A Primeira Proposta

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As semanas que sucederam o baile de Louise foram marcadas pela abrupta mudança de humor nas três Desmond mais velhas da casa, e pela súbita ausência de Sr. Hunter em Woodrest Park.

Louise estava extasiada, não parou de falar sobre seu baile durante as seguintes duas semanas e mesmo depois ainda garimpava alguma oportunidade para falar um pouco mais. Cecília também parecia mais feliz com a vida, sempre sorridente e com um bom humor brilhante, tinha agora diariamente o hábito que parecia muito lhe agradar de se sentar em frente à mesa do quarto que dividia com Elena ou em qualquer outra superfície plana, munida de um papel de carta de boa qualidade, pena e tinta para escrever e responder cartas. A maioria, alguns residentes de Woodrest perceberam, eram destinadas à Sr. Weston.

Em contrapartida à elevação do estado de humor das irmãs, a mudança em Elena foi um declínio. Ninguém mais via os sorrisos de Elena, ou se ouvia sua risada espirituosa, e nem sequer uma carregada de sarcasmo. Ninguém saberia dizer o que causara aquilo. Não havia mais animações repentinas ou comentários astutos da parte dela.

Até o bom humor de Cecília se quebrava durante a noite quando era retirada de seu sono, ou nem sequer conseguia chegar à ele,  pelo choro abafado na cama ao lado.

E Cecília deixou estar por quase um mês, não querendo se intrometer em assuntos particulares de sua irmã. Mas à cada dia, seu coração se quebrava um pouquinho mais a cada soluço que ouvia, até certa noite não poder mais fingir não ouvir.

Cecília saiu de seus cobertores e se intrometeu na cama de sua irmã mais nova a puxando para si e abraçando, como sempre fora sua tarefa. Cecília afastava os pesadelos de Elena quando eram crianças, mas temia não ser capaz de afastar o que quer que então a atormentava. O sofrimento de sua irmã lhe doía como se fosse dela própria, e nem suas cartas e suas felicidades poderiam ofuscar aquela aflição.

— Diga-me o que houve. — Ordenou. Mas nada teve como uma resposta exceto o choro incessante. — Elena! — Sem mais poder esperar que a irmã livremente lhe pedisse consolo, forçou-a a virar-se na cama e olhar para ela. Não achava mais sequer as marcas das covinha de seu sorriso, só via à pouca luz o brilho de lágrimas e a vermelhidão do choro. — Não sabe o quanto me dói te ver assim, Lena... Me diz o que fazer, como eu posso te ajudar?

— Não pode. — Elena soluçou, era visível seu empenho em tentar vencer as lagrimas. — Isso vai passar.

— Me conte o que aconteceu, por favor. — Pediu, tentando soar firme.

— Não posso. — Era muito vergonhoso, é claro. O silêncio era a mais sábia escolha estando naquela situação. — Nunca me olharia novamente nos olhos se soubesse, teria vergonha de me ter como irmã.

— O que poderia ter feito de tão ruim? jogou órfãos de um penhasco? — Tentou uma piada, mas o humor não chegou à sua irmã. — Jamais a rejeitaria, — A assegurou — a ter como irmã é um orgulho, nada me faria a renegar, você nunca faria algo ruim sem haver uma razão que justificasse.

— Eu fiz, Ceci, eu... — Elena se impediu de prosseguir.

— Pode me contar qualquer coisa, é uma tola se pensa que não.

— Eu me apaixonei por um homem casado.

O silêncio de Cecília que sucedeu a revelação nada teve a ver com desgosto, estava longe da natureza da terceira Desmond abominar a irmã  cujo caráter mais lhe inspirava confiança dentre todas apenas por uma frase que não levou mais de dez segundos para ser dita. Elena sempre teria o direito de se explicar para ela, era um princípio inabalável que tinha. Cecília apenas se surpreendeu.

— Como?

— E ele me beijou no baile de Louise. — Elena completou, dando mais munição à repulsa que achava que a irmã teria.

Woodrest: Tempestades no paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora