O coelho nunca existiu

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— Eu sei. — Elena concordou. Mas antes olhou ao redor com cuidado, se certificando de que não houvesse testemunhas. Ela sentia vergonha como se ela mesma fosse quem tivesse cometido aquele equívoco. — Louise estava aqui sozinha aos risos e gracejos com Sr. Hunter. — Foi direto ao ponto.

Os grandes olhos azuis de Cecília se arregalaram.

— Como ele pôde? — Cecília exclamou. — Casado! E a esposa está bem alí do outro lado da casa. Ele não parecia esse tipo.

— Ele não pôde e nem é. — Elena balançou a cabeça. — Se fosse acha mesmo que eu estaria aqui aos tapas com Louise ao invés de pedindo para papai o expulsar daqui?

— Então? — Cecília inquiriu.

— Foi Louise que o chamou até aqui para procurar pelo coelho dela e aí se distraíram com a agradável conversa. — Respondeu, não podendo segurar o sarcasmo antes que esse deslizasse por sua língua.

— Coelho? Louise não tem nenhum coelho, ela... — Cecília parou abruptamente, o entendimento chegando para a terceira Desmond, como um tapa. — Meu deus.

— Exatamente. — Elena concordou.

— Como ela pôde? — Cecília apenas modificou o pronome na sua frase escandalizada. — Casado! E a esposa está bem alí do outro lado da casa. — Repetiu. — O que ela pretendia com tudo isso?

— Eu não tenho certeza. — Elena admitiu.

Sendo justa, Elena admitia para si mesma não ver como Louise poderia estar planejando algo friamente. Ela não poderia ter sido ardilosa dessa maneira, pretendendo algo vil. Louise poderia ser mimada, um tanto arrogante e ambiciosa, mas da maneira mais infantil e impetuosa possível, nunca como um gênio do mal.

— O que faremos sobre isso, então? — Cecília perguntou, absolutamente perdida, sem saber direito como pôr seus pensamentos em ordem.

— O que poderíamos fazer? — Elena perguntou retoricamente. — Nada. De nada adiantaria, apenas iria causar vergonha à toda a família, e desgosto para nosso pai, se contarmos. E a Delphine, que a criou melhor que isso.

— Tem razão. — Cecília anuiu. — E quem dera fosse adiantar insistir em mais broncas. Eu tenho fé que no futuro, quando Louise for mais madura, o próprio senso de honra que ela virá a adquirir a castigará o suficiente a cada vez que se lembrar disso. Mas por agora ela tem a cabeça dura como pedra.

— Talvez. — Elena não tinha assim tanta fé. — E mais que pela hipotética honra de Louise, temos a nossa própria para proteger. Um boato desses se fugir daqui pode respingar até nas menores que nem ainda largaram as bonecas. Não quero que no futuro recebam olhares maldosos porque uma irmã tomou uma decisão errada. Ou você, que nunca fez absolutamente nada reprovável.

— Ou você. — Cecília apontou, não deixando que a irmã pensasse em todos menos nela própria. — Você nunca fez nada que pensasse ser errado, sempre pesou suas ações pensando em nós. E tem razão, devemos manter esse segredo entre nós.

— E crer que Louise terá a sensatez de fazer o mesmo.

Quando Elena e Cecília retornaram para os convidados, Louise as evitou como se tivessem uma doença contagiosa pelo resto do dia. Felícia não falou sobre o assunto com ninguém, nem mesmo com Sr. Hays, seu marido. Ela confiava no julgamento da irmã de que fosse o que fosse o motivo da briga, ela não ficaria satisfeita em saber, e desde o parto da terceira criança Hays estava se poupando de estresse desnecessário, não queria que lhe secasse o leite.

Woodrest: Tempestades no paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora