Na Terceira Proposta, Doyle Recebe Um Sim

39 7 59
                                    

O que Elena mais tinha àquela altura da vida eram: meias, livros e arrependimentos. E dessas três coleções, só uma aumentava durante sua estadia em Blackhawk.

Estava contando nos dedos os dias — Até mesmo as horas — para retornar à Woodrest. E se por ventura a causa disso  precisasse ser apontada, n teria de ir longe, Tim estava em toda parte. Sempre.

Não havia palavras para descrever o inferno que era viver todos os dias com ele. Nem seus palpites mais pessimistas chegariam perto.

Então, como em vários outros dias, acabou escondida no quarto das crianças jogando xadrez com Jesse.

— Nunca mais, eu juro. — Afirmou. — Se quiser me ver de novo é melhor ir me visitar em Woodrest, porque meu pé não tocará qualquer lugar fora de casa antes que me recupere desse trauma.

Ele moveu novamente sua peça. Elena fingia não perceber sua intenção de promover aquele peão, era melhor ocupá-lo mais um pouco com planos moribundos.

— E o que eu digo ao seu pai?

Ela moveu o bispo para uma posição que não levantasse desconfianças.

— Se entrar pela janela não vai ter que dizer nada.

Ele riu e voltou a fingir examinar as peças, como se o pobre peão já não estivesse quase desbotando sob seus dedos. Antes que pudesse, Dean entrou no quarto às pressas.

— Ele está vindo, — Avisou. — Se esconde!

Fora um investimento bem gasto dar algumas moedas leves ao garoto em troca de paz. Não fez perguntas, apenas correu para o armário maior e se fechou dentro dele.

Não muito depois ouviu a porta ser novamente aberta e a voz que a perseguia em pesadelos perguntar:

— Viram a Srta. Desmond?

— Não. — Dean respondeu. Estava sentado em seu lugar, examinando o jogo com a distinção de um membro da corte.

— Acho que a ouvi falar que ia aos estábulos. — Jesse mentiu. Elena desconfiava de que fosse um de seus hobbies fazer o primo de bobo, caso contrário só repetiria o discurso de Dean.

— Por que ela iria lá?

— Pelo mesmo motivo que todas as pessoas vão.

— Sentir cheiro de estrume? — Tim resmungou.

O mau humor em sua voz a divertia quase tanto quanto a risadinha de Jesse, o aviso habitual de piadas como:

— Para que ela iria então? Seu quarto já é perto o bastante do dela, não seria necessário tanto esforço.

Elena abafou a risada em uma peça de veludo, agradecendo pela risada exagerada de Dean a encobrir.

Jesse era a única coisa boa naquela viagem. E talvez as crianças e o bolo de nozes da mãe deles.

°°°

E passar aquelas semanas contando dias para voltar para casa apenas foi suportável se tornando o carrapato do Doyle mais velho.

Onde estivesse o herdeiro da propriedade lá estava a Srta. Desmond atrás. Nos passeios no campo, nas partidas de xadrez, nas cavalgadas pelas estradas ermas e quase sempre enlameadas. Quase sempre acompanhados de Adela ou algumas das crianças.

Até que o dia que nunca chegaria chegou.

— Você não pode ficar mais tempo? — Adela perguntou, observando quase melancólica a amiga preparar as malas para a manhã seguinte, quando partiria.

Woodrest: Tempestades no paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora