Foi, como esperado, humilhante ser guiada pelo casarão de Blackhawk enrolada em um lençol velho que a anfitriã trouxera.
— Por que brigaram dessa vez? — Perguntou Sra. Caroline Doyle, a dona da casa, uma senhora de meia idade com forte sotaque italiano e adoráveis covinhas nas bochechas redondas.
— Porque Tim é um cachorro infectado pela raiva! — Uma das crianças que os perseguia opinou.
— Dean! — E uma das filhas mais velhas da casa o repreendeu.
— Foi a vovó que disse! Não foi, Nancy?
— Foi!— Uma garotinha ainda menor confirmou, animada demais com o entretenimento fornecido pela chegada triunfal dos hóspedes.
— Calem a boca todos vocês! — A anfitriã ordenou.
Lorna e Caroline à guiaram pelos ombros até um dos quartos, e a garota mais velha que as acompanhava entrou junto.
Logo em seguida a porta foi fechada na cara das crianças.
— Eu não sei o que deu nele, Jesse apenas se ofereceu para ajudar a Srta. Desmond à descer... — Lorna explicou, ainda com as bochechas rosadas como se besuntadas de beladona.
— Ohh, entendo. — Sra. Caroline assentiu, com os olhos grudados em Elena, como se pudesse entender tudo apenas a olhando. — É noiva de Tim?
— Não! — Exclamou com todo seu fôlego. O ímpeto de se defender sendo mais forte que a boa educação. Por piedade à Sra. Lorna, e apenas à ela, acrescentou: — Tim e seus pais são como parentes para mim.
Pela risadinha da prima dele, ela não fora convincente o bastante.
— Adela! — Para sua sorte a anfitriã se esqueceu dela, exclamando o nome da filha como se presenciasse um crime. — Esse lençol é do meu enxoval de casamento!
A garota arregalou seus olhos de lago no verão.
— A senhora me mandou pegar um dos velhos! — Ela argumentou. — Seu casamento foi há...
— Esqueça isso, — A mãe desistiu, sem deixá-la terminar. — Ao menos faça o favor de ficar aqui com a Srta. Desmond enquanto Lorna e eu preparamos um banho para ela e cuidamos para que a bagagem dela chegue ao quarto certo.
— Vai ficar tudo bem, querida. — Sua acompanhante a assegurou antes de seguir a anfitriã para fora do quarto.
É claro que tudo ficaria bem, como poderia ser pior?
As duas mais velhas deixaram Elena ali de pé, sem ter coragem de sujar algo se sentando, em companhia apenas da Srta. Doyle.
— Eu sinto muito. — A garota disse, não permitindo que o silêncio tornasse ainda pior o momento. — Você nem é nossa parente, não deveria ser obrigada a passar pelo que todos nós passamos quando aqueles dois resolvem se atracar. — E riu. — Se te serve de consolo eu tenho uma cicatriz no braço porque, quando eramos crianças, Tim me empurrou sobre uma chavena ao tentar acertar um murro em Jesse.
Ela ergueu o braço, apontando para um ponto específico do braço que Elena não poderia ver graças à seda cobrindo.
— Eles brigam tanto assim?
Srta. Doyle bufou e balançou a cabeça. Em tom de riso prosseguiu:
— A senhorita nem pode imaginar o quanto. Acho que já nasceram se odiando... — Ela ponderou sobre algo silenciosamente, então acrescentou: — Embora tudo tenha piorado há alguns anos, foi quando se apaixonaram pela mesma moça.
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Woodrest: Tempestades no paraíso
Historical FictionLIVRO I Elena Desmond era a quarta de oito filhas, e não tinha sequer um irmão. Era também a que diria sim à qualquer um para dar ao pai o alívio de uma filha a menos para se preocupar, não importava quem fosse o pretendente. Ao menos até conhecer C...