tornar calmo, ainda que sofrido. Ele beijou o topo da cabeça dela, que tinha o rosto afundado nele, inspirando e expirando pesadamente. Ela fungou.
-Eu não acredito que tive que te tirar dessa enrascada de novo... -ele sussurrou, com ela ainda no colo, um choro baixo e mais calmo do que o excêntrico de momentos antes.
-Me desculpa... -ela murmurou- Me desculpa, Jug...
-Meu amor... não tem o que se desculpar.
-Me desculpa por não ser magra. -ela sussurrou- Eu vou entender se você preferir uma menina mais bonita...
-O que?! -ele franziu a testa, como se a garota tivesse dito o maior absurdo do mundo- Eu nunca te trocaria por nenhuma garota no mundo! Por que eu amo você e só você.
-Você jura?
-Eu juro. Eu juro que eu amo você e só você para todo o sempre.
Ela sorriu e afundou o rosto no ombro do garoto.
Estava tudo bem agora, ela estava segura. Jug estava lá para cuidar dela.
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AMINIMIGOS -bughead
Подростковая литератураSinopse: "Alice Cooper e Gladys Jones, duas amigas desde crianças, que cresceram na vasta e agitada cidade de Nova York. Viveram juntas, se formaram, e aos vinte e sete anos, tiveram suas vidas viradas do avesso. Uma delas separada recentemente, e a...