No intervalo entre o almoço em Woodrest Park e o dia do compromisso, Sr. Hunter não apareceu uma única vez. Elena, no dia marcado, chegou a pensar que ele não apareceria, que algo o tivesse prendido. Mesmo assim, comunicou de qualquer forma à família o fato de que talvez Sr. Hunter fosse aparecer com a filha para buscá-la para irem as compras de materiais de pintura para a menina.
Sr. Desmond permitiu sem dar muita atenção e Celestine lamentou não poder ir junto estando já tão em cima da hora, mas Louise... Louise fez os demônios dos sermões parecerem mais mansos.
— Isso é um absurdo! — Disse à Elena, mesmo que essa estivesse dando atenção apenas ao espelho. — Por que ele te convidou ao invés de mim? Eu também pinto!
Ela reclamava pelo que parecia ser a milésima vez. Seus pulmões precisavam ser parabenizados por mantê-la falando e falando sem pausas para respirar sempre que voltava àquele assunto, e ela nem sequer ofegava.
— Sabemos. — Respondeu enquanto ajeitava suas luvas.
— Isso não é justo... — A lista de argumentos que se seguiam eram proferidos com tamanha rapidez que se o ouvinte não prestasse atenção, e realmente Elena não o fazia, pareceria quase uma cantoria irlandesa.
E sobre Sr. Hunter e a filha talvez não aparecerem: Elena estava errada.
No horário presumido pôde ver se aproximar a carruagem conduzida por um criado de Northwind Hall, e dela viu descer Sr. Hunter e uma garotinha loira vestida em azul.
Elena então foi para o armário procurar o bonnet castanho-amarelado que esperava não ter sido surrupiado por uma das irmãs ou pela própria Delphine, e depois de alguns minutos, desistindo, pegou um preto e se apressou a descer.
O encontrou já no hall apresentando sua filha aos Desmond.
Elizabeth Hunter era uma garotinha adorável, embora um tanto tímida e de expressão assisada. Tinha os cabelos da mãe, ou talvez de um loiro menos acinzentado e mais brilhante. E traços delicados em um rosto comprido de pele de porcelana e os mesmos olhos azuis chamativos do pai.
— E aquela, — Apontou Sr. Hunter para ela quando finalmente a notou no fim da escadaria, onde tinha apenas os assistido. — É a senhorita Elena. Ela é quem vai conosco nos ajudar a comprar seus materiais de pintura.
A garotinha lembrava muito à mãe. A olhou com o mesmo olhar tímido de Angelina e sorriu educadamente, apesar disso.
— É um prazer, Srta. Hunter. — Lhe devolveu o sorriso, torcendo para que ela perdesse logo a timidez.
Infelizmente nem todas as crianças eram como sua irmã Celestine que não precisava de motivo algum para agir como se conhecesse a nova pessoa há séculos.
— Como se diz? — Casper incentivou a filha.
— O prazer é meu. — Ela respondeu rapidamente.
— Oh, como é adorável! — Sra. Desmond exprimiu, ou melhor: cantarolou, com a voz aguda e animada que teria uma adolescente. Tinha as mãos sob o queixo tão derretida quanto Cecília parecia estar. Eram duas manteigas sob o sol sempre que viam uma criança fofa ou uma animalzinho.
Elena se despediu rapidamente, sem querer atrasar o passeio, e seguiu os Hunter até a carruagem, sem nem sequer dar tempo à Sra. Desmond de se lembrar de oferecer chá.
Sr. Hunter ergueu a filha pela cintura e a colocou dentro, a jogando propositalmente de mal jeito, fazendo-a rir e reclamar. E em seguida ofereceu a mão a Srta. Desmond para lhe ajudar a se acomodar. A pequena Elizabeth se aproximou da janela e ali grudou, esperando a carruagem andar para ver toda paisagem que pudesse. Ainda tinha a vã esperança de ter uma viagem que fosse tão interessante quanto o caminho de Londres à Lakeshire que viu durante a mudança. Os cavalos voltaram a andar assim que o Sr. Hunter se sentou ao lado da filha.
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Woodrest: Tempestades no paraíso
Historical FictionLIVRO I Elena Desmond era a quarta de oito filhas, e não tinha sequer um irmão. Era também a que diria sim à qualquer um para dar ao pai o alívio de uma filha a menos para se preocupar, não importava quem fosse o pretendente. Ao menos até conhecer C...