Tomoyo Miyazaki

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N/A ALERTA DE POSSÍVEL GATILHO!!!

Sexta-feira

Ponto de vista de Tomoyo

Eu sou secretária e trabalho com o diretor executivo de uma empresa de exportação. Falar vários idiomas facilita muito. Estou na empresa há quatro anos e gosto muito do trabalho em si e do ambiente. Os colegas são competentes e educados. Claro que alguns não são tão simpáticos e pode existir alguma tensão mas, no geral, é muito bom trabalhar ali. Meu chefe, sr. Kurosawa, sempre me tratou com respeito e consideração. No trabalho encontrei também uma amiga, a Adriana. Com ela posso conversar sobre tudo.

Mas hoje eu não fui para a empresa. Não. Hoje eu passei o dia no hospital.

Desde antes de Saori morrer, eu sabia que estava doente. Eu tenho apenas 28 anos, mas já vi e vivi bastantes tristezas, então, já deveria estar acostumada. Minha mãe faleceu quando eu tinha apenas quatro anos. Meu pai se foi quando eu tinha vinte e um. Há quatro anos atrás se foram meus tios, em questão de meses. E há pouco mais de um mês, se foi minha melhor amiga, prima e irmã, Saori, em um acidente de carro que também levou a vida de seu marido. Ficaram apenas Ayumi, minha linda menina, e Tatsuo, que sempre foi como um irmão mais novo para mim.

A relação de Tatsuo e Saori sempre foi das melhores. Ele contava a ela sobre tudo. E Saori contava para mim. Não, ela não o fazia para prejudicar ninguém. Mas ela sempre me disse que, um dia, seria eu a proteger Tatsuo. Não sei se ela ela sabia que não estaria aqui conosco por muito tempo. Saori era a luz que envolvia e aquecia todos a seu redor. E aquela luz maravilhosa se apagou para sempre.

Tatsuo tem sido um excelente pai para Ayumi. Aos domingos eu vou até a casa deles para almoçar. Na verdade, os motivos de minhas visitas não são nem a comida porque há muito tempo perdi meu apetite. Eu vou por causa deles. Para estar com eles. Para me sentar com Ayumi e brincar com ela. Para ver Tatsuo se tornando o homem maravilhoso que é.

Claro que eu sei que ele é gay. Para mim, isso nunca fez diferença. Ele acha que eu não faço idéia, mas isso tampouco é importante. O importante é que ele esteja feliz. Quando Ayumi começou a falar no tio SuYi, eu imediatamente fiquei desconfiada. Era o mesmo cara do bar? Pois é, Saori também me contou sobre isso. Mas ver Ayumi tão animada a respeito dele me deu conforto. E eu consegui acalmar meu coração.

Eu estou cada vez mais cansada. Meu tratamento requer uma terapia agressiva e invasiva e meu corpo já dá sinais de não estar aguentando. Estou com câncer no seio. Foi detectado bem no início e eu fiz uma pequena cirurgia para retirar os três nódulos encontrados. Chamaram um especialista da capital, LinCheng Wang. Ele e dois outros médicos, Meilin Zhao e Yu Wu planejaram o tratamento e me informaram passo a passo como seria. Cirurgia, quimioterapia e talvez radioterapia. Eu ainda estou fazendo a quimioterapia, mas novos exames mostraram outros nódulos, o que significa apenas uma coisa: mastectomia radical. Ou seja, terei que retirar todo o seio. Ficar mutilada aos 28 anos. Como eu disse antes, tenho minha cota de sofrimento.

A quimioterapia melhorou muito ao longo do tempo, mas ainda assim, após as sessões eu passo muito mal. Eu sou magra naturalmente. Nas últimas semanas pareço mais um cadáver. Por sorte, ou azar, Tatsuo precisou cancelar o almoço no domingo e eu confesso que respirei aliviada. Comecei a perder o cabelo também. A dra. Zhao me deu licença médica e me aconselhou a procurar ajuda psicológica. Ela me aconselhou a ligar para uma psicóloga amiga dela, de nome Carolina Kaufmann e me deu um número de telefone. Ela também me perguntou sobre minha família e que tipo de apoio eu poderia ter dela. Quando disse que tinha apenas um primo que estava lutando sozinho para criar sua pequena sobrinha, percebi que ela ficou preocupada.

Saindo do consultório, liguei para o sr. Kurosawa e ele me tranquilizou quanto ao trabalho, me pedindo para ligar se eu precisasse de qualquer coisa. Adriana me liga todos os dias preocupada.  Ela queria que eu me mudasse para a casa dela, queria cuidar de mim, mas eu recusei. Como posso impor minha presença a outras pessoas?

Eu sempre fui muito racional e não tenho medo da morte. De forma alguma. Tenho muito pouco a perder, na verdade. Não tenho namorado, nunca tive. Sempre fui muito tímida e, com minha família sendo tradicional, eu jamais poderia olhar para alguém que não fosse de ascendência japonesa, como eu. Passei pela vida sem ter vivido de verdade. Nunca me apaixonei. Mentira. Me apaixonei, no pior timing da minha vida. Mas vou levar isso para o túmulo comigo, ao que parece.

Por sorte, para Tatsuo, todos aqueles que se oporiam ao seu relacionamento com SuYi já não estavam mais entre nós. Ele, pelo menos, podia ser feliz agora. E teria uma família só dele. Quanto a mim, só o tempo dirá. Mas estou cansada demais para lutar. Vou assistir minha vida se apagar, sem nunca ter realmente brilhado. Mas eu ainda preciso contar para Tatsuo. Só espero que ele não fique triste demais. Meu consolo é que, agora, ele não está sozinho. Ele e Ayumi têm um lar.

Deixo meus pensamentos correrem livres, junto com minhas lágrimas, enquanto volto para minha casa vazia.

Ponto de vista de Meilin

Ela acabou de sair do hospital e eu estou preocupada. Ainda acho que o prognóstico dela é bom, apesar de ser um tipo de câncer bem agressivo. Mas ela parece muito cansada e, pior, desistindo de lutar. Eu não entendi porque Lincheng ficou tão interessado no caso dela e insistiu para que eu ligasse imediatamente se houvesse qualquer mudança. Afinal de contas, não há nada tão extraordinário nesse tipo de câncer, quando descoberto cedo, e nem na evolução de seu quadro. Depois de falar com o Yu e consultar sobre a melhor opção para continuar o tratamento, decidi telefonar para Lincheng, na capital.

- Alô?

- Lincheng, aqui é Meilin.

- Olá Meilin, em que posso ajudar?

- Você me pediu que ligasse no caso de mudança no quadro clínico de uma das pacientes, lembra?

- O que aconteceu com Tomoyo?

Céus! Ele se lembrava do nome dela!!!!

- Novos nódulos apareceram e teremos que fazer uma mastectomia radical. Ela está na lista de espera e vai continuar o tratamento de quimioterapia. Mas ela me parece muito desanimada e deprimida, além de não ter quem a ajude em casa. Eu sugeri uma ajuda psicológica no momento...

- Meilin, vamos tranferi-la para o hospital aqui. Eu vou falar com o Dr. Yasuda, chefe do hospital Geral e vamos operar aqui mesmo na capital. Eu vou operá-la.

- Lincheng, me desculpa, mas você não está indo longe demais? Nosso hospital é excelente, inclusive referência no tratamento de câncer. Por que você quer levá-la para a capital?

- Desculpe, Meilin, você tem razão. Mas se você puder me dizer quando vão operá-la para que eu possa estar aí?

O que é que está passando na cabeça desse homem???!!!!


N/A

Desculpa gente. Eu devia ter colocado um alerta de gatilho aqui, antes do capítulo. Acabei de escrever. E quero a opinião de vocês. Tomoyo foi pensada como uma ajuda e companhia para Tatsuo, mas no correr da novel ela acabou ficando para escanteio. Tomyo é dessas almas que passam despercebidas pela terra, mas que tem um amor incondicional pelos outros e que tem seu prórpio brilho, embora ela mesma não o possa ver. O que vocês querem que aconteça com ela? Está aberta a votação.

AH! E para quem estranhou, ou não estranhou o nome do médico da capital, aconselho a ir procurar no último capítulo bônus postado em Envolvente.

Persuasão (Livro 2 da Série Akai ito)Onde histórias criam vida. Descubra agora