Casper Hunter deu a ela o sorriso mais nervoso que já havia lhe dado na vida, ao se levantar e passar por ela.
A porta fechou, com um ruído baixo, e o silêncio se tornou tamanho que mesmo o barulho de seus passos até a mesma cadeira que ele ocupava antes, e as saias farfalhando pelo chão, eram um ruído até mais alto que a porta que se fechou.
— Então...? — Ela perguntou.
O silêncio entre isso e seu pai falar, era tanto que entre ele pôde até ouvir uma baixa conversa do outro lado da porta. Vozes de Hunter, e uma feminina, que poderia ser qualquer uma de suas únicas companheiras de segredo.
— Hunter pediu sua mão. — Ele disse, e não demonstrou nem felicidade nem descontentamento.
Então coube a ela sorrir, provavelmente um sorriso mais nervoso que o de Hunter, mas ainda honesto.
— O senhor aceitou?
— Eu quis te consultar antes, é a sua mão afinal, está presa ao seu pulso e a todo resto. — Mas ao menos, ele perdeu a postura rígida, e se sentou mais recostado à própria cadeira. — Você gosta da ideia?
— O senhor visitou a propriedade dele em Lakeshire, é boa? Gostaria de ver sua filha um dia ser a senhora de Northwind Hall?
Ele estreitou seus olhos, e pareceu pensar.
— Não sei se é boa o bastante para ver minha filha se tornar a segunda esposa de um homem com tantos filhos...
Ela riu.
— Hipocrisia é tão feio, pai! E as crianças dele... Você se lembra de Elizabeth? Compare Elizabeth à mais quieta de nós filhas da mamãe e veja como nunca tivemos chances de chegar aos pés dela! Mesmo Cecília ou Felícia!
— É diferente, e você sabe.
— Diferente de que maneira?
— Delphine e eu estávamos apaixonados, seria tortura se não nos casassemos. E eu não achei que fosse amar outra mulher como amei Norah, e realmente não amo, mas amei Delphine de uma forma diferente, tão forte quanto. Não é como Hunter... — Ele apontou para a porta. — Ele me deu um discurso. Razões pelas quais você é a única mulher nesse condado, e talvez na Inglaterra, que ele vá pedir a mão. Disse que vai amá-la, me fez mil promessas, mas... É isso. Você é adequada. Como a última Sra. Hunter foi.
O sorriso de Elena vacilou, mas não sua determinação.
— Mas eu gosto dele. — Gostava muito, há muito tempo, mas nunca poderia admitir. — Gosto de como ele sempre é respeitoso, como traz felicidade... Vê como sempre estamos rindo em torno dele? As meninas o adoram, elas o tratam como um membro da família e ele sempre foi gentil com elas, sempre está com uma pendurada no colo, ouvindo suas perguntas estupidas e histórias piores ainda! — Ela riu. — Lembra que uma vez ele me ajudou a plantar Elfrieda para Celestine? Ah, e ele atura os destemperos de Louise! Nunca reclamou quando Delphine errou a quantidade de doce no chá dele, nunca fez nada que a desagradou como um convidado. E ele gosta de você, você não gosta dele?
— Você não pensou nisso tudo só agora, não foi?
Ela balançou a cabeça.
— Se tivesse, ainda seria válido, mas o senhor sabe que quero sempre por as cartas na mesa antes do tempo, e sequer acabei: Enright e Hays moram longe, raramente estão aqui. Mas eu poderia estar mais perto de casa, e ele também. Eu posso sempre vir visitar, e o senhor pode ir até lá fazer essas coisas estranhas de pai e filho com ele, como pescar ou atirar em pobres patos. E eu gosto disso tudo, gosto dele. Não de Jesse Doyle, que é meu bom amigo que provavelmente noivará ainda esse ano, mas dele. — Foi a vez dela se inclinar para mesa, e descansar seus antebraços lá. — Diga sim, pai, me deixe ser a Sra. Hunter.
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Woodrest: Tempestades no paraíso
Historical FictionLIVRO I Elena Desmond era a quarta de oito filhas, e não tinha sequer um irmão. Era também a que diria sim à qualquer um para dar ao pai o alívio de uma filha a menos para se preocupar, não importava quem fosse o pretendente. Ao menos até conhecer C...