Nada mais que um empréstimo

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As visitas de Sr. Hunter até Woodrest Park se tornaram mais e mais frequentes, até que estranho era o dia que ninguém o via chegar montado em seu garanhão negro ao menos para uma visita curta.

Elena se sentiu envergonhada em contrapartida da diversão que provocou em Sr. Hunter quando perceberam que Louise não estava deixando de lado a sua ideia de cortejo sem sentido. O que ela pensava que aconteceria? Que ele a levaria para Northwind Hall e a manteria como uma segunda esposa? Quase todos os dias Elena se via obrigada a pedir-lhe que desculpasse a irmã e quase todos os dias ele ria disso.

Eles se tornaram próximos, em partes graças àquilo. Casper não poderia ter impedido a si mesmo de se afeiçoar àquela Desmond, não quando aquelas conversas amenas eram um alívio bem-vindo depois de cada dia estressante na própria cara.

Em um raro dia em que o bom tempo de Lakeshire os traiu e uma tempestade caiu sobre o condado, Sr. Hunter já no final do caminho para Woodrest Park, viu a porta da casa aberta à sua espera com a baixa silhueta de Elena no meio da porta segurando a toalha que previu que ele precisaria.

Foi quando pela primeira vez o que sentiria por muito tempo. Aquela sensação de inveja, inveja de quem quer que fosse que um dia teria uma casa tranquila como aquela, uma família unida, e uma pessoa querida o esperando na porta à cada tempestade. O restante do caminho, apenas um minuto ou dois, se permitiu fingir que não teria que voltar mais tarde para a própria vida. Que aquela recepção calorosa não era apenas uma gentileza emprestada.

Não era ignorante o bastante para acreditar que o céu que viu ao decidir sair de casa não prometia chuva, mas o ignorou. Pediu que selassem sua montaria e deixou para trás sua mãe gritando seu nome como se ainda fosse uma criança pequena. A senhora sua mãe jurava que Angelina havia lhe ameaçado com uma faca, justo Angelina que fora criada por pais quakers e nem conseguia estar presente para assistir uma galinha ser morta.

Sempre odiou os homens que abandonavam suas responsabilidades, esperava nunca ser um deles. Mas naquele momento poderia ao menos os compreender.

‡‡

Ainda era de tarde quando Elena, pela janela de seu quarto viu o céu escurecer, e se preocupou. Sr. Hunter ainda não tinha vindo à Woodrest naquele dia, o que significava que era mais provável que ainda viesse ao invés de simplesmente não aparecer naquele dia. E, não muito tempo depois, a chuva caiu forte e cinzenta sobre a terra enquanto ela assistia.

Então quando viu o ponto negro ainda longe na estrada, mas se aproximando com rapidez, não se surpreendeu nem um pouco. Talvez não fosse Sr. Hunter, é claro, mas mesmo assim se viu na obrigação de pegar uma toalha limpa e descer. Na janela do Hall viu um criado correr pela chuva em direção ao cavaleiro, e teve a confirmação. Seu pai estava em casa, e não esperavam visita dos Doyle naquele dia, então só restava Sr. Hunter para merecer aquela atitude gentil de um dos rapazes do estábulo.

Ela abriu a porta e esperou.

O cavaleiro desceu e o criado pegou as rédeas do animal, o puxando consigo para a direção do estábulo. Era Sr. Hunter, com certeza, os cabelos pretos molhados não a deixavam se enganar.

Ele veio correndo em sua direção, completamente encharcado. E, quando lhe deu passagem para entrar, teve como agradecimento pela gentileza um punhado de água sendo respingada nela ao fim da corrida dele.

— Ei! — Reclamou. — Te deixo com frio da próxima vez, parece um regador...

Ele riu, e apenas sendo um pirralho apesar da barba, chacoalhou os cabelos em sua direção.

Woodrest: Tempestades no paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora