Capítulo 7

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A casa nunca tinha estado tão silenciosa.

Não se escutava a briga pelos chuveiros - cada um tomou banho rapidamente para respeitar o outro.

Não houveram discussões durante o café da manhã sobre visitas - nenhum dos dois levaria ninguém em casa naquela manhã.

Nenhum dos dois disse nada. Por que sabiam o que ia acontecer.

Dado o horário combinado, os dois se encontraram na porta. Jughead estava tremendo, os cabelos cacheados naturalmente e jaqueta de couro. Ao se estivar para abrir a porta, era possível ver o quão trêmulo estava - mal conseguia girar a maçaneta.

Betty, muito prestativa, colocou a mão por cima da dele. O moreno a encarou, e ela deu um breve sorriso, como que dizendo "Tudo ficará bem". Então, com a mão dele sob a dela, girou a maçaneta.

Mais silêncio no carro - a única coisa que se ouvia era o baixíssimo som do carro, onde passavam notícias, e os suspiros pesados e carregados de preocupação dos dois.

O carro de Jughead tinha um cheiro bem diferente - parecia uma mistura de granola e batata frita, como se ele tivesse comido um pote dos dois naquele carro segundos antes.

O carro dele não tinha nada a ver com a bagunça do carro; era tudo organizado e sem nenhuma migalha ou coisa fora do lugar.

Ainda em silêncio, Jughead estacionou na porta do prédio de Josie, e ambos saíram do carro. Poucos minutos depois, a morena apareceu pela portaria, seguindo lentamente até os dois. Seu rosto estava encharcado.

Ela pulou em Jughead, e ele a segurou apertado. Os ombros da menina sacudiam de acordo com a força dos soluços, e ele também parecia desamparado.

Assim que se separaram, a morena correu para os braços da loira:

-Obrigada por vir com a gente. -Josie soluçou.

-Sempre. -Betty sentiu vontade de chorar naquele momento.

Assim que as duas se separaram, Josie foi para o banco de trás e se deitou lá. Jughead e Betty seguiram novamente em silêncio, mas com as mentes fervilhando.

Ao chegar na clínica, Betty foi quem ajudou Josie a preencher formulários e a se preparar para a cirurgia - mas não foi por egoísmo do moreno; ele estava completamente devastado. Não sabia o que fazer, estava pálido e nervoso.

Betty nunca tinha o visto daquela maneira.

Josie seguiu em uma maca, deixando os dois sozinhos na sala de espera. Havia pelo menos outras quinze mulheres lá.

Betty imaginou o que aconteceria se ela fosse uma das meninas que engravidara. Com certeza ela entraria em pânico.

O único barulho que escutavam na recepção era o "tic tac" do relógio.

Uma mulher chorou na sala de espera, algumas fileiras de cadeiras mais a frente. Betty engoliu em seco.

Ele pegou a mão da loira, e uma lágrima escorreu pelo seu rosto:

-Eu estou com medo, Betty. -ele murmurou- Se algo acontecer com ela, eu não vou me perdoar.

Ela apertou a mão dele, e com a outra secou a lágrima do rosto do moreno:

-Vai dar tudo certo, confia em mim.

Ele deu um risinho:

-É irônico, mas eu confio muito mais em você do que em mim mesmo.

-Todos confiam mais em mim do que em você, idiota. -ela lhe deu um empurrão de brincadeira, tentando deixar o clima mais leve.

O procedimento durou algum tempo, e a mão de Jughead na de Betty ficava cada vez mais trêmula.

Ele não disse nada.

Ela não disse nada.

Até que, quando os médicos vieram dizer que ela estava bem e que ela logo poderia ir embora. Quando os médicos saíram, Jughead soltou:

-Eu vou terminar com ela.

-Hum?

-Vou terminar com ela e todas as outras meninas. Não quero passar por isso de novo.

-Vai fazer um voto de celibato, é? -ele perguntou meio provocando.

-Estou falando sério, Betty. -ele a encarou, as mãos ainda dadas- Eu vou ter só uma menina agora. Quando eu realmente gostar de alguém, vou fazer a coisa certa; ir em um encontro, depois alguns outros, chamá-la de "minha namorada". Vou fazer as coisas como devem ser.

-Uau, Jughead.

Nenhum dos dois disse mais nada.

Uma meia hora depois da revelação de Jughead, Josie apareceu na recepção.

Betty imediatamente andou até ela e a abraçou. Josie já não chorava mais, e agora parecia mais calma.

Entraram todos no carro, e seguiram novamente em silêncio.

Assim que pararam na casa de Josie, Jughead desceu com ela.

Ele não disse nada a Betty, mas ela entendeu perfeitamente. Aumentou o som do carro e tentou não olhar para o futuro ex-casal.

Uns dez minutos depois, Jughead entrou no carro. Ele ficou parado em frente ao volante por um momento. Betty desligou o rádio:

-E aí? Tudo certo?

-Eu fiz o que tinha que fazer. -ele suspirou- E agora tenho que terminar tudo com as outras.

-Vamos para casa então.

Jughead finalmente deu partida, saindo da rua de Josie, mais uma vez sem nenhuma palavra dos dois.

Aquele com certeza era o dia mais silencioso da vida dos dois.

Já em casa, os dois entraram e jogaram sues casacos no sofá. O cheiro de papel queimado e livro novo tomou conta do olfato dos dois e Betty sorriu. Estava tudo bem. Eles estavam em casa agora.

Ela seguiu para a cozinha e encheu um copo de água, o virando rapidamente.

-Ei, Betty? -Jughead chamou, e a loira se virou.

-Oi?

-Eu não tive a chance de te agradecer por hoje. -ele se encostou na bancada- Eu sei que nunca fui legal com você... na verdade sempre fui o contrário disso.

-É, você sempre foi um babaca.

-E não me arrependo. -ele deu um riso debochado- Mas você foi madura e me ajudou. Obrigado.

-Não precisa chorar de emoção, garotinha. -ela piscou- Eu te ajudo a costurar um vestido bonito.

-Idiota. -ele riu junto com ela, que saiu pela porta- Boa noite! -ele gritou.

-Boa noite! -escutou a porta do quarto da menina fechar. E o chuveiro ligar.

-Ah, Betty... -ele já sabia o que ia acontecer

-Nem vem, é minha vez de acabar com a água quente!

O moreno logo começou a bater na porta. Mas, daquela vez, eles não estavam realmente brigando; era mais como uma piada interna, algo que só eles dois conheciam.

Aquele foi o dia em que tudo começou.



AMINIMIGOS -bugheadOnde histórias criam vida. Descubra agora