Poderia ser apenas mais uma cidade qualquer claro se ignorarmos o valor histórico. Enquanto a deusa caminhava pelas ruas quadricentenárias uma coisa chamou sua atenção: era que em meio a prédios, casas, as lojas lotadas de pessoas havia a existência de ruínas. Por algum motivo São Vicente convivia com cicatrizes de um grande desastre ocorrido há relativamente pouco tempo.
Dando um basta para o assédio, mudara seu semblante para parecer uma turista qualquer.
Estava tão curiosa e intrigada que sabe-se lá porque, (será por causa de suas habilidades?) uma voz visitou sua mente lhe dizendo:
-Estranho não é? Uma cidade alegre com pessoas indo de um lado para outro cuidando tranquilamente de suas vidas preocupadas com suas rotinas e entre suas casas, lojas, escritórios e uma pilha ali e aqui de escombros, vou por isso lhe contar o motivo disto tudo existir, o que aconteceu e porque estas feridas continuam e como as pessoas conseguem seguir suas vidas mesmo com estas dolorosas lembranças.
Eu achava que neste mundo só havia um Deus e vejo que sou visitado por outro, um deus tão desconhecido que não vi ninguém o adorar (ignorando o fato que estou há muito pouco tempo por aquelas bandas).
-Não sou um deus sou uma criação de todo e tudo, sou a soma das energias das consciências, dos espíritos, dos corpos destas pessoas, pela energia e alma destes objetos que por sua vez foram formados graças ao esforço e tempo gasto para construí-los. Cada ação feita com sacrifício, com suor imprime uma marca, em cada rua, em cada arvore ou pedra, em cada poste, até as correntes elétricas em tudo estou presente. A história os sentimentos comuns se misturam a todo o esforço realizado e disso sai o que sou que não tenho forma apenas consciência, mas não sou livre, pois sou o que cada um que aqui vive. Eu sou o espírito desta cidade e por você ser capaz de se conectar a mim eu lhe contarei tudo.
Kuria estava concentrada no que ouvia e de forma inconsciente caminhou até uma praça no bairro chamado Biquinha. Esse bairro um dos mais antigos e tradicionais da cidade recebeu este nome devido a uma bica de água, cuja água vinha do Morro dos Barbosas que junto com o Morro do Japuí protegem a entrada de um dos braços do estuário chamado Mar Pequeno, ali perto os jesuítas construíram um colégio e há relatos de ali terem ocorrido milagres atribuídos a intercessão de São José de Anchieta.
Continuava Kuria absorta sentada na praça, a sua frente um monumento a glória da cidade que quis Deus fosse poupado da guerra, atrás do monumento as praias e o mar com seu ar carregado de sal que muitos acreditam ter valor terapêutico, a sua direita uma estatua de um monstro marinho representando a antiga lenda da Ipupiara que parecia fazer cara feia para um monte de metal retorcido que um dia foi um blindado e tamanho foi o estrago sofrido que ninguém conseguia saber por quem havia lutado, apenas deixaram como um dos inúmeros monumentos ao passado recente que Kuria por acaso mesmo que mentalmente explorava, a sua esquerda e atrás uma coleção de mudas de várias plantas nativas simbolizavam a renovação e a tradição ao mesmo tempo.
Enquanto contemplava a paisagem urbana o espírito, ou seja, lá o que era, começou a contar a sua história. Kuria recebeu repentinamente em sua mente uma seqüência de imagens e sons que se sucediam de forma absurda, cada imagem, era um cenário, um frame em que parecia que ela estava presente permitindo olhar em todas as direções ver, ouvir e sentir tudo o que acontecia.
O que eram estas imagens? Seria impossível para um mortal compreender, mas se por algum milagre, alguma intercessão, se o que Kuria tivesse vendo fosse apresentado de forma extremamente lenta, o agraciado verias cenas que contaria a historia de como um dia a população sendo enganada e um governante popular antes amado sendo traído por aqueles em que mais confiava e enfim derrubado; elementos obscuros que não deveriam ser chamados de humanos fazendo promessas vagas e falsas e assim acendendo ao poder; tirania; a mesma população desesperada pegando em armas mesmo as armas não sendo suficientes; mercenários vindos de muito longe a serviços desses mesmos tiranos; combates rua a rua e corpo a corpo; caos; prédios desabando; os governantes que tomaram o poder caem; a verdadeira ordem sendo restaurada; reconstrução.
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Estas São as Crônicas Brazilianas
FantasyEm 2041 após uma deusa entediada abrir vórtices entre seu mundo e o nosso os brasileiros olham uma oportunidade de colonizar um novo mundo e se depararem com as diferenças culturais e tecnológicas da "Mesogeia". No centro disso tudo Gilmar um tipico...