Não falamos muito durante o jantar e nem enquanto limpamos a louça. Sentamos na sala com nossas taças de vinho e ele liga a TV.
Uma foto em um porta-retrato na mesa ao lado do sofá chama minha atenção, e eu me aproximo para ver mais de perto. Sr. Turner está sentado com uma garotinha no colo, e os dois tem um enorme sorriso no rosto. Adele estava sentada ao lado, e dois meninos beijavam suas bochechas, um de cada lado.
- Eu tinha 9 anos nessa foto. – Olho para Peter, e ele tinha o olhar fixo na imagem. – Meu irmão, Kevin, tinha 6, e minha irmã, Bertha, tinha 4. Era uma época boa. Minha maior preocupação era fazer mais gols que o Kevin. – Ele sorri. – Eu não fui sempre assim.
- Assim como? – Me ajeito para olhar para ele, e coloco as pernas em cima do sofá.
- Desse jeito. – Ele levanta os ombros. – Desse jeito que você conhece, e que você odeia. Eu não fui sempre um babaca. – É impossível não rir do que ele diz.
- Foi uma evolução, então?! – Ele rola os olhos, mas sorri.
- Eu sabia que eu ia assumir a T. Motors. Meu irmão nunca se interessou muito pelo negócio, e minha irmã muito menos. Mas eu gostava. Me fascinava. À medida que eu ia ficando mais velho, mais meu pai me mostrava sobre o que ele fazia, sobre a empresa e sobre o negócio em si. Ver aonde ele chegou é incrível, sabe? Ainda mais porque foi com trabalho duro. – Concordo com a cabeça. – E aí eu fui me preparando para assumir a presidência.
- E você achou que era responsabilidade demais? – Ele nega com a cabeça.
- Não. Quer dizer, é claro que tem muitas responsabilidades. Mas o ponto é que eu comecei a ser cobrado demais. Por mim mesmo, pelo meu pai, pela minha mãe, por todos que estavam ao meu redor. Todos queriam que eu seguisse rigorosamente os passos do meu pai, que eu fizesse tudo o que ele fez. Mas eu não sou o meu pai, sabe? Eu sou diferente, penso diferente dele em muitas coisas, tenho outras ideias. Mas exigiam que eu fosse como ele. Aí eu comecei a agir dessa forma.
- Pra mostrar que você é diferente dele, e que pode fazer o que quiser? – Ele concorda com a cabeça.
- Idiota, né? Eu sei. Mas era o que eu achava que ia funcionar. Só que isso foi indo longe demais, e cada vez mais eu queria fazer só o que eu quisesse. Aí eu investi num projeto muito caro, que não deu retorno, e o resto da história você já conhece.
- Entendi. É idiota, sim, mas eu não julgo. Acho que se estivesse no seu lugar, faria a mesma coisa. – Ele olha para mim indignado e rola os olhos.
- Você?! Até parece! – Estreito os olhos para ele e bebo um gole do vinho que está na minha taça. – Mas e você, Carol?
- Eu? O quê?
- Qual é a sua história? Como você se tornou a Carolina Campebell, salvadora da Pátria para os meus pais? – Dou risada e sinto minha cabeça pesar com o efeito do álcool.
- Exagerado... – Ele ri. – A minha mãe morreu quando eu tinha 7 anos. – Engulo em seco, e ele se ajeita do sofá.
- Eu sinto muito, eu não sabia. – Sorrio.
- Não, tá tudo bem! – Respiro fundo. – Ela morreu quando a minha irmã nasceu. Então de uma hora para outra, éramos só meu pai, eu, e minha irmã recém-nascida. Minha família não é muito grande, e meus avós não moravam na mesma cidade que nós. Então meu pai teve que cuidar de nós duas sozinho. Ele trabalhava o dia todo, e tínhamos uma mulher que ajudava em casa. Ela não era exatamente uma babá; mas cuidava da minha irmã, e fazia o serviço da casa.
Faço uma pausa e respiro fundo. Era difícil lembrar da minha mãe e não sentir um vazio gigante no peito.
- Eu ajudava no que podia e conseguia. Passava a tarde toda com a minha irmã, brincava, dava comidinhas, fazia meu dever da escola. Eu fazia tudo o que conseguia, porque sabia que meu pai sempre chegava exausto do trabalho. – Levanto os ombros. – E eu me via responsável pela minha irmã e por cuidar dela a maior parte do tempo. Eu me privei do lado bom da minha infância, porque toda essa responsabilidade que eu achava que eu tinha me fez amadurecer muito mais rápido do que eu deveria.
- Para ajudar seu pai. – Ele fala e eu concordo com a cabeça.
- É... Mas é claro que teve seu lado bom também. Isso me ajudou a ser mais centrada, mais responsável, mais séria, mais consciente, e influenciou muito para eu ser quem eu sou hoje. – Levanto os ombros mais uma vez.
- Uma mulher incrível. – Olho para Peter, que tem os olhos fixos em mim. – É sério, você é incrível. – Sorrio sem graça, e desvio o olhar.
- Obrigada! – Ele sorri.
- E seu pai e sua irmã moram aqui?
- Não. – Nego com a cabeça. – Meu pai acha o Canadá frio demais para ele. – Rio. – Ele mora com a minha irmã na Flórida, em Miami.
- Justo!
Ficamos em silencio por alguns minutos, e eu processo todo esse momento de paz que tivemos aqui. Se alguém me dissesse que um dia eu estaria sentava com ela na sala da casa de inverno dos pais do Peter, e teria uma noite agradável e que conversaríamos sobre nossas vidas, eu iria rir na cara da pessoa e a chamaria de louca.
- Nossa, eu nem vi a hora passar. – Ele checa o celular.
- Nem eu. – Coloco a taça na mesinha de centro. – Eu vou dormir. – Nos levantamos ao mesmo tempo.
- Eu vou indo também. – Concordo com a cabeça. – Obrigada por ter me acompanhado hoje, Carol. Foi muito bom.
- Imagina! Foi bom ter vindo. – Sorrio. – Boa noite, Peter.
- Boa noite. – Ele diz baixo.
Dou dois passos em direção ao quarto em que eu passaria a noite, mas paro assim que escuto ele me chamar.
- Carol...
- Oi? – Viro para ele.
Suas mãos seguram minha cabeça e seus lábios beijam os meus. Seu perfume forte me deixa zonza, e eu amoleço nos seus braços fortes. Os beijos vão ficando cada vez mais intensos, e caminhamos às cegas pelo corredor. Ele me prende na parede antes de entrar no seu quarto, e desce os beijos para o meu pescoço. Minha respiração já está completamente desregulada, e eu agarro seu cabelo quando ele deixa um chupão naquela região.
Seus lábios sobem até estarem próximos ao meu ouvido e outro arrepio percorre todo o meu corpo.
- Eu preciso saber se você quer isso. – Sua voz rouca me leva para outra dimensão, e eu esqueço como se elabora uma única frase.
Coloco minhas mãos na sua nuca, e o puxo para o beijar de novo. Ele entende a minha resposta, e me aperta em seus braços. Entramos no seu quarto, e eu me deixo levar pelo prazer que ele me faz sentir.
Eu me entrego à ele sem nem pensar duas vezes.
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Era Para Ser
RomanceCompletos opostos. Ele é mimado, rico, gosta de esbanjar, herdeiro de um império, esnobe e grosseiro. Ela é firme, determinada, dedicada e com o único objetivo de controlar as atitudes dele. Foram obrigados a conviver juntos, e apenas faziam isso p...