Azul Como O Mar, Verde Como Um Lago, Vermelho Como Sangue

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Acordar de um desmaio é geralmente confuso. Não se lembrar do que aconteceu, de onde está, com quem está.

Mas ao abrir os olhos e ter um rápido vislumbre da vegetação voltou a fechar os olhos. Não havia com ficar confusa quando a dor era tudo que ocupava sua mente.

Instintivamente levou o braço livre à cabeça, sentindo os dedos se molharem do morno que descia por seus cabelos.

Sangue.

O balançar a enjoava, mas os braços quentes ao seu redor faziam valer a pena. Seu sangue era morno, mas a água em suas roupas era como neve de janeiro. Estava grata pelo resquício de calor, pela única coisa agradável.

- Casper... - Murmurou, torcendo para que ele pudesse a ouvir sem ter que falar mais alto.

- Você acordou? - Ele perguntou. - Tenta ficar acordada, logo chegaremos lá. Mandei Adela na frente para pedir que buscassem um médico, ela é rápida.

A dor começava a ser sua companheira, mesmo terrivel, estava se acostumando. Mas irritava o zumbir leve em seus ouvidos que não a deixavam ouvir bem a voz dele.

- Eu não quero sentir mais dor. - Sussurrou. - Me leva pra casa...

- Srta. Desmond? - Ele chamou. - Não durma, o sangue ainda está escorrendo! Desmond!

- Shhh...- O repreendeu, e abrindo os olhos ligeiramente, como apenas uma fresta, tentou olhar para ele. Mas teve que piscar e abrir realmente os olhos quando o viu. Não podia ser... - Casper?

- Jesse, meu nome é Jesse.

E parecia realmente ele. O cabelo loiro, o rosto suave e juvenil demais, tão diferente de Hunter.

As lágrimas que o ferimento não conseguiu trazer à tona vieram para aquilo, para mais um dia se vendo sozinha, sem Casper. E assim permaneceria.

°°°

- Ela não para de chorar desde que acordou. - Ouviu Jesse dizer à alguém na porta. - Espero que Tim esteja satisfeito.

Enquanto um curativo improvisado era feito em sua cabeça até o médico chegar, se aproveitava de que todos pensavam que chorava pela dor para chorar o quanto pudesse.

Aquele travesseiro já estava arruinado, e não sentia vergonha nenhuma ao chorar alto, alto o bastante para a garganta doer, alto o bastante para abafar a dor, todas elas.

- Vai ficar tudo bem, querida, o médico vai chegar logo. - Lorna prometia.

Esperava que não, esperava ter mais tempo. Esperava ter uma eternidade em seu próprio sofrimento sem ter de secar as lágrimas e fingir que parte de si morria todos os dias.

- Não vai ficar tudo bem! - Mais berrou que falou. - Não vai!

°°°

Conseguiram com alguma dificuldade convencê-la, pelo cansaço, à cooperar na troca das roupas encharcadas por roupas de dormir secas.

E um médico enfim veio no fim do crepúsculo. Ou algo próximo. Olhar para a janela era apenas o que fazia para não ter que olhar para ninguém, e a luz moribunda que via no momento da visita era a mãe de sua conjectura.

O senhor idoso a examinou. Parecia muito preocupado e cuspia palavras que pareciam rudes repreensões. Mas não se deu ao trabalho de ouvir. Lorna ouvia, e por si mesma pouco importava qualquer coisa.

Um curativo decente foi feito, e, assim que ficaram à sós, sua acompanhante lhe enfiou algo para dormir garganta abaixo, sem nem se preocupar em dizer o que era.

Woodrest: Tempestades no paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora