A Tradição Da Biblioteca

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Tendo agora em mente a confissão de que sentia por Sr. Hunter muito mais do que a amizade que pensava ter, Elena sentiu sobre si o peso da consequência que o conhecimento daquilo trazia. Não podia mais ser a boa amiga dele, não podia mais ir às compras de materiais de pintura para Elizabeth ou de presentes para a mãe dele ou para a esposa dele.

Angelina Hunter não merecia que ela o ocupasse tanto quando ela tinha aquela espécie de sentimento por ele. Elena sentiu medo do que aquele sentimento poderia fazer com ela, sentia medo de virar Louise, sentia medo de que na próxima vez que visse Elizabeth odiaria seus cabelos loiros desejando fervorosamente que eles fossem castanhos como os dela.

Sra. Hunter que nunca lhe fizera mal algum, que nunca a tratara com menos que gentileza e educação não merecia que no fundo do coração dela, ela desejasse que nunca tivesse existido, que Sr. Hunter nunca tivesse se casado. Era um sentimento que ela mantinha com vergonha dentro de si, rastejando e destilando seu veneno bem escondido em seu peito e ela sabia bem que ela era a vilã da história sem direito algum de rezar por um final feliz.

O que era certo a se fazer estava bem à sua frente, e Elena se conformou a engolir o seco e cumprir sua sina. Iria se afastar de Sr. Hunter, iria recusar qualquer convite que viesse a ser lhe feito da parte dele e em troca não faria nenhum. O trataria com a delicadeza distante com a qual devia ter feito desde o principio.

Não era culpa dele, mas ela também não se culpava completamente. Ela culpava sua falta de cautela. Desde o inicio tinha visto o perigo naqueles olhos bonitos, mas como poderia imaginar que era aquele o risco? Pensou que talvez ele tivesse algo a esconder, que tivesse algo obscuro sobre si ou talvez um defeito imperdoável. Mas na verdade todo o perigo sobre Casper Hunter era sua sutileza e quase perfeição. Elena nunca viu o perigo chegando antes de ser tarde demais. Antes de sua voz e suas palavras tomarem sua mente, de seu riso fascinar sua audição, de seus olhos que a advertiram do perigo desde o primeiro momento, e que ela não levou a sério, serem tudo o que ela podia ver ao fechar seus olhos.
Agora tudo o que tirava seu foco, e ocupava sua mente e memoria era Casper Hunter. Era seu olhar azul confiante apenas por ser quem era, era seu cheiro de lavanda e seu riso irreverente. Cada conversa, cada provocação e demonstração do que era a personalidade de Casper Hunter tinham a levado até ali. E ela não imaginava poder mais ouvir seu riso sem sentir que ele fosse de zombaria à ela, que no fundo ele soubesse de tudo e pensasse nela da mesma forma que pensava em Louise. Mais uma jovem Desmond deslumbrada e imatura caída de amores por ele, e ela imaginava que ele tinha tudo para usar aquilo para afagar sua vaidade secretamente.

Por isso, quando se aproximou a hora dos convidados de Louise chegarem ela foi se arrumar, e fez aquilo tomando o cuidado de não pensar se Sr. Hunter a acharia mais bonita em azul claro ou cinza, vestindo verde escuro por fim. Manteve-se na linha tênue entre apresentável o suficiente e insignificante o bastante. Não fez mais que um penteado simples e não se enfeitou com mais que um enfeite de cabelo de pérolas que Cecília faria perguntas se ela não usasse.

E quando entrou no salão de baile de Woodrest Park, se sentindo tão insípida quanto pretendia, viu que estava adiantada como devia. Ainda não estavam presentes nem um terço dos convidados, e os adiantados ainda eram em sua maioria os Desmond e vizinhos próximos.

Apesar dos inconvenientes que trazia, os bailes de Louise ao menos sempre a traziam uma boa dose de distração, e poderia ser considerado um bem vindo entretenimento quando já estava tudo pronto. Mas naquele ano, com a mente em frangalhos, Elena olhou para o salão sem sentir mais que a frustração que a obrigação de ficar ali por algumas horas lhe causava. Não foi cumprimentar ninguém, apenas se esgueirou pelos cantos até a primeira cadeira vazia em seu caminho e lá se sentou. Se alguém a visse, pensaria que ela já estava lá há muito tempo, apenas sem ser notada antes, o que era exatamente sua intenção.

Woodrest: Tempestades no paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora